segunda-feira, março 31, 2008

O problema do Opus Dei

por João César das Neves

professor universitário
naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

OOpus Dei anda nas bocas do mundo. Não bastava a fama antiga de manipulação, agora perdeu um banco, que é negligência de monta. Qual será o problema do Opus Dei?

Como todos os mitos urbanos, a teoria da relação entre a Prelatura e o BCP levanta mais questões do que resolve. Como se pode deixar escapar um banco daquele tamanho assim tão facilmente? Quais eram afinal os poderes ocultos que, de forma tão dramática mas silenciosa, foram derrotados? Não devemos temer mais a Maçonaria, que alegadamente ganhou o negócio, que o Opus Dei, que nem sequer teve força para o conservar? Afinal, não será toda esta confusão de poderes escondidos um enorme disparate, tendo tido o BCP apenas uma zanga habitual entre administração e accionistas?

Mas o problema da Prelatura do Opus Dei vai mais fundo. Toma-se consciência disso ao vermos "acusados" de serem da Obra muitos leigos só por se afirmarem publicamente como cristãos, mesmo sem nada a ver com ela, como eu. Em particular, são-lhe atribuídos todos os católicos "conservadores", entendendo-se por esta palavras aqueles que querem seguir a doutrina cristã como ela é. Ser fiel ao Papa e à Cúria, acreditar nos Evangelhos, Credo e obras dos Padres, recusar as patranhas que os críticos do momento inventam, isso hoje é ser conservador e automaticamente do Opus Dei.

Um cristão é tolerado desde que não se note que o é.

No fundo, esse problema é o mesmo que vários outros grupos católicos foram tendo ao longo dos séculos. Em todas as épocas a Igreja sempre defrontou inimigos poderosos. Esses gostavam de isolar uma pequena secção de crentes para a mimosear com o pior das suas fúrias. Há cem anos eram os jesuítas; há 500 os dominicanos; hoje é o Opus Dei. Estes têm a honra da escolha do inimigo.

É muito curioso notar uma flutuação marcada nessa história da raiva anticristã. Conforme as épocas, no meio da enorme diversidade de carismas da Igreja, os movimentos escolhidos pelos críticos vêm alternadamente dos pobres e dos poderosos.

O Império Romano não ligou ao cristianismo enquanto foi uma religião de escravos. Mal começou a haver conversões na classe senatorial, iniciaram-se as perseguições a sério. Como a elite não era cristã, tinha medo do poder que os fiéis viessem a possuir.

Depois, a partir de Constantino, durante séculos as classes poderosas aderiram à fé. Por isso nesse período os movimentos atacados passaram a ser do povo. Primeiro os eremitas, depois os beneditinos, finalmente os franciscanos e dominicanos, todos tinham um aspecto subversivo que desagradava às instituições, crentes ou infiéis.

A partir da Idade Moderna, quando as elites voltaram a afastar-se da Igreja, regressaram os medos romanos.

Os ateus aceitam os cristãos pobres, como a madre Teresa. O que os enerva é a existência de "senadores" fiéis e o suposto poder manipulador de certos crentes. Foi assim com os jesuítas nos séculos XVIII e XIX, é assim agora com vários movimentos religiosos.

Nestes, o Opus Dei tem uma certa visibilidade especial, por exemplo com O Código da Vinci. Mas noutras zonas do mundo ouvimos criticar da mesma forma focolares, CL, carismáticos, salesianos e muitos outros.

Que motivos para tanta crítica? Os inimigos têm as suas razões, mas entre as censuras mais citadas estão as Cruzadas e a Inquisição, que acabaram séculos antes deles nascerem. Se virmos bem, ao longo dos tempos todos os grupos visados, tão diferentes nas suas formas, têm uma coisa em comum: viver a sério a doutrina de Cristo.

No fundo o problema do Opus Dei, como dos outros, é só aquilo que celebramos nestes dias da Páscoa.

Todos os cristãos estão avisados desde o princípio. "Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: o escravo não é maior que o senhor. Se perseguiram a mim, também hão-de perseguir a vós" (Jo 15, 20).

Essa é a sua glória: "Bem-aventurados sereis quando vos insultarem e perseguirem e, por minha causa, disserem todo o tipo de calúnia contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque grande será a vossa recompensa nos céus."
(Mt 5, 11-12). |


sexta-feira, março 28, 2008

Perigo para a paz mundial

Barack Obama tem praticamente garantida a presidência do conselho de administração da América. O establishment o exige, e o establishment o está a produzir através dos mais poderosos instrumentos mediáticos, financeiros e científicos de que dispõe. As sempre necessárias vozes dissonantes, sem as quais a nomeação presidencial pareceria saída de uma decisão de politburo, têm estado a cumprir o seu papel.

Nas últimas semanas e dias, sob o impulso da crise financeira e da anunciada recessão económica, várias têm sido as vozes americanas a dar sinais de angústia. Entre estas, há quem tema um colapso americano.

Não vejo razão para tanto alarme. Ou melhor, não será por aí, pela crise financeira ou económica, que se verificará um imediato colapso americano. O colapso não deixará de vir, decerto, mas quando para os credores não for mais necessário o americano-leviatão. Entretanto, tanto no Reino Unido como nos Estados Unidos da "liberdade" está já a funcionar a receita socialista, que se pensava ter sido enterrada no início dos anos 90: um banco foi nacionalizado pelos britânicos, enquanto os americanos socializaram as perdas de um dos bancos mais "dinâmicos" da praça, para minimizar os estragos provocados... pela "liberdade" (e ainda acusam a China e a Rússia de capitalismo de Estado?!).

Mas para se perceberem as angústias globais, e também as expectativas globais do establishment americano, julgo que vale a pena dar uma espreitadela nos livros de Thomas Barnett. Neles se encontra, bem explicado, o "plano de voo" americano actualmente em execução, incluindo as necessárias escalas de reabastecimento.

Incremento da "conectividade" à rede do poder americano é o santo e a senha desta fase de globalização. E é por isso que, para a eventualidade de virem a perder o controlo sobre o Médio Oriente, e, mais grave ainda, sobre o "Northern Tier" (Turquia, Irão, Iraque, Paquistão, Afeganistão...), a África é hoje uma das prioridades americanas. Por razões energéticas e estratégicas (no sentido militar do termo), seria para aí que teriam que retirar. Disso não se tem falado na actual campanha pela nomeação de Obama, nem é previsível que se venha a falar muito. No seu weblog, Barnett frisou no entanto recentemente uma ideia que, essa sim, deveria suscitar preocupação neste extremo ocidental da Eurásia: para a execução do "plano de voo" americano, não valeria a pena contar com a Rússia.

É uma ideia que se tem vindo a insinuar nas altas esferas da opinião publicada na América. Ao ler agora o muito publicitado Parag Khanna (nos sítios do costume, New York Times, Washinton Post, The Guardian, etc.) a ideia é uma vez mais repetida, se bem que de uma forma mais crua: o preço da Rússia está perfeitamente ao alcance da Europa (ou seja, dos Estados Unidos). 

Enquanto Barnett emergiu no quadro do "hard power" desenvolvido pela administração Bush, Khanna irrompe agora na preparação do que seria o "soft power" da administração Obama. 

Um "soft power" absolutamente necessário para impedir a decadência americana, segundo Khanna. E para quem existe aí fora um vasto "Segundo Mundo" à espera de ser conquistado (comprado) pelos três candidatos mais importantes ao senhorio global - os EUA, a China e a União Europeia. 

Segundo Khanna, a União Europeia, perfeito modelo de "soft power", "grande potência do futuro", etc., é não apenas capaz de comprar a Rússia, como tudo o mais que por aí estiver disponível. 

A ideia de que a Europa é a "grande potência do futuro" faz parte de uma conversa com que os americanos, pelo menos desde Kennedy, ciclicamente nos têm bombardeado. Como se o Reino Unido e a França tivessem realmente deixado de existir após a Guerra do Suez (1956). 

O que hoje é preocupante, é que esta velha desconsideração americana pelos Estados da velha Europa, inclua agora também a Rússia. Se a desconsideração pela Rússia vier a conquistar por completo o establishment americano, vai haver decerto quem na velha Europa buscará novas e bem mais profícuas alianças. O que não deixará de tornar-se um perigo para a paz mundial.

segunda-feira, março 24, 2008

Angola, hoje

http://www.youtube.com/watch?v=kMOxUZAHNLk

Um documentário sobre Angola, hoje.

quinta-feira, março 13, 2008

Morreu a "Duquesa Roja"

Adiós a la 'Duquesa Roja'
Luisa Isabel Álvarez de Toledo, duquesa de Medina Sidonia, conocida por su oposición al régimen franquista, ha fallecido este viernes a los 72 años

EFE - Cádiz - 07/03/2008

Luisa Isabel Álvarez de Toledo, duquesa de Medina Sidonia y conocida popularmente como la Duquesa Roja por su rechazo al régimen franquista, ha fallecido este viernes a los 72 años en su residencia de la localidad de Sanlúcar de Barrameda (Cádiz), según ha informado el Ayuntamiento de la localidad a través de un comunicado.

Fuentes municipales ha precisado que el entierro tendrá lugar el próximo domingo 9 de marzo, aunque falta por concretar la hora, debido a que muchos familiares y amigos de la fallecida residen fuera de España.

La duquesa, nacida el 18 de agosto de 1936, en Estoril (Portugal), donde vivían exiliados sus padres, pertenecía a una de las familias españolas de mayor linaje. Era hija de Joaquín Álvarez de Toledo y Carmen Maura y descendiente del estadista Antonio Maura. Tras la muerte de su padre, el 11 de diciembre de 1955, recibió el título oficial de duquesa de Medina Sidonia, uno de los más antiguos de España, ya que se remonta a 1297.

En 1967, un año después del accidente nuclear de Palomares (17 de enero de 1966), la duquesa encabezó una manifestación reivindicativa para defender el derecho de los labradores a recibir indemnización, lo que le supuso un procesamiento y posterior encarcelamiento, que se mantuvo de marzo a noviembre de 1969, cuando fue liberada tras aplicársele el decreto-ley de amnistía. La publicación de su novela La huelga, en 1968, la condujo a un nuevo proceso, en esa ocasión instruido por un juzgado militar.

Los dos hechos anteriores le indujeron a autoexiliarse

en Hasparren durante siete años. En 1976 regresó a España y volvió a ser detenida en su casa de Mortera, bajo la acusación de violencia hacia los agentes de la autoridad, por lo que fue condenada a seis meses de prisión, que cumplió en libertad condicional.

Tras este último incidente, Álvarez de Toledo se instaló definitivamente en su casa ducal de Sanlúcar de Barrameda (Cádiz), un palacio del siglo XVI, donde se dedicó a estudiar y catalogar los legajos y documentos antiguos que poseía, unos seis millones, que lo convierten en el archivo privado más importante de Europa.

La duquesa de Medina Sidonia escribió numerosos artículos en diversas revistas españolas y europeas, sobre todo francesas, entre ellas Sábado Gráfico y Reporter. Además de La huelga, es autora de las novelas La base, La cacería y My prision; de las memorias sobre la cárcel y Palomares.

En 1992 publicó Historia de una conjura y No fuimos nosotros, en el que afirmaba que el continente americano no fue descubierto por Colón, sino que ya se conocía y se comerciaba con él mucho antes de 1492.

Casada con Leoncio González de Gregorio y Martí, estaba separada desde hacía más de treinta años. Fruto de este matrimonio son sus tres hijos, Leoncio, conde de Niebla, Pilar Leticia y Gabriel Joaquín.

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El placer de ser contestataria

Luisa Isabel Álvarez de Toledo y Maura _ Duquesa
de Medina Sidonia

R.P-M.

La célebre Duquesa Roja no podía proceder de mejor nobleza ni ideales más distantes de los que ella sostuvo toda su vida. Su padre era Joaquín Álvarez de Toledo y Caro, XX Duque de Medina-Sidonia y su madre Carmen Maura Herrera, hija del I duque de Maura y nieta de don Antonio Maura Montaner, cinco veces presidente del Gobierno español.
La acusada personalidad de Luisa Isabel Álvarez de Toledo sin duda viene marcada por su temprana orfandad: su madre murió cuando ella contaba diez años y hasta su matrimonio en 1955 vivió bajo el cuidado de su abuela materna, Julia Herrera, condesa de la Mortera. A los 18 años fue puesta de largo en Estoril junto a la Infanta Pilar y al año siguiente, antes de cumplir 19, se casó con Leoncio González de Gregorio y Martí. La novia vestía un gran manto blanco de caballero de la Orden del Santo Sepulcro. Seis meses después nacía su primogénito Leoncio, actual conde de Niebla al que en los dos años siguientes seguirían sus hijos Pilar, hoy duquesa de Fernandina y Gabriel. Cinco años más tarde el matrimonio se rompía.

En 1967, un año después del accidente nuclear de Palomares (17 de enero de 1966), Luisa Isabel encabezó una manifestación reivindicativa, en la que decía defender el derecho de los labradores a percibir una indemnización como propietarios de las tierras contaminadas. Este hecho le supuso un procesamiento y posterior encarcelamiento. Permaneció presa desde el 28 de marzo de 1969 a noviembre del mismo año, en que fue liberada tras aplicársele el decreto-ley de amnistía.

La publicación de su novela «La huelga», en 1968, la llevó a un nuevo proceso, esta vez instruido por un juzgado militar.

Los dos incidentes anteriores le indujeron a autoexiliarse en Hasparren -Pirineos Atlánticos- por un período de siete años, regresando a España en 1976 y volviendo a ser detenida en su casa de Mortera, bajo la acusación de violencia hacia los agentes de la autoridad -algo que dada su endeble figura costaba imaginar. Fue condenada por ello a seis meses de prisión, que cumplió en libertad condicional.

Tras este último incidente, se instaló definitivamente en la casa ducal de Sanlúcar de Barrameda, Cádiz, un palacio del siglo XVI. Allí se ha dedicado a estudiar y catalogar los legajos y documentos antiguos que posee, unos seis millones, que lo convierten en el archivo privado más importante de Europa. Apenas mantenía ningún contacto con sus hijos.

En noviembre de 1984, se difundió la noticia de que unos 20.000 documentos de su archivo entre los que había correos entre Felipe II y el almirante de «La Invecible» habían sido sacados ilegalmente de España y habían aparecido en una tienda de antigüedades californiana, dedicada a libros raros y documentos históricos. La tienda los ofreció por unos cien millones de pesetas.

Además de «La huelga», es autora de las novelas «La base», «La cacería», «My prision» y «Palomares».

En 1992 publicó «Historia de una conjura» y «No fuimos nosotros» en el que la duquesa afirma que el continente americano no fue descubierto por Colón, sino que tribus africanas ya lo conocían y comerciaban con él mucho antes de 1492. El 17 de julio de 2000 fue recibida por el Rey de Marruecos, Mohamed VI, encabezando una delegación de musulmanes españoles -aunque no consta que nunca abrazara esa fe. El 5 de octubre de ese año un grupo de ciudadanos de Ceuta inició una campaña para solicitar que fuera retirada su firma del Libro de Oro de la Ciudad Autónoma, después de sus declaraciones para presentar su libro «Africa versus América, la fuerza del paradigma», cuando manifestó que las ciudades de Ceuta y Melilla están situadas en suelo marroquí.

El ducado de Medina-Sidonia fue el primer ducado hereditario. Se concedió en 1445. Luisa Isabel era también también Marquesa de los Vélez y de Villafranca del Bierzo -ambos títulos con Grandeza de España- y tenía una docena de títulos nobiliarios reconocidos por el cuerpo de la nobleza italiana.

La duquesa de Medina-Sidonia falleció ayer en su casa palacio de Sanlúcar de Barrameda, víctima de un cáncer de pulmón. Se da la circunstancia de que su ex marido Leoncio González de Gregorio falleció hace dos semanas, el pasado 23 de febrero.

In ABC, Madrid

A Restauração da República

Na passada segunda-feira, José Adelino Maltez chamou uma vez mais a atenção para algo fundamental: para restaurar Portugal é necessário começar por restaurar a república.

Fui espreitar o tempo a passar e, mesmo sem pedir licença, aí vai mais um texto que merece ser lido com muita atenção:


por José Adelino Maltez

"Muito ortodoxamente fui interpelado por alguns monárquicos que estranharam a circunstância de, muito heterodoxamente, me dizer "realista republicano". Com todo o pragmatismo de quem não perdeu o sentido da aventura, posso observar que, no actual quadro político, não existe um problema de vértice do regime, existe um problema quantos às fundações morais de qualquer possível regime.

Porque, se, formalmente, não vivemos em monarquia também substancialmente não temos um regime republicano, segundo os ideais dos revolucionários da Rotunda.

Julgo pertencer ao grupo dos portugueses que, apesar de nunca se ter desligado da tradição monárquica, subscreve a exigência constitucional da "forma republicana de governo".

Com efeito, talvez seja capaz de dizer, com todo o cuidado literal e doutrinário, que foi alguém de formação monárquica que inspirou esse agregado de palavras. Aliás, julgo não poder haver nenhum doutrinador monárquico, dos clássicos aos contemporâneos, incluindo os próprios integralistas, que não defenda a monarquia como forma republicana de governo.

Em abono desta afirmação, poderia, aliás, começar por invocar Francisco Suarez e depois passar aos clássicos do tradicionalismo contra-revolucionário e anti-absolutista, dado que todos eles assentaram as suas crenças consensualistas no pacto de associação e na consequente origem popular do poder.

Diria até que, para poder ser profundamente constitucionalista, teria que começar por reverenciar a matriz de todos os constitucionalismos modernos, que é o muito "res publicano" constitucionalismo da monarquia britânica, um constitucionalismo que nunca precisou do conceito de Estado nem do conceito de Constituição para ser a matriz de todos os Estados de Direito Democráticos dos nossos tempos contemporâneos.

E mesmo na nossa história portuguesa, talvez convenha dizer que, antes de haver as constituições monárquico-liberais escritas, nós já tínhamos sido, até à recepção do iluminismo absolutista, com o seu despotismo ministerial, um Estado Constitucional e, desse modelo de Constituição Histórica, ainda hoje poderíamos extrair muitas lições de consensualismo para alguns desvios absolutizantes do nosso tempo.

Até tivemos uma monarquia e uma constituição, as nossas tão esquecidas leis fundamentais, antes de se terem elaborado os conceitos de Estado Moderno e de soberania, nos séculos XV e XVI. Isto é, a organização política dos portugueses tinha não só uma espécie de Estado pré-estadualista como também um género de constituição pré-constitucionalista.

O facto de a Primeira República ter sido caricaturalmente parlamentarista e partidocrática, transformando o Presidente da República num simples instrumento do partido dominante , eleito pela "classe política" num colégio eleitoral, apenas provocou um vazio na simbologia máxima do Estado.

A partir do 28 de Maio e, muito principalmente, com a institucionalização do Estado Novo, através da Constituição de 1933, gerou-se um formal presidencialismo bicéfalo, onde efectivamente imperava o Presidente do Conselho de Ministros que, mesmo depois de abandonar a titularidade da "ditadura das Finanças", continuou a ser o efectivo "Princeps". O salazarismo, com efeito, liquidou em Portugal o dilema Monarquia/República, gerando um hibridismo que a dita III República, posterior ao 25 de Abril, ainda não conseguiu superar.

Com efeito, o estilo salazarista de chefia do Estado foi particularmente acirrado com o General Ramalho Eanes que, apesar de legitimado pelo voto popular, nunca se libertou de uma outra superior legitimidade: a de ser militar, a de pertencer a uma entidade que a si mesma se considera diversa da "sociedade civil".

Só com a eleição de Mário Soares se deu uma efectiva restauração da República a nível da chefia do Estado, uma restauração que, contudo, não foi feita contra os monárquicos nem marcada por sucedâneos cesaristas e que levou o próprio Duque de Bragança a qualificar a actuação de Soares como a de um verdadeiro monarca.

A monarquia em Portugal não foi derrubada pelo 5 de Outubro. A monarquia já tinha sido derrubada muito antes, tanto com o absolutismo como com o revolucionarismo de inspiração jacobina, e continuou a ser derrubada depois dessa data, com as subserviências face ao cesarismo e às ditaduras.

Porque a monarquia, como instituição de direito natural, apenas existe quando a instituição tem efectiva legitimidade, isto é, quando ninguém a discute e todas a praticam como instituição viva, tão natural como o ar que se respira ou a nação que todos os dias se plebiscita.

Com efeito, não haveria monarquia em Portugal, nos termos da legitimidade das velhas leis fundamentais, se, por exemplo, através de um referendo, a maioria absoluta ou a maioria qualificada da população optasse pela monarquia.

Enquanto a ideia monárquica continuar factor de divisão entre os portugueses, enquanto continuar vivo, mesmo que minoritário, um partido republicano, a monarquia nunca poderá conquistar a legitimidade. A monarquia não existe se depender da obediência e não do respeito. Só existe monarquia se o rei for tão natural como a família, sem estar dependente dos factores da conjuntura. Por isso é que a existência de partidos que se qualificam como monárquicos continua a ser um dos principais atentados contra a própria ideia monárquica em Portugal.

Do mesmo modo, será impossível qualquer instauracionismo monárquico se persistir na opinião pública a confusão entre a ideia monárquica e o aristocratismo, muito principalmente daquele que continua a ser ostentado por certos aristocretinos da nossa praça, maioritariamente descendendentes da falsa fidalguia do baronato devorista, que usurparam os títulos através da especulação financeira e dos golpes partidocráticos.

Na verdade, qualquer instauracionismo monárquico só seria viável se a política portuguesa voltasse de novo a ter aquela necessária temperatura espiritual geradora de efectiva legitimidade e de democráticos consensos populares. Enquanto a política que temos continuar a traduzir em calão os discípulos de Maquiavel, o monarquismo corre o risco de não passar de emblema para certas castas falsamente monárquicas e que são as verdadeiras responsáveis pela efectiva não popularidade da ideia de poder real em Portugal.

(...)

quarta-feira, março 12, 2008

Baile de máscaras

Segundo a imprensa britânica, e espanhola, o primeiro-ministro Gordon Brown terá aceite uma proposta de Lord Goldsmith que, a ser aprovada pela Casa dos Comuns, obrigaria os estudantes britânicos a jurar lealdade à Rainha para obter os seus diplomas secundários.

A reacção de alguns comentadores na imprensa, em Espanha e no Reino Unido, a respeito deste juramento, tem sido a de que a proposta é grotesca, desproporcionada, e que nem vale a pena ser considerada.

Discordo num ponto. Julgo que vale a pena ser considerada. Toda a acção suscita uma reacção. Ora, partindo do princípio que Gordon Brown tem neurónios, está de perfeita saúde, e não sofre de qualquer toxicodependência, pode bem haver uma explicação para tal proposta: o primeiro-ministro britânico poderá estar a pretender dar o sinal de partida para uma larga acção contra a monarquia em Inglaterra, e consequente destruição do Reino Unido. Razão pela qual os seus amigos de Washington e de Bruxelas, poderão estar já a esfregar as mãos de contentamento.

terça-feira, março 11, 2008

Borrasca sobre la península Ibérica


(Fotografía del satélite Meteosat para la Agencia Estatal de Meteorología en la que se aprecia una borrasca sobre la península Ibérica.- EFE - 10-03-2008 )

O mapa eleitoral de Espanha continua a revelar-se centrífugo e refém do terrorismo.

O pacto de Tinell, afinal, favoreceu o PSOE, que conseguiu captar calor nas águas do nacionalismo catalão e da “extrema-esquerda” parlamentar.

O PP não conseguiu captar calor suficiente no centro ideológico, captando-o apenas no centro geográfico, em Madrid e na Comunidade Valenciana.

Em Espanha, chamam-lhe um "tsunami bipartidário". Visto de Portugal, o fenómeno parece ser mais atmosférico e envolvendo toda a Península. E logo agora que a sobrevivência da Espanha, e de Portugal, impunha aqui ao lado um sistema político que fosse capaz de gerar um pacto de regime entre o PSOE e o PP.

Será que a Península vai vencer esta borrasca?

Ontem, no programa "prós e contras" da RTP, gostei de ouvir José Adelino Maltez defender a restauração da República e da Instituição Real em Portugal.

Sim, restaurar a República e a Instituição Real em Portugal, colocando no trono o Duque de Bragança, daria um renovado impulso à lusofonia, ao mesmo tempo que desatava o nó da desagregação da Espanha, projectando-a a ela também com segurança na hispanidade.

Portugal e Espanha voltam hoje a ser partes igualmente interessadas no Atlântico, e tanto a Espanha precisa da Instituição real em Portugal, como Portugal precisa da Instituição real em Espanha.

Será que ainda vamos a tempo de recuperar o paralelismo de Quinhentos?

É nestas alturas que consola ler J. M. Carrascal assegurando que "la vida tiene más imaginación que todos nosotros juntos".

domingo, março 09, 2008

Sobre o português Vítor Hugo

por Ferreira Fernandes

jornalista
ferreira.fernandes@dn.pt

O jornalista Jean-Pierre Langellier publicou no dia 6 um artigo no jornal Le Monde com este título: "'Merci Napoléon', Dizem os Brasileiros". E o artigo começa com a mesma tecla: "Todos os brasileiros vos dizem: o seu país existe graças a ... Napoleão." E acaba batendo no mesmo: "No último Carnaval, várias escolas de samba fizeram disso [a chegada do D. João VI, ao Rio] o tema do seu desfile. Um dos refrãos, acompanhado em coro pela multidão, acabava com um alegre: 'Adeus, Napoleão!' Adeus e obrigado."

Portanto, Le Monde mandou avisar: o pai da criança é Napoleão, não é D. João VI. Lula devia ter convidado, em vez de Cavaco e Maria, Sarkozi e a Bruni. Vão dizer-me, o artigo de Langellier é a brincar. Pois, pois. Mas um tema tão extraordinário (a primeira viagem de um rei europeu para, e não à, para a América, o único país do mundo que se fez independente com um príncipe colonial...) - e tema em que a França é secundária - eu preferisse que fosse tratado sem o tradicional umbiguismo gaulês. Sublinhado no título, primeiro e último parágrafo, quer dizer nos lugares mais nobres do artigo.

Desde já, essa da causa efeito - Napoleão é que empurra D. João VI para o Brasil - parece a do brasileiro que diz que quem protagonizou a final do Mundial de 50 foi o guarda-redes Barbosa, que deixou entrar o golo. Não, o campeão do mundo foi o Uruguai porque Ghiggia enganou Barbosa num chuto perfeito e porque os uruguaios foram a equipa superior comandados pelo grande capitão Obdulio Varela. Sobre o nascimento do Brasil, portugueses e D. João VI e D. Pedro foram protagonistas, só ultrapassados pelos brasileiros; Napoleão, grande noutras coisas, nesta foi mero comparsa histórico.

Aliás, entre os dois parágrafos francófilos, Langellier lembra: "Sobre D. João, Napoleão escreverá: 'Ele é o único homem que me enganou'." Esta parte do miolo do artigo é a melhor, recheada de informação. Eu gostei muito, já tinha lido tudo no soberbo 1808, do brasileiro Laurentino Gomes, livro que eu (mas isso sou eu) digo que li. A Laurentino o que é de Laurentino, a João VI o que de João VI, cher Jean-Pierre.

E naquele último parágrafo, o do desfile carnavalesco com o "Adeus, Napoleão", seguido no texto do Monde por "Adeus e obrigado", diga-se que o sujeito está mal atribuído. Não, não são os brasileiros a piscar o olho ao imperador francês. O desfile foi o do Grupo Imperatriz Leopoldina e o samba-enredo, depois de mostrar a discussão no palácio real de Lisboa, põe D. João VI a tomar a decisão. Que saiu nestes versos cantados no Sambódromo: "Ou ficam todos/ Ou todos se vão/ Embarcar nessa aventura/ e 'au revoir, Napoléon'"... Já nos chega os franceses terem melhores patés e agora querem ter melhores passés... Perdoem a piadola à Le Monde.

In Diário de Notícias, hoje.

Cenhora menistra

Ora expliquem lá...

CARTA DO CANADÁ
por Fernanda Leitão

Em 1975, quando o Partido Comunista tomou o poder em Portugal, a massiva infiltração de militantes seus não se ficou apenas pelas Forças Armadas, os meios da comunicação social, os transportes, os sindicatos, a banca e por aí fora. Também era um facto no sector da Educação. Com resultados práticos chocantes e, muitas vezes, grotescos.
Escolas havia, um pouco por todo o país, em que as aulas passaram a ser verdadeiros comícios de lavagem de cérebro aos estudantes. O aproveitamento escolar foi a pique, ao mesmo tempo que a política de admissão de docentes atingiu níveis de bandalheira nunca igualados. Ninguém precisava de ser competente, ou sequer convenientemente letrado, bastava ser militante ou simpatizante. Em todos os patamares da vida pública, incluindo a dirigir o Ministério da Educação. E até a dirigir o Ministério do Trabalho, em que os donos do partido colocaram um salta-pocinhas, de cabelos compridos e t-shirt foleira, que sabia tanto de questões laborais como eu de lagares de azeite. Dizia-se, no entanto, que isso não tinha importância porque o flausino tinha atrás dele Álvaro Cunhal a dar-lhe as ordens. Estudantes que fossem suspeitos de pertencer a famílias bem instaladas na vida, eram descaradamente maltratados por esses professores. Aconteceu até, no Porto, um caso repugnante: um garoto que, numa briga de recreio, deu uma estalada num filho dum general de aviário do MFA, um tal Corvacho, viu-se preso, por denúncia telefónica dos professores, por uns tipos da Polícia Militar que logo apareceram num jeep. Ainda estão vivos, e creio que de boa saúde, os que viveram esse episódio.
Sempre me causou estranheza e lástima que os professores não tivessem saltado à rua, gritando por liberdade, dando largas à indignação, como outros fizeram, em manifestações nunca mais igualadas, quando foi preciso dizer ao Partido Comunista, e ao mundo, que o povo português, saído de uma ditadura de extrema direita de 48 anos, não estava disposto a sofrer a ditadura sangrenta que sofreram milhões de pessoas, durante 70 anos, na União Soviética (e que ainda sofrem os povos de Cuba, China, Coreia do Norte e Vietname do Norte). Essa que, através de fomes programadas e de gulags de inferno, matou 20 milhões de pessoas. Mas a verdade é que nunca houve uma manifestação de professores nesses tempos de tentativa boçal de amordaçar o nosso povo.
Para mim é ponto assente que os comunistas não têm lições a dar de democracia a ninguém, visto que servem uma doutrina de prática totalitária e criminosa. E causa-me espanto que pessoas normais possam ir atrás das loas de dirigentes sindicais que, embora se afirmem professores, já não dão aulas há vários anos e, de desfasados que estão, serão os primeiros a recear uma avaliação profissional. Dirigentes sindicais que, sem saberem pensar pela sua própria cabeça, bebem da fonte inquinada de uma confederação e de um partido onde pontificam os últimos dinossauros do estalinismo. Causa-me desgosto ver professores do meu país feitos Maria-vai-com-as-outras, sem se darem ao respeito aos seus estudantes, aos pais destes, ao país todo, alinhando numa passeata que teve 100 mil porque, como é de regra nas campanhas de agit prop, incluíram maridos, esposas, sogros, pais, irmãos, filhos, amigos. Tudo professores... Tudo tal qual as passeatas que vêm da margem sul do Tejo ou aquelas, de negregada memória, que o Salazar encomendava...
Sou eu contra manifestações e greves? Pelo contrário, sou a favor. Sou democrata. Bati-me, e por que preço, pela Liberdade e continuo a bater-me. Mas sou muito crítica e cautelosa nestas rebanhadas. Estou eu a passar um cheque em branco à ministra da Educação? Nem pensar, que nem simpatizo com ela. Mas entendo que é necessária, e urgente, uma avaliação de professores, que seja o princípio do fim da rebalderia que foi introduzida no ensino há 30 e tal anos. É caso para perguntar: são assim tantos os que têm medo da avaliação? Como explicam que, havendo avaliações a correr em vários sectores, privados e públicos, esses não venham para a rua gritar? É que esses trabalham, produzem.
Remato com a peixeirada que uns quantos armaram em Chaves, chamando “fascista” aos militantes socialistas que iam reunir em privado. E remato lembrando que, em 1976, me apareceu em Lisboa um jornalista da revista francesa LE POINT, a quem amigos comuns de Paris tinham dado o meu contacto. O nosso homem fez uma excelente reportagem, que incluia uma saborosa conversa que teve, em Bragança, com pessoas de acaso: “Vocês têm aqui muitos comunistas?”. Resposta pronta: “Não, senhor. Ainda temos aí uns gajos do PPD, mas vamos acabar com eles”. Clarinho como água.
Senhores professores, expliquem lá ao país, que inclui os portugueses residentes no estrangeiro, donde vem esta cega confiança nos dirigentes sindicais que organizam passeatas a peso de ouro.

Ciclo de Conferências "Dom Carlos"

A Real Associação de Viseu tem estado a promover um ciclo de conferências com especial referência ao rei Dom Carlos.

Eis o calendário das próximas conferências:

• 12 de Março – Lançamento, em Viseu, da primeira edição do livro “REGICÍDIO – 1908”, da autoria do Senhor Professor Doutor Aníbal Pinto de Castro.

• 25 de Março – Tema: Real Confraria de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa – Coroação, por Dom João IV, de Nossa Senhora como Rainha e Padroeira de Portugal. Apresentado pelo Senhor Dr Simão Pedro de Aguiam

• 9 de Abril - “DOM CARLOS, MEMÓRIA DUM REI”, pelo Dr. José Valle de Figueiredo


As conferências terão lugar na BIBLIOTECA MUNICIPAL DE VISEU (junto à loja do cidadão), com início às 18 horas e 15 minutos, com tolerância de 15 minutos, e terminarão pelas 19 horas e 30 minutos.