POLÍTICA, ESTRATÉGIA E DEFESA NACIONAL
Por Virgílio de Carvalho
Os países precisam de Objectivos Nacionais Permanentes (ONP), representativos de interesse nacional inscritos na sua Constituição, para poderem ter estratégias adequadas a eles, exequíveis e sustentáveis; e também aceitáveis, isto é, que o que possa perder-se com elas seja compensável com o que possa ganhar-se.
Após a vitória das potências marítimas na Segunda Guerra Mundial, o marechal Montgomery veio propor-nos termos poder marítimo e aeromarítimo para mantermos a segurança delas no nosso mar. Não o fizemos.
E a Espanha aprestou-se a encarregar-se disso, jogando com o seu poder aéreo e naval (que inclui um porta-aviões), pondo em risco a nossa individualidade de país.
O que nos impõe lembrar que países que se têm sentido ameaçados pelos que dispõem de porta-aviões, como a URSS e a China na Guerra Fria, têm recorrido a submarinos para os manter em respeito.
E até a própria Inglaterra, que recorreu a um submarino na crise das Malvinas para, obrigando o porta-aviões argentino a quedar-se na sua base, poder ter superioridade aérea para vencer.
E nós, o único país com a individualidade em risco na União Europeia, somos o que temos tido menos submarinos.
Por o interesse nacional estar também em risco pela nossa frágil cultura (histórico-estratégica, geopolítica e militar), entendemos precisarmos de, para além de interessar universidades nela, um Colégio de Defesa (talvez no IDN), para eméritos civis (diplomatas, cientistas, empresários, políticos, jornalistas, etc.) frequentarem, em conjunto com os oficiais dos cursos superiores dos três ramos das Forças Armadas, a parte respeitante à apreciação dos cenários internacionais.
E precisamos, também, de dotar o Exército com uma força especial de intervenção externa rápida com militares tipo marine (agregando comandos, pára-quedistas e fuzileiros), a transportar por ar ou por mar.
Neste caso, a transportar pelo futuro navio logístico polivalente para cuja protecção, como para outros navios de alto valor estratégico, os submarinos são os melhores escoltadores.
União. Entretanto, com a «invasão ianque» do mar da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), do petróleo de São Tomé e Princípe e de Angola, que visa criar, com o da Nigéria e da Guiné Equatorial, alternativa segura ao do Médio Oriente (que já começou a ser finalmente posto em risco com a esperada ofensiva Ben Laden contra a governação da Arábia Saudita) é de lembrar ao Brasil o aviso do seu geopolitólogo Golbery do Couto e Silva para se juntar a Portugal, visando defender o valioso património cultural e económico da Lusofonia, inclusive a língua portuguesa.
Talvez como o Brasil fez na Segunda Guerra Mundial , aliando-se aos EUA para não lhes ceder bases, ou procurando, no mínimo, participar com Portugal na guarnição do navio logístico polivalente daquela superpotência que, com base em São Tomé e Princípe, é agora sede do comando NATO do Atlântico todo.
Acossados. É que precisamos também de defender a CPLP de «nova invasão» da África pela Europa, idêntica à provocada pela Revolução Industrial do século XIX, principalmente por França e Alemanha no âmbito do conceito geopolítico, geocultural e geoeconómico «Euro-África», para assegurarem recursos minerais e económicos naturais de que carecem.
É, no entanto, justo lembrar que os Estados Unidos da América não costumam ficar em países que têm defendido de cobiças alheias, e que o porto de abrigo para eles favorecerá a soberania santomense face aos mais perigosos adversários dela (o colosso vizinho Nigéria e a Guiné Equatorial), tal como sucede com Portugal quase-arquipelágico face à vizinha Espanha.
E que a dispersão de dependências externas de petróleo, e de outros recursos económicos, poderá levar ao aparecimento de Nova Ordem Mundial multipolar de equilíbrio global de poderes.
Uma nova ordem mundial que seja favorável à solução de conflitos graves pelo diálogo e pela diplomacia, como defendemos num dos nossos livros, e o Brasil e a própria União Europeia começaram a preconizar.
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