terça-feira, novembro 04, 2008

Monges no Mosteiro de Alcobaça?

A IGREJA, UNÂNIME, DIZ QUE SIM

Pediram-me, como velho amigo que sou dos monges de Cister, a minha opinião sobre o Movimento, surgido há pouco, que defende a ideia do regresso destes monges ao Mosteiro de Alcobaça.
Respondo o seguinte : Pouco sei e pouco posso dizer deste Movimento, cuja existência só agora me foi revelada, mas que merece, obviamente, pelos seus objectivos, toda a minha simpatia. Não conheço a maioria das pessoas que o encabeçam. Encontrei-me, uma ou duas vezes, com o Dr. Paulo Bernardino, uma pessoa de invulgar inteligência e grandes preocupações sociais. Do Prof. Dr. Mendo Castro Henriques, que foi meu brilhante aluno na Faculdade de Letras de Lisboa, há mais tempo ainda, guardo as melhores recordações. As outras pessoas, nunca as encontrei.
Em Setembro de 2007, numa « Carta aberta » dirigida ao Presidente da Câmara Municipal de Alcobaça, publicada no jornal O Alcoa, também eu expus a mesma ideia e as razões pelas quais o regresso dos monges se me afigurava, de facto, necessário e, até, urgente. Nessa « Carta aberta » dei ainda algumas indicações para, na minha modesta opinião, se conseguir essa finalidade mais rapidamente.
Pelo que li, o Movimento defende, grosso modo, a mesma estratégia. Só posso, pois, estar feliz por ver que a ideia do regresso dos monges tem caminhado fundo nalguns espíritos mais sensíveis a certas realidades de ordem espiritual.

A IGREJA APOIA O PROJECTO

Posso acrescentar que a hierarquia da Igreja apoia inequivocamente o projecto.
Em carta que me dirigiu recentemente, em nome do Sr. Cardeal Patriarca, D. Anacleto de Oliveira, bispo auxiliar de Lisboa encarregado da Região do Oeste, escrevia o seguinte :

« Antes de mais, sinto-me no dever de agradecer a V. Ex.a o persistente empenho com que está a lutar por uma causa a que a Igreja Diocesana de Lisboa de modo algum pode ficar alheia. Todos os seus responsáveis estão sumamente interessados no regresso dos Cistercienses a Alcobaça. Nos tempos e “ ventos ” que correm e que V. Ex.a tão bem refere, a sua presença poderá ser um purificador sopro do Espírito, para uma desejada e necessária renovação da Igreja entre nós e, por ela, da nossa sociedade. Bem haja, pois, pelo que tem escrito. Sem “ teimosos ” dificilmente se vence uma causa. »

E D. Anacleto acrescentava :

« Vou, entretanto, sabendo que não está só. Para além dos responsáveis da Igreja, ao nível diocesano e local, outras pessoas, directa ou indirectamente ligadas a Alcobaça, se manifestaram interessadas em apoiar aquilo a que já me atreveria a apelidar de campanha. Se ainda o não é, convém que o seja. »

É muito importante este apoio dos responsáveis da Igreja. Não somente é importante como é indispensável e condiciona tudo o resto.
A hierarquia da Igreja está, pois, perfeitamente consciente de que Portugal católico não se reduz a Fátima, e que, na luta tremenda que trava contra as forças da descristianização e do ateísmo, importa reforçar e revitalizar quanto antes os pontos de apoio tradicionais. Entre estes pontos de apoio tradicionais, Alcobaça é um dos mais importantes, talvez o maior, um dos mais emblemáticos em todo o caso, e um dos mais carregados de simbolismo e de história devido à qualidade dos seus fundadores e dos grandes homens que nele viveram.

MARAVILHA DA FÉ CATÓLICA

Alcobaça, antes de ser uma maravilha da arte que atrai visitantes e peregrinos do mundo inteiro, é uma maravilha da Fé católica.
As patranhas sórdidas (« templo da gula », « indivíduos boçais », etc.) espalhadas por patifes, e que criaram raízes nalguns sectores menos instruídos da sociedade, para justificar, primeiro, a extinção do Mosteiro e a expulsão dos seus monges, e, depois, a sua profanação, nunca conseguirão destruir esta realidade.
De resto, estas calúnias são um bom indício do atraso cultural, do provincianismo e, até, do fanatismo de quem as profere.
Que interesse têm certos indivíduos, evidentemente conluiados entre si, em denegrir e ridicularizar tudo o que há de mais belo, de mais nobre, de mais sagrado na história de Portugal ?
Qual é o gozo ? Onde é que isto os leva ?
Um dia, Unamuno chamou aos portugueses « um povo de suicidas ».
Será que tinha razão ?
Em todo o caso, D. Afonso Henriques e São Bernardo não fundaram Alcobaça para servir de cartaz publicitário ou de estendal comercial a marcas de cerveja ou de móveis, ou de carros, ou a promotores imobiliários.
Não fundaram Alcobaça para, no claustro e no refeitório, se passearem cavalos ou, à porta da igreja, se exibirem charlatães.
Não fundaram Alcobaça para, dentro da igreja, se venderem garrafas de álcool ou, como se viu, não há muito, na ala sul, cuecas e soutiens…
Também não fundaram Alcobaça para ser transformado em hotel de luxo (ou de charme — daí, provavelmente, as cuecas e soutiens…) para ricaços, com discotecas, piscinas e dependências especializadas. O luxo ! A farra ! A bambocha ! As mil e uma noites ! Este sonho desvairado de novos ricos, de pequenos burgueses desmiolados, estonteados pelo poder sem limite e pelo dinheiro sem controle, esquecidos do papel singular de Portugal no Mundo e do lugar único de Alcobaça na Cristandade…
Uma última palavra : estou intimamente convicto que São Bernardo não abandonou Alcobaça e que o dia se aproxima — e disso é sinal claro o surgimento deste Movimento — em que o seu Mosteiro voltará a ser o que sempre foi até 1834 : uma « oficina das boas obras », uma « escola do serviço do Senhor », um lugar santo onde o Deus de Amor será de novo louvado, adorado, glorificado sobre todas as coisas, para bem de todos nós e dos que depois de nós vierem.
Por isso, com os responsáveis da Igreja, encorajo todos os Alcobacenses fiéis à sua Fé e a uma ideia superior de Portugal a congregarem-se em torno daquele Movimento e a darem-lhe o seu abnegado e indefectível apoio.
Até ao regresso dos monges.
E também depois !


Prof. Dr. Gérard Leroux

Antigo Professor Assistente da Faculdade de Letras de Lisboa

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