sexta-feira, junho 25, 2004

PLÍNIO SALGADO - UM PENSADOR CRISTÃO

Por Fernando Rodrigues*

A tragédia de nossos dias é a mais angustiosa - afirmava o gênio elevado de
Leonel Franca -, porquanto, segundo o mesmo autor, as almas nobres e
reflexivas, mesmo as que, em momentos de exaltação entoam hinos de louvor à
vida, acabam imergindo nas sombras de um pessimismo sem esperanças.

Diante das angústias da hora presente, Schopenhauer talvez seja uma das
impressões mais lancinantes de uma alma que desconhece seu destino; ou mesmo
Nietzsche; ou Pirandello, quando é taxativo: "no ha la vita un fruto,
Inutile miseria"; ou até mesmo Gabriel D'annuzio, ao externar melancólico:
"diante de mim na sombra, está a morte sem flâmula. Eu morrerei em vão".

Que homem, digno deste nome, poderia se conformar com os fatos que marcam
nosso tempo? Leon Bloy, Baudelaire, Bernanos, Chesterton, Pio XII, Maurice
Blondel, Gustav Thibon, Plínio Salgado... Este último - cuja página
dedicamos -, fez de seu verbo inflamado a espada afiada contra as doutrinas
deletérias; e vendo a mocidade sofrer o influxo da degradação de tais
doutrinas, concitava-os ao que ele chamava de "Revolução Inteiror".

Depois do contato com as doutrinas materialistas e revolucionárias de Sorel,
Marx, Trotski, Feuerbach, Plínio vai encontrar o clarão da fé nas palavras
de fogo de Jackson de Figueiredo, e sobretudo na filosofia do cearense
Farias Brito, este mestre que concorreu com seu esforço para por á cobro a
faina demolidora do materialismo e iniciar a grande obra reconstrutiva.
Farias Brito inconcussamente o grande precursor da renovação do pensamento
que à época deste ilustre pensador predominava, vale dizer, o positivismo de
Augusto Comte e o pragmatismo de Stuart Mill, tendo como representantes em
nosso país [Brasil], figuras do mais alto valor intelectual, tais como, Benjamim
Constant; Teixeira Mendes; Miguel Couto; Tobias Barreto; Fausto Cardoso com
seu haeckelianismo sociológico, entre outros. Cabe ressaltar, que na França
e na Itália o papel de salvaguadar os valores espirítuais em contrapartida
ao dogmatismo materialista, era exercido por pensadores do estofo de um
Boutroux - chamado pelo próprio Fárias Brito de pensador valiosíssimo a
todos os títulos - e de um Bergson; de um Spaventa e de um Benetto Croce -
consoante ensinamento de Miguel Reale.

A síntese do pensamento de Plínio Salgado consiste no apelo do autor da
"Vida de Jesus", à Revolução Interior, como já citado. Á essa luz, de uma
feita, dizia Pèguy: "as verdadeiras revoluções consistem essencialmente em
mergulharmos nas inesgotáveis fontes da vida interior. Não são homens
superficiais que podem por em marcha tais revoluções - mas homens capazes de
ver e de falar em profundidade". E Plínio era um desses homens, pois, -
como afirma o historiador lusitano João Ameal - "no calor e no fervor de sua
evocação parecia um contemporâneo de Cristo".

Em Portugal, na data da comemoração do Condestável, Nun'Alvares, Plínio
proferiu linhas luminosas que expressam o que foi sua vida, de filósofo; de
sociólogo; de político; de apóstolo:

"Ensinou-nos Nun'Alvares que o supremo destino da criatura humana está em
Deus; que as riquezas mais ricas, e as glórias mais gloriosas, e o poder
mais poderoso que seja, não passam de bens passageiros, que terminam bem
depressa, cumprindo-nos, portanto, fazer deles instrumento de trabalho com
que servir Aquele que constitui o Bem que não acaba. Lutar pela Pátria,
lutar em prol da comunidade, infatigavelmente, é digno e belo; mas fazer
dessa mesma luta o cilício de nossa lama, o meio de santificação, é ainda
mais belo. Porque existe, além das muitas formas de santidade, uma que
poderemos chamar "santidade política", e essa conhecem os que sofreram, pela
felicidade publica, os agravos do tempo e as injúrias dos homens, que afinal
são também, uns e outros, passageiros como os bens, já que tudo passa na
terra e eterno no Céu".

Malgrado todos os sofismas que norteiam sua vida e sua obra, diante das
paisagens e escombros se levanta sua mensagem indelével como anunciação
promissora. Cheio de fé em nossa destinação histórica, Plínio, parafraseava
Camões: "Depois de procelosa tempestade, noturna treva e silibante vento,
traz a manhã serena, claridade, esperança de porto e salvamento".

Em uma das peças de Gil Vicente, surge um Cruzado e, então, é dito que o
Cruzado vai direto para o céu, porque se bateu por uma Boa Causa.

Plínio foi um dos grandes Cruzados, com que o Século XX nos galardoou,
pensador exímio, defendeu seu pensamento com intrepidez, não obstante
possuísse uma alma franciscana, porquanto, Plínio foi um desses homens, que
merecem a sentença de Dante Aliguieri - autor da Divina Comédia - para quem,
mais alto que o entendimento, o Amor se levanta, - o Amor que faz mover "il
sole e I'altre stelle" e pelo qual o nosso destino terrestre consegue sair
triunfante dos combates terríveis da Alma e do Mundo.

*Acadêmico de Direito - Foz do Iguaçu-Pr
www.pliniosalgado.cjb.net




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