quinta-feira, junho 10, 2004


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Por Paulo Teixeira Pinto


I. Portugal é, de entre todos os Estados soberanos da Europa, aquele que no espaço primeiro encontrou os seus próprios limites de fronteira terrestre. E será o último a descobrir no tempo as cérceas que delimitam o fim da sua Idade. Sucede que a soberania portuguesa é, ela mesma, não apenas o selo que certifica a sua independência mas também, e em especial, a sua própria causa de ser. A soberania não se discute, como não se discute a vida. Não porque haja Estados eternos, mas porque a soberania nacional, na particular condição de Portugal, é muito mais do que um simples atributo de Estado: é a emanação de uma vontade de Nação. Portugal não é só um Estado soberano. Portugal é um Estado Nacional.

II. Portugal é uma Nação que, de frente para o mar e de costas para terra, descobriu terra para além do mar. Uma Nação que encontrou o oriente indo só para Ocidente, mas que nunca encontrará o Ocidente indo para oriente. Se Portugal virar costas ao mar desvirtuará a sua natureza e desfigurará a sua identidade. Faltando ao encontro com a sua vocação faltaria ao cumprimento da sua missão. A missão de não ser mar mas a água que há em todos os mares. Aquela que se contém inteiramente no primeiro de todos os cálices.


III. Portugal é um ancoradouro onde diversas gentes se encontraram como um só povo que se identifica com uma só língua perante a memória de uma história comum e o sonho de um futuro também comum. Portugal foi porto de partida para a Ilha dos Amores e para o Reino do Prestes João. Mas descobrir o mundo todo não seria nada se esse mundo for só o mítico nada que é tudo. O lugar português não é o da utopia. É o do mundo inteiro. De nada vale ser finis terrae se não se puder ser tottus orbis. Portugal significa universal. Portugal é o Porto do Graal.


IV. Portugal tem por destino a demanda de outros povos. Para com eles viver e com eles repartir o que nós somos. Nunca fomos menos por sermos também os outros. Mas fomos sempre mais quando demos mais. Quanto mais formos outros mais os outros serão também portugueses. A dimensão de um povo não é mensurável pelo número de coisas de que é senhor mas pela intenção e pela intensidade do que seja capaz de dar aos outros povos.

V. Portugal é um Estado e é uma Nação. Mas é também uma Mátria. Terra Mãe de demandas sem fim para no fim voltar ao princípio de outra procura infinita. Porque só o infinito é o tempo e o espaço onde cabe a universalidade. Lugar e momento daqueles que nos outros procuram o encontro consigo mesmos porque não são deste mundo nem desta época. Fizeram-nos assim. Sobrevivemos assim. Seremos ainda assim enquanto a nossa vontade nos permitir continuar assim. Até que sim. Porque o nosso fado não se chama destino mas liberdade. E então a nossa saudade esquecerá o passado e clamará pelo futuro.


dia 10 do mês de Junho de um ano de Sempre



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