quinta-feira, junho 24, 2004

PORQUE FUI VOTAR

Por Teresa Maria Martins de Carvalho

Não gosto muito de partidos políticos. Em vez de serem, como deviam ser, organizações que proporcionam aos cidadãos vulgares voz e opinião, alguma cultura política. Pelo contrário, pouco servem ou formam os cidadãos para a participação pública.

Não são porta-vozes de ninguém, a não ser deles próprios. São colégios de políticos de profissão, os «boys».

Não é só de hoje o complicado problema da representação política. Mas é assim... Tenho de ter as cores desta direita, deste socialismo, deste comunismo, para que dê certo o que penso com que pensa o político e o que vai fazer com o poder que lhe pus nas mãos. A ideologia representativa tende a “formatar” os seus eleitores. No entanto, na situação actual, muitos deles desinteressam-se, sentem-se defraudados, mal representados. É por isso que a abstenção é tão grande...

O triste espectáculo na Lota de Matosinhos deu-nos a noção de que, quando se trata de votar, mesmo que a campanha fosse para as eleições europeias, as lutas do poder local sobrepõe-se à Europa. É natural, aparte a má educação. Conheço o presidente da Câmara. Não conheço a Constituição Europeia que afinal é um Tratado.

É verdade que estando os partidos políticos tão dentro de si próprios, mesmo que seja para a eleição de deputados europeus, ela decorre nos mesmos infelizes moldes de todas as outras eleições.

Assuntos europeus? Que é isso? As campanhas eleitorais, que deviam ser cordatas e dar bons exemplos, não explicaram nada e deram maus exemplos.

Mas eu fui votar. É verdade. Apesar de tudo. Ao contrário disto, sempre achei que o futuro de Portugal se afirmaria, muito mais logicamente – para não dizer sentimentalmente – ao lado do futuro do Brasil, de Angola, de Moçambique, de Timor, de Cabo Verde. Mas esse sonho não se proporciona e a comunidade lusófona marca passo... Neste contexto globalizado e globalizador, em que os formidáveis meios de comunicação, a fácil mobilidade e deslocação das empresas e dos seus agentes, meteram as economias e a sobrevivência dos países limítrofes num jogo tal de forças e influências que quase automaticamente os gruda uns aos outros.

Estamos na Europa como ela se vem definindo, alargando-se, tentando sobreviver às investidas comerciais da Ásia, para se impor como unidade cultural, como criatividade própria em todos os domínios.

Não é muito promissor o futuro identitário dos países pequenos, entre os quais nos encontramos mas a Europa é só realmente Europa, trazendo às costas as 25 identidades, respeitando-as e considerando-as como a sua maior riqueza.

Aparecerão, como têm aparecido, muitos problemas de ordem política e económica. É difícil a elaboração de um tratado geral. Que representação para o Parlamento europeu? É óbvio que o projecto europeu terá imensos percalços e alçapões mas não posso admitir que, estando lá Portugal, não esteja minimamente representado, não dificulte, não fale, não apareça... Tem de estar presente.

Neste caso, sendo as coisas como são, eu fui votar.

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