domingo, março 09, 2008

Ora expliquem lá...

CARTA DO CANADÁ
por Fernanda Leitão

Em 1975, quando o Partido Comunista tomou o poder em Portugal, a massiva infiltração de militantes seus não se ficou apenas pelas Forças Armadas, os meios da comunicação social, os transportes, os sindicatos, a banca e por aí fora. Também era um facto no sector da Educação. Com resultados práticos chocantes e, muitas vezes, grotescos.
Escolas havia, um pouco por todo o país, em que as aulas passaram a ser verdadeiros comícios de lavagem de cérebro aos estudantes. O aproveitamento escolar foi a pique, ao mesmo tempo que a política de admissão de docentes atingiu níveis de bandalheira nunca igualados. Ninguém precisava de ser competente, ou sequer convenientemente letrado, bastava ser militante ou simpatizante. Em todos os patamares da vida pública, incluindo a dirigir o Ministério da Educação. E até a dirigir o Ministério do Trabalho, em que os donos do partido colocaram um salta-pocinhas, de cabelos compridos e t-shirt foleira, que sabia tanto de questões laborais como eu de lagares de azeite. Dizia-se, no entanto, que isso não tinha importância porque o flausino tinha atrás dele Álvaro Cunhal a dar-lhe as ordens. Estudantes que fossem suspeitos de pertencer a famílias bem instaladas na vida, eram descaradamente maltratados por esses professores. Aconteceu até, no Porto, um caso repugnante: um garoto que, numa briga de recreio, deu uma estalada num filho dum general de aviário do MFA, um tal Corvacho, viu-se preso, por denúncia telefónica dos professores, por uns tipos da Polícia Militar que logo apareceram num jeep. Ainda estão vivos, e creio que de boa saúde, os que viveram esse episódio.
Sempre me causou estranheza e lástima que os professores não tivessem saltado à rua, gritando por liberdade, dando largas à indignação, como outros fizeram, em manifestações nunca mais igualadas, quando foi preciso dizer ao Partido Comunista, e ao mundo, que o povo português, saído de uma ditadura de extrema direita de 48 anos, não estava disposto a sofrer a ditadura sangrenta que sofreram milhões de pessoas, durante 70 anos, na União Soviética (e que ainda sofrem os povos de Cuba, China, Coreia do Norte e Vietname do Norte). Essa que, através de fomes programadas e de gulags de inferno, matou 20 milhões de pessoas. Mas a verdade é que nunca houve uma manifestação de professores nesses tempos de tentativa boçal de amordaçar o nosso povo.
Para mim é ponto assente que os comunistas não têm lições a dar de democracia a ninguém, visto que servem uma doutrina de prática totalitária e criminosa. E causa-me espanto que pessoas normais possam ir atrás das loas de dirigentes sindicais que, embora se afirmem professores, já não dão aulas há vários anos e, de desfasados que estão, serão os primeiros a recear uma avaliação profissional. Dirigentes sindicais que, sem saberem pensar pela sua própria cabeça, bebem da fonte inquinada de uma confederação e de um partido onde pontificam os últimos dinossauros do estalinismo. Causa-me desgosto ver professores do meu país feitos Maria-vai-com-as-outras, sem se darem ao respeito aos seus estudantes, aos pais destes, ao país todo, alinhando numa passeata que teve 100 mil porque, como é de regra nas campanhas de agit prop, incluíram maridos, esposas, sogros, pais, irmãos, filhos, amigos. Tudo professores... Tudo tal qual as passeatas que vêm da margem sul do Tejo ou aquelas, de negregada memória, que o Salazar encomendava...
Sou eu contra manifestações e greves? Pelo contrário, sou a favor. Sou democrata. Bati-me, e por que preço, pela Liberdade e continuo a bater-me. Mas sou muito crítica e cautelosa nestas rebanhadas. Estou eu a passar um cheque em branco à ministra da Educação? Nem pensar, que nem simpatizo com ela. Mas entendo que é necessária, e urgente, uma avaliação de professores, que seja o princípio do fim da rebalderia que foi introduzida no ensino há 30 e tal anos. É caso para perguntar: são assim tantos os que têm medo da avaliação? Como explicam que, havendo avaliações a correr em vários sectores, privados e públicos, esses não venham para a rua gritar? É que esses trabalham, produzem.
Remato com a peixeirada que uns quantos armaram em Chaves, chamando “fascista” aos militantes socialistas que iam reunir em privado. E remato lembrando que, em 1976, me apareceu em Lisboa um jornalista da revista francesa LE POINT, a quem amigos comuns de Paris tinham dado o meu contacto. O nosso homem fez uma excelente reportagem, que incluia uma saborosa conversa que teve, em Bragança, com pessoas de acaso: “Vocês têm aqui muitos comunistas?”. Resposta pronta: “Não, senhor. Ainda temos aí uns gajos do PPD, mas vamos acabar com eles”. Clarinho como água.
Senhores professores, expliquem lá ao país, que inclui os portugueses residentes no estrangeiro, donde vem esta cega confiança nos dirigentes sindicais que organizam passeatas a peso de ouro.

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