sábado, novembro 29, 2008

Uma advertência da Santa Sé

Crise: catástrofe se for administrada somente por países ricos

Advertência da Santa Sé na conferência de Doha

NOVA IORQUE, Sexta-feira, 28 de Novembro de 2008 (ZENIT.org).- A Santa Sé advertiu que a crise financeira se converterá em uma catástrofe se for administrada unicamente pelos países ricos. O aviso foi lançado pelo arcebispo Celestino Migliore, observador permanente na sede da ONU em Nova York, um dia antes do início da Conferência promovida pela Assembléia Geral das Nações Unidas em Doha, Qatar.

Até 2 de dezembro, chefes de Estado, de governo e a reunião das principais instituições e agências de desenvolvimento farão um balanço de iniciativas e projetos orientados à cooperação internacional.

Após a reunião do G-20 de Washington, que buscou soluções a médio prazo para a crise dos mercados financeiros, o Fundo Monetário Internacional falou da possibilidade de uma nova catástrofe financeira.

«Já há tempos nos encontramos em meio a uma crise financeira que poderá converter-se em catástrofe se não evitarmos seus efeitos sobre outras crises: a econômica, a alimentar, e a energética», explicou Dom Migliore aos microfones da Rádio Vaticano.

«Parece que é necessário um regresso decidido do setor público aos mercados financeiros; é necessário aumentar a coordenação e a união na busca de soluções; é necessário recuperar algumas dimensões básicas das finanças, ou seja, a primazia do trabalho sobre o capital, das relações humanas sobre as meras transações financeiras, da ética sobre o critério da eficácia», considera Migliore.

Ao mesmo tempo, o prelado pede que se evite o processo «financiamento da economia para adotar critérios mais coerentes com a pessoa humana, que dirige e se beneficia da atividade financeira», afirma Migliore.

Por isso, conclui, o problema é ético.

«E havia muitas regras e códigos éticos antes da crise; o problema é que se dava uma grande impunidade para quem não os respeitava – declara. É também uma questão de liderança, de autoridade moral dos governantes em todos os níveis, que têm a responsabilidade primária de proteger os cidadãos, sobretudo os trabalhadores, as pessoas normais que não têm a possibilidade de acompanhar a complicada engenharia financeira e que têm de ser defendidas dos enganos e dos abusos dos entendidos...»

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sexta-feira, novembro 28, 2008

Viva o 1.º de Dezembro!

Hoje, com os AMIGOS DE OLIVENÇA, queremos lembrar e reencontar o 1º Dezembro que se aproxima:

Viva o 1.º de Dezembro!


No próximo 1.º de Dezembro comemoram-se 368 anos da Restauração da Independência.
Logo em 5 de Dezembro de 1640, Olivença, assim que lhe chegaram notícias da revolta, repudiou o domínio filipino e fez jus à divisa que lhe fora outorgada pelos Reis de Portugal: NOBRE, LEAL E NOTÁVEL VILA DE OLIVENÇA!

Ocupada militarmente em 1801, desde então sob administração espanhola e forçadamente separada das demais terras portuguesas, Olivença constitui alerta eloquente para todos aqueles que querem um Portugal verdadeiramente livre e independente.

Lembrando a NOBRE, LEAL E NOTÁVEL VILA DE OLIVENÇA, e apelando à participação cívica de todos na defesa da sua portugalidade, o Grupo dos Amigos de Olivença participará como habitualmente nas comemorações públicas do Dia da Restauração.

Convidam-se todos os associados e apoiantes a integrarem a Comitiva do Grupo dos Amigos de Olivença que se concentrará, no dia 1.º de Dezembro, às 15:30 horas, frente à Casa do Alentejo, dali saindo para comparecer nas cerimónias oficiais que terão lugar às 16:00 horas, na Praça dos Restauradores, em Lisboa.



Para Lembrar e Reencontrar Olivença!



Lx., 23-11-2008.

(Comunicado da Direcção do Grupo de Amigos de Olivença)

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quinta-feira, novembro 27, 2008

A Rússia está a testar os RS-24, e quer o Alaska...



Esta fotografia foi tirada no dia 11 de Outubro de 2008, em San Servolo (Veneza), por ocasião da convenção internacional "Ambiente: Dagli allarmi Globali all'Allarme di Media”, presidida por Mikhail Gorbachev. Da esquerda para a direita: Professor Lees, presidente do Clube de Roma, Giulietto Chiesa, e Mikhail Gorbachev.

No Reino Unido há quem diga que ali se pode estar à beira da bancarrota. Se a situação é catastrófica, não é contudo ainda grave, como diziam os Habsburgos. Mas ao Reino Unido, ainda pode valer o Brasil, agora de excelentes relações com um Medvedev que, lá em casa, na Peninsula da Kamchatka, anda agora a testar os RS-24 ICBM.

É o que diz a Novosti, que acrescenta, noutra notícia, que a Rússia bem pode vir a ficar com o Alaska, quando os EUA entrarem em colapso, na próxima Primavera.




A previsão de um especialista russo nestes assuntos (da guerra da informação) diz que ficarão seis pedaços: a Costa do Pacífico, para os chineses; o Sul, com o Texas, para os hispanicos; a Costa do Atlântico para os anglo-saxónicos; o interior para os índios; e o Norte para a aliança franco-britânica do Canadá. A Rússia reclama o Alaska. Oxalá ainda estejamos cá para ver, na próxima Primavera. Isto mais parece ser uma brincadeira de mau-gosto, para importunar Obama. Para comprovarem que não estou a brincar, podem dar uma espreitadela no seguinte endereço:

http://en.rian.ru/world/20081124/118512713.html

E vem-nos à memória um velho princípio da estratégia: escolher cuidadosamente as batalhas a travar, tendo presente que o tempo joga sempre a favor dos que conseguem adicionar amigos e reduzir os inimigos.

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segunda-feira, novembro 24, 2008

Cavaco Silva e o BPN

Mário Crespo

Interpelado sobre o BPN Cavaco Silva respondeu que "nenhum Presidente da República comenta questões do foro judicial". A ser assim, é legítimo concluir-se que a situação de Dias Loureiro, seu Conselheiro de Estado, é também já do foro judicial. Não o sabíamos.

Tal não tinha sido ainda sugerido por ninguém. Fazendo fé naquilo que o supremo magistrado do País declara, ainda por cima invocando doutrina de comportamento presidencial (nenhum comenta questões que estejam em fórum de justiça), Portugal tem no Conselho de Estado um conselheiro da sua escolha pessoal cujo comportamento é questão "do foro judicial".

Se nenhum Presidente da República pode comentar a imensa trapalhada em que Dias Loureiro se envolveu, qualquer Presidente da República deve afastar do seu círculo próximo alguém cujo comportamento sugira que terá que ser analisado em foro judicial. Não se trata de punir Cavaco Silva pelos actos de antigos e actuais colaboradores. Trata-se apenas do dever que o Presidente assumiu constitucionalmente de defender as instituições democráticas do País.

O Conselho de Estado é uma delas. Um Conselheiro de Estado não pode ser desmentido na praça pública em questões de honorabilidade e continuar a ser Conselheiro de Estado. Se "nenhum Presidente da República pode comentar questões do foro judicial" nenhum Presidente da República pode ter um Conselheiro de Estado que se sugere que falta à verdade. Um País não pode ter um Presidente da República que se aconselha com quem sabia de irregularidades financeiras e não as contou, como diz um Vice Governador do Banco de Portugal, ou que as contou mas nada fez, continuando durante anos no grupo que as praticava como se nada soubesse.

Esta é uma carga de suspeição insuportável para a instituição Presidencial. O detido, Oliveira e Costa, foi um alto colaborador do Primeiro-ministro Cavaco Silva. Teve uma parceria íntima em negócios multimilionários com Dias Loureiro quando ambos deixaram a política activa. Dias Loureiro é um alto colaborador do Presidente da República. Foi um vigoroso apoiante das campanhas presidenciais de Cavaco Silva. Deve ter tido um contributo valioso. Bem relacionado como é, deve ter atraído contribuições de campanha igualmente valiosas. Se calhar sem ele Cavaco não teria ganho. E Cavaco queria muito ganhar.

Mostrou isso por duas vezes. Não há dúvidas que o Presidente lhe deve muito. Mas o seu dever para com a República tem que ser maior. Se acha que o que se passa com o BPN é do foro judicial, sendo Dias Loureiro uma das entidades cujo envolvimento tem que ser explicado e não foi, a República exige-lhe que se distancie dele até a dúvida ser aclarada no foro judicial que, informou-nos o PR, é onde pertence.

Um Conselheiro de Estado não pode estar a aguardar investigações judiciais sobre o seu comportamento e honorabilidade. A um Conselheiro de Estado não se aplicam presunções de inocência em ambientes de suspeição generalizada com depoimentos contraditórios de altos responsáveis do Estado no passado/presente a desmentirem-se em público sobre questões de pura e simples honestidade. Isto não é assunto remissível para o foro judicial. É do foro presidencial e o Presidente, por muito que lhe custe, tem que se pronunciar.

In Jornal de Notícias

Eis a resposta:

Comunicado da Presidência da República
A Presidência da República procede à divulgação do seguinte comunicado:

"Nos últimos dias, detectou a Presidência da República, face a contactos estabelecidos por jornalistas, tentativas de associar o nome do Presidente da República à situação do Banco Português de Negócios (BPN).

Não podendo o Presidente da República tolerar a continuação de mentiras e insinuações visando pôr em causa o seu bom nome, esclarece-se o seguinte:

1. O Prof. Aníbal Cavaco Silva, no exercício da sua vida profissional, antes de desempenhar as actuais funções (nem posteriormente, como é óbvio):

a) nunca exerceu qualquer tipo de função no BPN ou em qualquer das suas empresas;
b) nunca recebeu qualquer remuneração do BPN ou de qualquer das suas empresas;
c) nunca comprou ou vendeu nada ao BPN ou a qualquer das suas empresas.

2. O Prof. Cavaco Silva e a sua Mulher:

a) nunca contraíram qualquer empréstimo junto do BPN;
b) não devem um único euro a qualquer banco, nacional ou estrangeiro, nem a qualquer outra entidade.

3. O Prof. Cavaco Silva e a sua Mulher têm, há muitos anos, a gestão das suas poupanças entregues a quatro bancos portugueses – incluindo o BPN, desde 2000 – conforme consta, discriminado em detalhe, na Declaração de Património e Rendimentos entregue no Tribunal Constitucional, a qual pode ser consultada.

As aplicações feitas pelos bancos gestores constam, detalhadamente, da referida Declaração de Património, entregue no Tribunal Constitucional – assim como o número de todas as contas bancárias do casal, excepto uma, aberta no Montepio Geral, por acolher apenas depósitos à ordem - a qual, repete-se, pode ser consultada.

As alienações de títulos efectuadas pelos bancos gestores constam, nos termos da lei, e como pode ser verificado, das declarações de IRS do Prof. Aníbal Cavaco Silva e de sua Mulher, preenchidas com base nas informações fornecidas anualmente pelos referidos bancos.

4. Ao tomar posse como Presidente da República, o Prof. Cavaco Silva e a sua Mulher deram instruções aos bancos gestores das suas poupanças para não voltarem a comprar ou vender quaisquer acções de empresas portuguesas, excepto no exercício de direitos de preferência.


Palácio de Belém, 23 de Novembro de 2008"

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Comentários?... Para quê!?

Tiveram sorte

CARTA DO CANADÁ
Fernanda Leitão


Em pouco mais de vinte anos, barões do PSD, quase todos passados pelos governos, envolveram-se em dois escândalos bancários de contornos sinistros.
Nos dias que correm, está a contas com a Justiça a equipa dirigente do BPN. Foi preso o seu homem forte, estrategicamente afastado do banco e divorciado da mulher com quem estava casado há 42 anos, para melhor garantir a posse dos bens adquiridos, enquanto um outro ex-governante apareceu a fazer a rábula do menino de coro em entrevistas várias. Ao mesmo tempo, no programa televisivo PRÓS E CONTRAS, apareceram homens que parecem dispostos a partir a loiça toda, o que, a ser verdade, vai levar mais gente às prisões. Temos folhetim garantido para uns meses.
Para já, já duas constações positivas: a Procuradoria Geral da República funcionou em pleno e o governo foi rápido a salvar os depositantes ao nacionalizar o banco.
Infelizmente, não foi o que aconteceu há vinte e tal anos quando faliu de forma fraudulenta a Caixa Económica Faialense. Largos milhares de depositantes, na sua maior parte residentes no estrangeiro, isto é, emigrantes, ficaram sem as suas economias. Houve casos em que ficaram reduzidos à miséria. Houve um suicídio e houve um emigrante que, no auge do desespero, matou o director de uma filial do banco na América do Norte, o que lhe valeu uns anos de prisão e viver depois uns anos na mais completa carência. O caso arrastou-se pelos tribunais, os emigrantes manifestaram-se em Lisboa e foram mandados espancar pelo governo social democrata da época, os emigrantes quiseram falar com a então secretária de estado das Comunidades e não foram recebidos, os ex-governantes envolvidos, de quem na emigração se dizia à boca cheia que tinham atravessado fronteiras, mais de uma vez, com malas cheias de dinheiro, foram absolvidos. A única prisão foi a do jornalista Aníbal Mendonça que, por denunciar a bandalheira, esteve mais de um ano nos calabouços da Penitenciária sem ser ouvido nem julgado. Só tarde e mal, depois de farta pancadaria na TV e em alguns jornais, acabou por ser julgado e preso, depois de ter tido tempo de sobra para pôr a salvo o que roubou, o chamado presidente daquela vergonha, um antigo açougueiro que, pelos vistos, bom compagnon de route foi para dois ex-ministros e um ex-presidente da RTP. Ficou de tudo isto a lembrança amarga de uma demissão imoral do governo e da justiça.
Tiveram sorte os depositantes do BPN e o povo em geral, esse que, com o suor do rosto, deposita as suas economias nos bancos. E que, por naturais razôes de moral básica, se acha no direito de ver respeitado o seu dinheiro. Ainda bem que, desta vez, foi assim. Para mim, que nunca tive a ver com partidos, tanto se me dá que o respeito venha do governante Zé ou do governante Manel, questão é que venha. E é isso que registo.
Dinheiro do povo é coisa séria. Uma das maiores nódoas do comunismo foi o facto de os comunistas espanhóis terem transferido o ouro depositado em bancos de Espanha para a União Soviética, e os dirigentes desta, com Estaline à cabeça, lhe terem chamado um figo. Os comunistas espanhóis perderam a guerra civil nessa hora, e para sempre, mas só tarde e mal o perceberam. Se é que perceberam, porque parecem duros de entendimento, a avaliar pelo que ouvimos aos cá de casa...

sábado, novembro 08, 2008

Dois registos de uma eleição

CARTA DO CANADÁ

por Fernanda Leitão

Digo já que me refiro às eleições presidenciais norte-americanas, para que o meu generoso leitor não perca demasiado tempo. E aqui vão os dois registos principais que elas me sugeriram.
Primeiro registo - a questão racial. Tenho de relatar um episódio vivido na infância para que melhor se entenda o que senti na noite de 4 de Novembro. Eu tinha oito anos, ou pouco mais, e vivia em Luanda, cidade então de uma pacatez provinciana, onde se jantava muito cedo e, por não haver televisão, as pessoas se deitavam com as galinhas. Num começo de noite, um dos criados da casa pediu a minha mãe licença para ir ver um primo à Cadeia da Reclusão, onde estava a caminho de São Tomé para cumprir o “contrato”. Minha mãe autorizou e, de imediato, deu ao rapaz um cobertor, alguma roupa, sal, café e fósforos. Eu pedi para ir com o criado e, estranhamente, tive licença para o fazer. Só muitos anos depois percebi porquê e soube o que era isso do contrato para São Tomé que levava os negros de Angola à cadeia. Chegados à prisão, fomos encaminhados para as traseiras, já na areia da praia, e ali encontrámos um rapaz sentado no chão, com dois cipaios armados ao lado. As suas costas estavam cortadas a cavalo-marinho e sangravam. Os dois rapazes falaram em quimbundo e quando regressámos a casa, o meu criado chorava sem constrangimento. Estas imagens ficaram para sempre coladas à minha memória e com tal intensidade que, confesso, determinaram muito da minha maneira de estar na vida. Quando, muitos anos depois, eu soube que os negros a trabalhar por conta de outrém tinham de pagar “imposto de cabeça”, isto é, o direito de existirem, e que isso era averbado numa caderneta, assinada pela entidade patronal, à falta de cujo pagamento seriam presos e deportados para São Tomé, onde chegavam a ficar muitos anos, e até a morrer por lá, na maior miséria, nas roças do café, quando soube isso, senti vergonha, essa que, no dizer de Franz Fanon, “é já em si um sentimento revolucionário”. O meu desamor pelos totalitarismos, de direita ou de esquerda, estava de pedra e cal dentro de mim, porque, sendo cegos e maus, tanto podem escravizar negros, como calcar a pés a liberdade de povos inteiros ou, como aconteceu há dois mil anos, crucificar o Filho de Deus por se julgarem senhores da verdade.
Quando, em 1958, minha mãe me pediu para eu passar à máquina uns “papéis”, que mais não eram do que panfletos contra a ditadura, por ocasião da candidatura do general Humberto Delgado à presidência da República, compreendi, finalmente, porque me tinha ela autorizado, tão prontamente, a ir ver o que vi à Cadeia da Relação de Luanda.
Posto isto, não surpreenderei ninguém dizendo que, na noite das últimas eleições americanas, me comovi profundamente com aquelas multidões de negros chorando, cantando, dançando. Tinham sido precisos 150 anos de chicote, de maus tratos, de exploração, de desprezo, de segregação, que ainda durava há 50 anos, para que pudessem apoiar sem medo um homem da sua raça. Lembrei-ne naquela hora da cena relatada acima e também das lágrimas abundantes que, adolescente, chorei a ler A CABANA DOPAI TOMÁS. Nada do que se passa com os mal amados africanos e seus descendentes, me é indiferente. Ali, naquela hora, cumpriu-se o destino. Todos os impérios acabam.
Segundo registo – campanha milionária. Tal como disse o Prof. José Adelino Maltez lá de Timor, onde agora vive, também eu achei que “a festa foi bonita, pá!”. Bem apessoado, bem falante, desembaraçado, com aquele toque de arrogância que os americanos adoram, inteligente e com boa preparação académica, Barak Hussein Obama é um formidável comunicador. E teve ao seu serviço uma campanha desenhada ao pormenor, para a qual angariou 600 milhões de dólares. Quando alguns, entre eles John McCain, fizeram públicos reparos a essa soma afrontosa em tempos de tão grande crise que o povo americano vive, Obama explicou vagamente que a comunidade negra, toda ela, tinha dado 15 ou 20 dólares por cabeça. Nisto eu acredito, mas temos de reconhecer que não era assim que se chegava aos 600 milhões de dólares. Sabe-se que grandes empresas e empresários lhe deram muito dinheiro. E, o que é interessante, Wall Street entrou com 22 milhões de dólares, depois de ter recusado financiar Hillary Clinton. Ora, como todos temos lido e visto, os dedos acusadores da América e do Mundo têm apontado Wall Street como o alçapão onde se engendrou a crise financeira americana que se espalhou pelo mundo com crashes de bolsa, falências de bancos e indústrias, o que está originar uma taxa de desemprego nunca vista e um sofrimento inenarrável à humanidade.
Obama prometeu muito aos americanos, criou uma expectativa exagerada a seu respeito. E tem pela frente tarefas de meter medo, dentro e fora do território americano. Não duvido que tenha inteligência e vontade para resolver esses problemas, mas duvido que o possa fazer. Ao aceitar milhões para a sua campanha milionária, e arrasante, ficou nas mãos de quem pagou.
Se não cumprir o que eles querem, fica metido num grande sarilho. Mas se fizer a vontade aos pagantes e seus lobbies, tem de enfrentar multidões de pessoas decepcionadas e, o que é pior, de cabeça perdida.
Não sou eu apenas que penso assim. No país em que vivo, muitos o têm dito nas televisões e jornais. Tenho pena que seja assim, mas não estou surpreendida. Este é o jogo republicano, este é o drama das eleições presidenciais republicanas. Não unem, dividem.

quinta-feira, novembro 06, 2008

Russia, Itália e Polónia

November 5 (RIA Novosti) - The placement of short-range tactical missiles near Poland would be the best response to U.S. missile plans for Europe, a Russian military analyst said on Wednesday.

November 6 (RIA Novosti) - Russia's Oboronprom Corporation and Italy's AgustaWestland signed on Thursday an agreement to set up a joint venture to assemble AW139 helicopters in Russia.

Dmitry Medvedev no dia da eleição de Obama

MOSCOW, November 5 (RIA Novosti) - Russian President Dmitry Medvedev delivered his first state of the nation address to both houses of parliament on Wednesday.
(...)

The Russian president said in his address:

- Georgia's military offensive on South Ossetia was a consequence of policies unilaterally followed by the U.S. administration
- Russia will not give up its role in the Caucasus
- pledged that the implementation of the country's strategic programs will continue on schedule
- Russia will deploy short-range Iskander missiles in its exclave of Kaliningrad next to Poland in response to U.S. missile plans for Europe
- Russia has cancelled plans to take three missile regiments out of service in the central part of the country, in response to the U.S. missile shield plans for Europe
- Russia will use electronic warfare to counteract the U.S. missile shield
...
- the ongoing global economic crisis is no reason to nationalize domestic industries and banks
- Russia has sent its proposals on reforming the global economic system to the G20 nations
- Russia should adopt legislation on establishing the country as a global financial center by the end of the year
- Russia will continue its efforts to settle the post-Soviet conflicts over Nagorny Karabakh and Transdnestr
...
- urged a switch to the ruble in payments for gas and oil supplies
...

terça-feira, novembro 04, 2008

A importância da melanina

Dentro de poucas horas será decerto anunciado que Obama será o próximo presidente dos Estados Unidos da América.

Quem lê habitualmente este espaço, sabe que por diversas vezes foi aqui referida a muito provável eleição de Obama. A sua escolha pela oligarquia financeira começou a tornar-se-nos plausível no Verão de 2007, quando se tornou conhecida a intenção americana de acelerar a instalação do seu comando militar africano. A circunstância de, nessa altura, a influente revista Foreign Affairs ter aberto a apresentação dos "presidenciáveis" com Obama, não nos passou naturalmente despercebida. Acresce que a América tem estado em guerra e o presidente é o comandante-chefe de umas tropas cada vez mais afro-americanas, em especial entre os combatentes expedicionários.

Depois de haver claros sinais de que a oligarquia tinha escolhido o seu candidato presidencial, é claro que sempre podiam surgir imprevistos, como um assassinato, um acidente, ou uma doença súbita. Tal não aconteceu, porém, e com os dólares a cairem copiosamente no regaço de Obama, e a grande imprensa de serviço a cumprir o seu papel, chegámos ao dia de hoje, sem margem para dúvida acerca de quem será o próximo presidente. Com os americanos ainda a dirigirem-se para as urnas, uma vez mais se destaca a CNN na propaganda, com Christiane Amanpour a celebrar já a vitória, dizendo, com grande exuberância, que esta eleição mudará o mundo.

Não é certo que Obama queira ou possa mudar o mundo. Obama irá decerto limitar-se a fazer o que os outros presidentes sempre fizeram: dirá o melhor que souber os discursos que lhe mandarem dizer.

Nos dois últimos séculos, tem sido absolutamente indiferente a personalidade dos presidentes americanos. Quem sempre tem mandado na América é a referida oligarquia. Ontem escolheu Bush, tal como hoje escolhe Obama. Dispondo dos dois partidos políticos do seu sistema político (o partido republicano e o partido democrático), tem sido verdadeiramente de somenos a pessoa que sobe ao palco para o desempenho presidencial. Em regra, seja na América, seja em Portugal, não são os presidentes quem manda nas sociedades de accionistas que dominam os partidos políticos. Mas é sempre preciso encontrar alguém que vista a pele de uma mudança, de uma "esperança", sob pena de falência do sistema oligarquico.

Com a eleição de Obama, os oligarcas americanos, aqueles que tantos dólares gastaram para o fazer eleger, esperam manter o domínio sobre as forças armadas e vencer a presente guerra pelo domínio da Eurásia; com o Cáucaso, o Médio Oriente e o Northern Tier em ebulição, não se podem dar ao luxo de perder o controlo sobre o continente africano, o seu último reduto de segurança estratégica.

Eis porque, desta vez, na escolha de Obama se foi um pouco além do sempre necessário bom desempenho em palco. A circunstância de Obama memorizar e reproduzir sem grandes falhas discursos de várias páginas, ajudou, mas não foi determinante. O critério da escolha esteve precisamente na cor da sua pele. A pigmentação da pele do presidente americano adquire hoje importância política e geopolítica. E este é um facto que pode na verdade vir a marcar a entrada do mundo num novo ciclo histórico. A pigmentação da pele do presidente americano é bem um elemento capaz de libertar dinâmicas que, tarde ou cedo, acabarão por condicionar a história do mundo.

Apesar da 2ª República Portuguesa ter importado da Europa o erro colonialista que levou à sua expulsão de África, na Nação Portuguesa permanece ainda forte um ideal e uma prática multiracial, cultivada durante séculos. Eis porque os portugueses, ao menos em termos de melanina, estão bem apetrechados para enfrentar os desafios que aí vêm.

Monges no Mosteiro de Alcobaça?

A IGREJA, UNÂNIME, DIZ QUE SIM

Pediram-me, como velho amigo que sou dos monges de Cister, a minha opinião sobre o Movimento, surgido há pouco, que defende a ideia do regresso destes monges ao Mosteiro de Alcobaça.
Respondo o seguinte : Pouco sei e pouco posso dizer deste Movimento, cuja existência só agora me foi revelada, mas que merece, obviamente, pelos seus objectivos, toda a minha simpatia. Não conheço a maioria das pessoas que o encabeçam. Encontrei-me, uma ou duas vezes, com o Dr. Paulo Bernardino, uma pessoa de invulgar inteligência e grandes preocupações sociais. Do Prof. Dr. Mendo Castro Henriques, que foi meu brilhante aluno na Faculdade de Letras de Lisboa, há mais tempo ainda, guardo as melhores recordações. As outras pessoas, nunca as encontrei.
Em Setembro de 2007, numa « Carta aberta » dirigida ao Presidente da Câmara Municipal de Alcobaça, publicada no jornal O Alcoa, também eu expus a mesma ideia e as razões pelas quais o regresso dos monges se me afigurava, de facto, necessário e, até, urgente. Nessa « Carta aberta » dei ainda algumas indicações para, na minha modesta opinião, se conseguir essa finalidade mais rapidamente.
Pelo que li, o Movimento defende, grosso modo, a mesma estratégia. Só posso, pois, estar feliz por ver que a ideia do regresso dos monges tem caminhado fundo nalguns espíritos mais sensíveis a certas realidades de ordem espiritual.

A IGREJA APOIA O PROJECTO

Posso acrescentar que a hierarquia da Igreja apoia inequivocamente o projecto.
Em carta que me dirigiu recentemente, em nome do Sr. Cardeal Patriarca, D. Anacleto de Oliveira, bispo auxiliar de Lisboa encarregado da Região do Oeste, escrevia o seguinte :

« Antes de mais, sinto-me no dever de agradecer a V. Ex.a o persistente empenho com que está a lutar por uma causa a que a Igreja Diocesana de Lisboa de modo algum pode ficar alheia. Todos os seus responsáveis estão sumamente interessados no regresso dos Cistercienses a Alcobaça. Nos tempos e “ ventos ” que correm e que V. Ex.a tão bem refere, a sua presença poderá ser um purificador sopro do Espírito, para uma desejada e necessária renovação da Igreja entre nós e, por ela, da nossa sociedade. Bem haja, pois, pelo que tem escrito. Sem “ teimosos ” dificilmente se vence uma causa. »

E D. Anacleto acrescentava :

« Vou, entretanto, sabendo que não está só. Para além dos responsáveis da Igreja, ao nível diocesano e local, outras pessoas, directa ou indirectamente ligadas a Alcobaça, se manifestaram interessadas em apoiar aquilo a que já me atreveria a apelidar de campanha. Se ainda o não é, convém que o seja. »

É muito importante este apoio dos responsáveis da Igreja. Não somente é importante como é indispensável e condiciona tudo o resto.
A hierarquia da Igreja está, pois, perfeitamente consciente de que Portugal católico não se reduz a Fátima, e que, na luta tremenda que trava contra as forças da descristianização e do ateísmo, importa reforçar e revitalizar quanto antes os pontos de apoio tradicionais. Entre estes pontos de apoio tradicionais, Alcobaça é um dos mais importantes, talvez o maior, um dos mais emblemáticos em todo o caso, e um dos mais carregados de simbolismo e de história devido à qualidade dos seus fundadores e dos grandes homens que nele viveram.

MARAVILHA DA FÉ CATÓLICA

Alcobaça, antes de ser uma maravilha da arte que atrai visitantes e peregrinos do mundo inteiro, é uma maravilha da Fé católica.
As patranhas sórdidas (« templo da gula », « indivíduos boçais », etc.) espalhadas por patifes, e que criaram raízes nalguns sectores menos instruídos da sociedade, para justificar, primeiro, a extinção do Mosteiro e a expulsão dos seus monges, e, depois, a sua profanação, nunca conseguirão destruir esta realidade.
De resto, estas calúnias são um bom indício do atraso cultural, do provincianismo e, até, do fanatismo de quem as profere.
Que interesse têm certos indivíduos, evidentemente conluiados entre si, em denegrir e ridicularizar tudo o que há de mais belo, de mais nobre, de mais sagrado na história de Portugal ?
Qual é o gozo ? Onde é que isto os leva ?
Um dia, Unamuno chamou aos portugueses « um povo de suicidas ».
Será que tinha razão ?
Em todo o caso, D. Afonso Henriques e São Bernardo não fundaram Alcobaça para servir de cartaz publicitário ou de estendal comercial a marcas de cerveja ou de móveis, ou de carros, ou a promotores imobiliários.
Não fundaram Alcobaça para, no claustro e no refeitório, se passearem cavalos ou, à porta da igreja, se exibirem charlatães.
Não fundaram Alcobaça para, dentro da igreja, se venderem garrafas de álcool ou, como se viu, não há muito, na ala sul, cuecas e soutiens…
Também não fundaram Alcobaça para ser transformado em hotel de luxo (ou de charme — daí, provavelmente, as cuecas e soutiens…) para ricaços, com discotecas, piscinas e dependências especializadas. O luxo ! A farra ! A bambocha ! As mil e uma noites ! Este sonho desvairado de novos ricos, de pequenos burgueses desmiolados, estonteados pelo poder sem limite e pelo dinheiro sem controle, esquecidos do papel singular de Portugal no Mundo e do lugar único de Alcobaça na Cristandade…
Uma última palavra : estou intimamente convicto que São Bernardo não abandonou Alcobaça e que o dia se aproxima — e disso é sinal claro o surgimento deste Movimento — em que o seu Mosteiro voltará a ser o que sempre foi até 1834 : uma « oficina das boas obras », uma « escola do serviço do Senhor », um lugar santo onde o Deus de Amor será de novo louvado, adorado, glorificado sobre todas as coisas, para bem de todos nós e dos que depois de nós vierem.
Por isso, com os responsáveis da Igreja, encorajo todos os Alcobacenses fiéis à sua Fé e a uma ideia superior de Portugal a congregarem-se em torno daquele Movimento e a darem-lhe o seu abnegado e indefectível apoio.
Até ao regresso dos monges.
E também depois !


Prof. Dr. Gérard Leroux

Antigo Professor Assistente da Faculdade de Letras de Lisboa