domingo, fevereiro 01, 2009

Merkel no papel de Ângela

O Congresso dos EUA aprovou o plano de salvação de Obama, no valor de 820 biliões de dólares, dos quais 563 biliões se destinam a projectos de infra-estruturas. A velha receita, continua afinal muito viçosa: enterrar-se-á a depressão sob o peso de toneladas e toneladas de cimento e aço.

O que não tem sido muito notado por esse mundo fora – talvez com a excepção do Canadá - é que o uso de aço estrangeiro ficou proibido. Oh Yes, They Can... Foi-se o "hard power" de Bush, e veio o "smart power" de Obama, mas nem por isso a pancada vai fazer doer menos aos vizinhos do norte.

A China, a Índia, e a Rússia, entre outros, foram a Davos criticar o proteccionismo dos EUA. Sim, mas todos eles já tomaram medidas de protecção e, no caso da Rússia, mesmo de ataque, desde a moeda às energias.

Enquanto isto, a sra. Merkel representou em Davos o papel de Ângela, lançando um grande e eloquente apelo à concórdia universal, com muitas loas ao comércio livre e à regulação monetária internacional. O lado mais escuro das suas palavras foram dedicadas às “experiências de direcção económica” dos EUA, dizendo a dado passo, com salivosa energia teutónica, que estes estão a “distorcer o comércio” com o seu plano de salvação da indústria automóvel. É claro que a Sra. Ângela não falou do seu próprio plano para o sector, e deve ter sido por isso que l’Osservatore Romano a colocou hoje a caminho dos altares.

Quando é assim, não será preferível dar aplauso a uma francesa como a Sra. Christine Lagarde que, candidamente, foi a Davos dizer que o proteccionismo se tornou um “mal necessário”?

Não sei se a Sra. Lagarde é crente, mas folgo em saber que não é hipócrita, e acredita, como eu, crente e pecador, que há valor nos peditórios que se fazem pelas almas dos que pagam os impostos no seio da sua tribo.

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