CARTA DO CANADÁ
Fernanda Leitão
Em pouco mais de vinte anos, barões do PSD, quase todos passados pelos governos, envolveram-se em dois escândalos bancários de contornos sinistros.
Nos dias que correm, está a contas com a Justiça a equipa dirigente do BPN. Foi preso o seu homem forte, estrategicamente afastado do banco e divorciado da mulher com quem estava casado há 42 anos, para melhor garantir a posse dos bens adquiridos, enquanto um outro ex-governante apareceu a fazer a rábula do menino de coro em entrevistas várias. Ao mesmo tempo, no programa televisivo PRÓS E CONTRAS, apareceram homens que parecem dispostos a partir a loiça toda, o que, a ser verdade, vai levar mais gente às prisões. Temos folhetim garantido para uns meses.
Para já, já duas constações positivas: a Procuradoria Geral da República funcionou em pleno e o governo foi rápido a salvar os depositantes ao nacionalizar o banco.
Infelizmente, não foi o que aconteceu há vinte e tal anos quando faliu de forma fraudulenta a Caixa Económica Faialense. Largos milhares de depositantes, na sua maior parte residentes no estrangeiro, isto é, emigrantes, ficaram sem as suas economias. Houve casos em que ficaram reduzidos à miséria. Houve um suicídio e houve um emigrante que, no auge do desespero, matou o director de uma filial do banco na América do Norte, o que lhe valeu uns anos de prisão e viver depois uns anos na mais completa carência. O caso arrastou-se pelos tribunais, os emigrantes manifestaram-se em Lisboa e foram mandados espancar pelo governo social democrata da época, os emigrantes quiseram falar com a então secretária de estado das Comunidades e não foram recebidos, os ex-governantes envolvidos, de quem na emigração se dizia à boca cheia que tinham atravessado fronteiras, mais de uma vez, com malas cheias de dinheiro, foram absolvidos. A única prisão foi a do jornalista Aníbal Mendonça que, por denunciar a bandalheira, esteve mais de um ano nos calabouços da Penitenciária sem ser ouvido nem julgado. Só tarde e mal, depois de farta pancadaria na TV e em alguns jornais, acabou por ser julgado e preso, depois de ter tido tempo de sobra para pôr a salvo o que roubou, o chamado presidente daquela vergonha, um antigo açougueiro que, pelos vistos, bom compagnon de route foi para dois ex-ministros e um ex-presidente da RTP. Ficou de tudo isto a lembrança amarga de uma demissão imoral do governo e da justiça.
Tiveram sorte os depositantes do BPN e o povo em geral, esse que, com o suor do rosto, deposita as suas economias nos bancos. E que, por naturais razôes de moral básica, se acha no direito de ver respeitado o seu dinheiro. Ainda bem que, desta vez, foi assim. Para mim, que nunca tive a ver com partidos, tanto se me dá que o respeito venha do governante Zé ou do governante Manel, questão é que venha. E é isso que registo.
Dinheiro do povo é coisa séria. Uma das maiores nódoas do comunismo foi o facto de os comunistas espanhóis terem transferido o ouro depositado em bancos de Espanha para a União Soviética, e os dirigentes desta, com Estaline à cabeça, lhe terem chamado um figo. Os comunistas espanhóis perderam a guerra civil nessa hora, e para sempre, mas só tarde e mal o perceberam. Se é que perceberam, porque parecem duros de entendimento, a avaliar pelo que ouvimos aos cá de casa...
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