Dentro de poucas horas será decerto anunciado que Obama será o próximo presidente dos Estados Unidos da América.
Quem lê habitualmente este espaço, sabe que por diversas vezes foi aqui referida a muito provável eleição de Obama. A sua escolha pela oligarquia financeira começou a tornar-se-nos plausível no Verão de 2007, quando se tornou conhecida a intenção americana de acelerar a instalação do seu comando militar africano. A circunstância de, nessa altura, a influente revista Foreign Affairs ter aberto a apresentação dos "presidenciáveis" com Obama, não nos passou naturalmente despercebida. Acresce que a América tem estado em guerra e o presidente é o comandante-chefe de umas tropas cada vez mais afro-americanas, em especial entre os combatentes expedicionários.
Depois de haver claros sinais de que a oligarquia tinha escolhido o seu candidato presidencial, é claro que sempre podiam surgir imprevistos, como um assassinato, um acidente, ou uma doença súbita. Tal não aconteceu, porém, e com os dólares a cairem copiosamente no regaço de Obama, e a grande imprensa de serviço a cumprir o seu papel, chegámos ao dia de hoje, sem margem para dúvida acerca de quem será o próximo presidente. Com os americanos ainda a dirigirem-se para as urnas, uma vez mais se destaca a CNN na propaganda, com Christiane Amanpour a celebrar já a vitória, dizendo, com grande exuberância, que esta eleição mudará o mundo.
Não é certo que Obama queira ou possa mudar o mundo. Obama irá decerto limitar-se a fazer o que os outros presidentes sempre fizeram: dirá o melhor que souber os discursos que lhe mandarem dizer.
Nos dois últimos séculos, tem sido absolutamente indiferente a personalidade dos presidentes americanos. Quem sempre tem mandado na América é a referida oligarquia. Ontem escolheu Bush, tal como hoje escolhe Obama. Dispondo dos dois partidos políticos do seu sistema político (o partido republicano e o partido democrático), tem sido verdadeiramente de somenos a pessoa que sobe ao palco para o desempenho presidencial. Em regra, seja na América, seja em Portugal, não são os presidentes quem manda nas sociedades de accionistas que dominam os partidos políticos. Mas é sempre preciso encontrar alguém que vista a pele de uma mudança, de uma "esperança", sob pena de falência do sistema oligarquico.
Com a eleição de Obama, os oligarcas americanos, aqueles que tantos dólares gastaram para o fazer eleger, esperam manter o domínio sobre as forças armadas e vencer a presente guerra pelo domínio da Eurásia; com o Cáucaso, o Médio Oriente e o Northern Tier em ebulição, não se podem dar ao luxo de perder o controlo sobre o continente africano, o seu último reduto de segurança estratégica.
Eis porque, desta vez, na escolha de Obama se foi um pouco além do sempre necessário bom desempenho em palco. A circunstância de Obama memorizar e reproduzir sem grandes falhas discursos de várias páginas, ajudou, mas não foi determinante. O critério da escolha esteve precisamente na cor da sua pele. A pigmentação da pele do presidente americano adquire hoje importância política e geopolítica. E este é um facto que pode na verdade vir a marcar a entrada do mundo num novo ciclo histórico. A pigmentação da pele do presidente americano é bem um elemento capaz de libertar dinâmicas que, tarde ou cedo, acabarão por condicionar a história do mundo.
Apesar da 2ª República Portuguesa ter importado da Europa o erro colonialista que levou à sua expulsão de África, na Nação Portuguesa permanece ainda forte um ideal e uma prática multiracial, cultivada durante séculos. Eis porque os portugueses, ao menos em termos de melanina, estão bem apetrechados para enfrentar os desafios que aí vêm.
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