quinta-feira, dezembro 01, 2011

Dom Duarte de Bragança - Mensagem do 1º de Dezembro de 2011



Portugal atravessa uma das maiores crises da sua longa vida. Crise que, disfarçada por enganosas facilidades, foi silenciosamente avançando assumindo hoje consequências dolorosas para as pessoas, famílias e empresas. A soberania de Portugal está gravemente ameaçada. A História, na crueza dos seus factos, revela-nos que, sempre que o País ficou enfraquecido, aumentou a vulnerabilidade à perda da sua Independência. Até a razão por que hoje aqui nos encontramos, comemorando a Restauração da Independência de Portugal, pretende, por alguns, ser desvalorizada face à ameaça de extinção do feriado evocativo do Dia que mais devia unir todos os portugueses. Sinal dos tempos…

A actual e humilhante dependência de Portugal dos credores internacionais é comparável à que resultou da crise financeira de 1890-1892, com tão graves consequências para a Nação e que levou ao fim do Regime da nossa Monarquia Democrática.

Tão importante como resolver a complexa situação interna que exige inevitáveis medidas de austeridade, é analisar as razões que nos levaram ao estado em que hoje nos encontramos. Torna-se urgente proceder, através de um amplo debate nacional, a uma rigorosa e descomplexada análise dos modelos económico e político que estiveram na origem do depauperamento do Estado. Cada vez é mais notório que os portugueses não se revêem no modelo de representatividade política em vigor. Será que o Povo se identifica com os seus formais representantes? Será que a nossa Democracia deverá ficar confinada a um modelo que já demonstrou não ser suficiente e eficaz? Porque não considerar outras formas de representação popular complementares, através de outro tipo de representantes mais directamente relacionadas com a população, por exemplo, oriundos dos Municípios, modelo este com raízes profundas nas tradições históricas e culturais de Portugal? 

Também no campo económico, necessitamos trabalhar para melhorarmos a nossa auto-suficiência, através de estímulos e incentivos para o desenvolvimento da indústria nacional e da recuperação prioritária das actividades agrícolas e relacionadas com o Mar. É inaceitável e perigoso que a maior parte dos alimentos que consumimos venha do estrangeiro!

Como repetidamente tenho alertado em anteriores Mensagens e entrevistas, no actual contexto, o aprofundamento consequente das relações culturais e económicas entre os países lusófonos, mais do que um objectivo, constitui uma verdadeira necessidade estratégica que, por natural, reúne todas as condições quer para o sucesso do desenvolvimento dos seus Estados quer para o aumento do bem-estar das suas populações. Do muito que se pode fazer neste domínio cito como exemplo a criação de um espaço económico comum aos países da CPLP, integrando a troca de bens produzidos no seu âmbito e o intercâmbio de jovens universitários ou em formação profissional. Acredito que CPLP deveria evoluir para uma Confederação de Estados Lusófonos. 

Antes da crise económica e financeira, já se encontrava instalada uma crise de ordem moral e ideológica. Os tempos são difíceis mas poderão ser mais facilmente suportáveis se os portugueses estiverem cientes de que o esforço que lhes está a ser exigido se justifica para salvar a Pátria.

É preciso mudar o estilo de vida que artificialmente foi cultivado nas últimas décadas e adequarmos os nossos hábitos à realidade do País.  Exige-se, para tal, uma rigorosa responsabilização moral que começa pelos Governantes que, mais do que nunca, devem esclarecer com verdade as suas acções, começando por informar a Nação sobre o concreto destino dos avultados financiamentos resultantes dos compromissos assumidos pelo Estado Português ao abrigo do Plano de Assistência Económica e Financeira – “As boas contas fazem os bons amigos!”

Perante a herança que as próximas gerações vão receber, é nosso dever, no mínimo, contribuir para lhes facultar as melhores ferramentas para o seu futuro e o de Portugal: educando-os e formando-os com respeito pelos princípios da honra, da responsabilidade e do amor à Pátria.

A dúvida que hoje se coloca não é a de que País vamos deixar aos nossos filhos mas sim que filhos devemos deixar ao nosso País.

Confio na força anímica que, como Povo, sempre soubemos revelar perante os desafios mais difíceis. Especialmente na nossa juventude, que bem preparada, com a sua criatividade, generosidade e determinação, conseguirá restaurar Portugal!

Acredito que os nossos governantes tirem conclusões dos erros passados e que tenham a inteligência e vontade de corrigir o que ainda for possível emendar colocando Portugal acima dos interesses partidários. Assim Deus nos ajude!

 O Chefe da Casa Real portuguesa, D. Duarte Duque de Bragança