PRESIDENTE DE QUÊ? DE QUEM?
por Teresa Mª Martins de Carvalho
A crise política provocada pela saída do Primeiro Ministro para Bruxelas deu ao Presidente da República ocasião para exercer o seu poder de a resolver, quer nomeando outro Primeiro Ministro, indicado pela maioria parlamentar, ou desfazer a Assembleia da República e assim convocar eleições parlamentares donde então sairia o Primeiro Ministro, conforme os resultados eleitorais.
Tal como foi justificado, a sua decisão de não convocar eleições teria por fim evitar perigosas paralisações no país quando está no começo de vir à tona económica.
Bem. Até aqui nada de especial. Pura rotina. Qual rotina, qual nada! O Partido Socialista e outros à sua esquerda começaram aos gritos. Com o desgaste de dois anos de governo difícil, a coligação governamental, segundo eles pensavam secretamente e as sondagens anunciavam, estaria com cotação eleitoral muito baixa. E era agora, rapazes, a altura de lhes cortarmos as pernas. O Presidente vai-nos dar eleições antecipadas e o nosso glorioso e laico líder Ferro Rodrigues será Primeiro Ministro porque vamos ganhar as eleições. O povo está chateado e, além disso, até podemos fazer coligações com o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda.
A coisa não deu e sucederam-se as reacções furiosas do P.S. e quejandos contra o Presidente da República. Não vale esta decisão, não vale, diziam. O Presidente está doido. Então fomos nós que o pusemos lá e agora ele não nos faz a vontade? Estava tudo à espera de eleições e ele não as quer? A gente ganhávamo-las, era certinho, e ele não quer? Traiu-nos. Nunca mais vamos votar nele... Fora o Presidente!
O que mais me chocou neste tragicómico intermédio foi exactamente estas reacções clamorosas da esquerda. Ferro Rodrigues demitiu-se porque achou que tinha sido derrotado pelo seu Presidente socialista e não quis mais. Abandonou o barco em glória partidária, num gesto intempestivo sem razões e não virá a ser chutado pelo Congresso do P. S. em Novembro.
Este sistema partidário de eleições para a Presidência da República mostra contas muito esquisitas. É suposto o Presidente da República ser o Presidente de todos os portugueses como eles gostam de afirmar, logo a seguir a serem eleitos, para disfarçarem o método que até ali os alcandorou, à mais alta magistratura da Nação... Nas alturas vertiginosas, tomam postura de Estado e, com ela, decisões que acham mais correctas, depois de ouvirem gente de todos os quadrantes. Não chega. Isso não chega. Eleito pelos partidos terá de estar ao serviço dos que o elegeram. Senão não vale.
Estávamos à espera de tudo menos desta reacção furibunda e que põe em relevo trágico o pouco que afinal representa um Presidente da República eleito por sufrágio universal. Não é presidente dos que se abstiveram, dos que votaram nulo ou em branco, dos que votaram noutros candidatos e até dos que o “elegeram” e, magoados, se revoltam com as suas decisões de chefe de Estado quando não coincidem com os seus interesses partidários.
Sampaio fez o que julgava poder fazer... Enganou-se?
Vamos retomar um velho slogan, de há anos e que está como novo. Ouçam, rapazes. “Monarquia é melhor”.
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