O DESAFIO
Por Teresa Maria Martins de Carvalho
Nunca escrevi sobre futebol. Não vou ao futebol e nem o sigo na televisão ou muito menos ouço os relatos na rádio, em sonolentas tardes de Domingo. Não sei distinguir um centro de um fora de jogo. Só sei o que é um golo que é para se ganhar ou perder. Quero que ganhe Portugal (ou o Sporting...), é evidente. Mais nada.
Mas hoje escrevo. Com estes triunfos nacionais, endeusando atletas do pontapé na bola para a meter na tenda de rede, diante da qual está um fulano, cheio de angústia antes do penalty, alguma gente há, “superior às outras”, que desdenha as alturas a que chegou, no mundo, tal prática tão pouco interessante e profunda. É apenas um recreio popular, sem grande valor (apesar de manusear milhões...). Enfim, circo. Uma distracção para a plebe que não é exemplo a dar à juventude que sobe. Ser “estrela” não é meta de vida que se aconselhe a ninguém. O reverso da medalha que acompanha o “estrelato” mediático, sabendo nós a curta vida útil do atleta, pode ser terrível, com problemas de alcoolismo, depressão ou droga. Felizmente há o Figo e o Victor Baía que ajudam as crianças em perigo. Estes gestos que muitos tomam como propaganda (ah! A inveja...), aliás pegados a todas as figuras públicas mas que chamam tecnicamente de “promoção” como para os detergentes, são sempre, no entanto, gestos úteis e generosos.
Mas aqui a verdade é outra. Por menos que me interesse o futebol, há características suas, aliás semelhantes às de muitos outros desportos, que são exemplos a dar, urgentemente, à nossa juventude, a todas as juventudes e não só...
Em primeiro lugar, vem à tona da fala, o treino. Só o que esta palavra revela de disciplina, esforço, persistência, valorização pessoal, verdade (não vale a dopagem!). Vem depois, em campo, a necessidade de espírito de equipa. Já se cá sabe que uma equipa formada só por “estrelas” não leva a sítio nenhum. Logo, a humildade.
É certo que esta mão-cheia de qualidades se requerem para uma finalidade, por tanta gente considerada menor... Ou seja consiste em meter mais vezes a bola na baliza do adversário do que na nossa e ganhar o jogo. Estou a lembrar-me dos gregos que tanto glorificavam os seus atletas (Píndaro e C.ia tão bem traduzido, agora, para português). O jogo não é uma distracção vulgar pois até serve de locus philosophiae a alguns filósofos que sobre ele dissertaram, desde apontando a recriação da eternidade (o vai-vem do balouço infantil...) como pensa Gadamer até ao domínio necessário da violência social, sempre latente entre os homens, transpondo-a para uma actividade lúdica, inofensiva, opinião mais corriqueira mas nem por isso menos verdadeira.
E depois o desafio que é a meta da coragem. Nem sempre estes desafios são... Ora! Viva Portugaaaaaal !
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