terça-feira, novembro 30, 2010

Mensagem do 1º de Dezembro de Dom Duarte de Bragança



Na perspectiva histórica de um País com perto de 900 anos, o penoso caminhar numa crise comparável à vivida nos tempos da I República cujo centenário este ano faustosamente se comemorou, permite-nos retirar diversas conclusões.

Comecemos pela circunstância de a República, fundada pela força que derrubou um Regime Democrático, nunca, até aos nossos dias, haver sido legitimada pelo voto popular.

Significativo é, também, o facto de o regime republicano, nas suas várias expressões, não ter tido capacidade para resolver nenhum dos problemas de que acusava a Monarquia e o facto de que as Democracias mais desenvolvidas e estáveis da Europa serem Monarquias.

As nossas três Repúblicas do séc. XX nasceram de três golpes militares após os quais os governantes se lançaram a reorganizar a sociedade, com os resultados que agora estão à vista.

Como herdeiro dos reis de Portugal, eu represento um outro princípio, o princípio da liberdade e não o da coerção. Chegou a hora de a sociedade livremente dizer que Estado quer. Em vários reinos do Norte da Europa ouvi destacados políticos afirmarem que “vivemos em República, mas o nosso Rei é o melhor defensor da nossa República”.
Deixo aqui uma mensagem aos monárquicos, aos convictos que, hoje, são a minoria mas, segundo as sondagens, serão a maioria no futuro que se aproxima.
Quero lembrar que essas sondagens chegam a referir 20%, 30% ou 40% de monárquicos, conforme as perguntas são feitas, percentagens tanto mais valiosas quanto resultam da escolha de pessoas livres e não de propagandas de partidos ou de movimentos sem transparência.

Quero agradecer-vos a generosidade, o entusiasmo, e a dedicação quando içam nas ruas a bandeira das Quinas com a Coroa e quero dizer-vos que continuarei a acompanhá-los, como sucedeu no 5 de Outubro em Guimarães, o dia da independência nacional.

A situação humilhante em que a Nação se encontra perante nós próprios e a comunidade internacional obriga-nos a reflectir sobre novos modelos de desenvolvimento económico e de vida em sociedade, inspirados no bem comum.

Com efeito, a expectativa inicial do projecto europeu que a generalidade dos membros abraçou e que se assumiu, na sua origem, como um projecto de cooperação entre Estados – com os mais ricos a ajudarem os mais pobres – corre o risco de passar, rapidamente, de miragem a tragédia, com os mais fortes a ditarem regras e a impor sanções aos mais vulneráveis.

Neste contexto de incerteza e preocupação, são, por isso, cada vez mais as vozes autorizadas que preconizam a necessidade da reforma do modelo de desenvolvimento económico global. A reactivação estratégica de uma agricultura sustentável e ecologicamente equilibrada é fundamental para enfrentarmos com segurança os desafios actuais, como há pouco tempo lembrou o Papa Bento XVI .

Precisamos de um novo modelo para conseguir maior felicidade e bem-estar com menor desperdício de recursos, que deverão ser melhor e mais justamente partilhados, para que a ninguém falte o essencial.

Havendo tantas necessidades de apoio às populações seria desejável dinamizar as antigas tradições de voluntariado, recorrendo também aos serviços dos beneficiários de subsídios do Estado, como condição para receberem esses subsídios. Receber subsídios sem dar a sua contribuição para a sociedade equivale a receber esmolas, o que não é bom.

Portugal não pode cair no desânimo a que nos conduzem os constantes e confusos acontecimentos políticos nacionais amplamente noticiados.

É fundamental acreditar no Futuro e partilhar Esperança, nunca nos esquecendo de onde viemos e para onde queremos ir.

Para isso há que cultivar os exemplos de competência, seriedade e coragem na defesa de ideais, combatendo a falta de autenticidade que, infelizmente, constitui uma das mais comuns e perversas características do nosso tempo.

Quem está na Política deve ter como primeiro e último objectivo SERVIR a Pátria e, em particular, permitir a valorização dos mais desfavorecidos.

E para esta valorização ser possível, teremos de repensar todo o nosso sistema educativo, do pré-primário ao superior, adaptando os cursos às necessidades profissionais actuais e futuras e criando – com suporte da rede de ensino privado e cooperativo – condições às famílias com menos recursos para poderem escolher os estabelecimentos que gostariam que os seus filhos frequentassem, sem que tal venha a implicar aumento de encargos para o Estado.

Tenho visitado muitas escolas onde me explicam que os programas são desajustados às realidades actuais e às saídas profissionais, e particularmente aos jovens com problemas de adaptação. O “ Cheque Ensino” seria uma solução para estes problemas, permitindo às famílias escolher a oferta escolar mais adaptada às necessidades dos seus filhos, evitando a discriminação económica actual e promovendo a qualidade do ensino através de uma saudável concorrência…

Só desta forma conseguiremos melhorar efectivamente o nível médio cultural, académico e profissional da população com vista ao progressivo desenvolvimento e engrandecimento do País e não com fim exclusivamente estatístico.

Na sua longa História, Portugal foi grande quando se lhe depararam desafios que envolveram projectos galvanizadores de verdadeira dimensão nacional. Nessas alturas, os portugueses sempre souberam responder com criatividade, entusiasmo e coragem.

Hoje, é no Mar e na Lusofonia que a nossa atenção deve ser focada como áreas de eleição para realizar um projecto de futuro para o País e para a Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa. Afinal, são estas duas vertentes que, desde o início da Expansão Marítima Portuguesa, com períodos de maior ou menor brilho, maior ou menor envolvimento, têm vindo a constituir o nosso Desígnio.

O prestigiado Jean Ziegler, meu professor em Genebra, ensinava que existem dois caminhos para desenvolver os povos. O primeiro começava pela educação profissional, académica e ética da população , que iria desenvolver o país e conduzi-lo ao enriquecimento. O segundo caminho consistia em injectar dinheiro estrangeiro na economia. Os governantes criariam grandes infra-estruturas, enriquecendo-se alguns deles no processo, e a população compraria bens de consumo importados, enriquecendo o comércio. Mas no fim, essa nação estaria endividada e a classe média empobrecida porque as capacidades de produção teriam diminuído.
Infelizmente é esta a nossa realidade recente.

Deixo para os especialistas apontarem os factores da crise que nos fustiga, fazerem os diagnósticos acertados, apontarem as vias de solução. Mas não posso deixar de dizer que é urgente arrepiarmos o caminho que nos trouxe à gravíssima crise económica e financeira que atravessamos, como venho denunciando desde há anos.

Foi justamente neste sentido que, este ano, pela segunda vez, promovi, no âmbito da Comissão D. Carlos 100 Anos, a organização do Congresso “Mares da Lusofonia”que permitiu uma participada reflexão, com representantes de todos os Países da CPLP presentes, acerca da valia dos mares e das Plataformas Continentais dos países lusófonos nas vertentes estratégica, de segurança, jurídica, ambiental, científica, tecnológica e económica.

A intensificação do intercâmbio de conhecimentos da sociedade civil e o fortalecimento das relações afectivas entre os nossos países contribuirá decisivamente para a supressão das barreiras que ainda existem.

Recentemente visitei o Brasil, pátria de minha Mãe, onde, em Brasília, tive a feliz oportunidade de contactar alguns membros do seu Governo.

Transmiti os meus sinceros votos de sucesso à recém-eleita Presidente Dilma Russef .

Percebi que lá existe uma grande abertura à ideia de uma futura Confederação de Estados Lusófonos, que muito beneficiaria todos os seus membros e cuja adesão não comprometeria as alianças regionais existentes. O facto do Reino Unido pertencer à Commonwealth não prejudica a sua participação na União Europeia mas valoriza-a.

Ainda sobre a importância da afectividade que naturalmente se cultiva na Comunidade Lusófona, virá a propósito salientar a decisão do Governo de Timor – país a que me ligam relações de profunda amizade – quando, à semanas, declarou o seu auxílio a Portugal na compra de parte da nossa dívida pública, num gesto de fraternal amizade. Do mesmo modo, tenho indicações de que muito nos beneficiaria negociar com o Brasil um empréstimo para resolver a crise da dívida pública soberana em melhores condições do que com o FMI ou a Europa.
Para concluir, gostaria de transmitir a todos os portugueses uma mensagem de ânimo:
Não vos deixeis abater pela situação de dificuldade económica e crise moral que actualmente nos invade.

Lembrai-vos que tivemos momentos bem mais graves na nossa História em que a perenidade da Instituição Real foi suporte decisivo para a recuperação conseguida.

A dinastia, baseada na família, oferece o referencial de continuidade de que Portugal está carente há cem anos.
Viva Portugal!

quinta-feira, novembro 25, 2010

Pátria e partidarite

CARTA DO CANADÁ
por Fernanda Leitão

Venho dum tempo e duma gente que tinha por divisa esta norma: Mãe é Mãe, Bandeira é Bandeira, Hino é Hino. Com esta postura queríamos significar que a Pátria não se discutia nem se atirava para o último lugar das nossas preocupações. Sobre isto ficámos democratas antes do 25 de Abril de 1974 e encarámos os partidos como agrupamentos ideológicos em que nunca nos seria pedido, muito menos exigido, que Portugal devesse ser sacrificado aos interesses mais ou menos bastardos da política. A referência do que nunca devia ser feito ou aceite era o que se tinha passado na 1ª República, essa cujos 100 anos a RTP festeja com apontamentos vários e extremamente úteis a quem não queira perder a memória nem a vergonha. Para nós, era ponto assente que nunca mais se devia repetir essa lição de crime, intolerância e estupidez.
Não nos enganámos quanto aos valores em que fomos criados, mas enganámo-nos redondamente quanto à não repetição. A República que se lhe seguiu cometeu a pouca inteligência de manter uma ditadura intolerante, que ia do Minho a Timor, com os resultados sangrentos que todos conhecemos. A chamada direita foi esse abcesso, enquanto a chamada esquerda se ia anquilosando passivamente. Abertura de espírito, nenhuma.
A ditadura caíu de pôdre sem que alguém arriscasse sequer uma unha por ela, ao fim de quase 50 anos de atraso e mau passadio que engrossou a emigração. Tomou o poder uma Junta Militar que entronizou como presidente da República o general Spínola, um homem da direita, que combateu ao lado de Franco e de Hitler. E aconteceu uma coisa que trouxe grandes custos internacionais contra Portugal: sendo o país um dos membros fundadores da NATO, havendo mesmo um comando desta em Oeiras, Spínola meteu Álvaro Cunhal no governo, quando a simples legalização do Partido Comunista chegava e sobrava. Foi aconselhado nesse sentido por dois conselheiros de estado: Isabel de Magalhães Colaço e Diogo Freitas do Amaral, co-fundador do CDS e seu presidente durante uns anos. Atónitos, os governos dos países ocidentais tomaram distâncias e reservas. Esta decisão da direita abriu as portas todas ao Partido Comunista, que logo passou a receber 10 milhões de dólares por mês da União Soviética e assim ficou habilitado a fazer todas as tropelias e crimes, devidamente acolitado por grupelhos da extrema esquerda e uns satélites, verdes e maduros. Foi tão grave que, em muitos aspectos e passado tanto tempo, o país ainda não se recompôs. Todos pensaram nos seus interesses partidários, nenhum pensou em Portugal.
Recentemente, Portugal foi escolhido para uma cimeira histórica da NATO, que teve repercussão mundial e uma cobertura mediática impressionante. Todos os estrangeiros passaram a saber onde é Portugal e ficaram com as imagens de Lisboa na memória. Os dirigentes dos 43 países presentes foram unânimes em elogiar a boa organização e o bom acolhimento. Os portugueses, residentes em Portugal e no estrangeiro, tiveram motivo de satisfação. Mas não todos. De novo a extrema esquerda e a falsa direita que por aí andam a comer à mesa do orçamento, romperam em insultos, em insinuações, em manifes de mau gosto, em silêncios de muito despeito. Quando era preciso dar ao estrangeiro uma imagem de unidade em torno da Pátria que sofre agonias, causadas por TODOS, deu este triste espectáculo.
Parece que tinha razão o meu colega Boavida Portugal quando, lá pelos idos de 1976, em comentário a um desabafo que escrevi por causa do mau comportamento da direita, ele me enviou um cartão que assim dizia: “A direita portuguesa é como a massa dos padeiros: só a murro”.

quarta-feira, outubro 06, 2010

Alocução de Dom Duarte de Bragança em 5 de Outubro 2010

Portugueses:

5 de Outubro de 1143 é uma data fundadora para Portugal. Durante quase 800 anos a vontade e a determinação do povo, firmemente ancoradas na vontade e determinação dos seus Reis, conduziram os destinos desta comunidade de sonhos, a que chamamos pátria.

Mas 5 de Outubro, agora de 1910, é também a data em que a invasão mental estrangeira ocupou Portugal.
Hoje, como sempre, falarei para todos, sem acepção ou excepção alguma.Mas hoje, como nunca, serei a voz de todos pela boca de alguns.Nenhuma das palavras que Vos irei ler me pertence, porque todas já eram pertença de todos depois de escritas por alguns de Vós. Irei ler-Vos excertos de alguns dos nossos maiores escritores. Evocando Portugal, ou retratando a república. As suas assinaturas declaram os nomes de Camões, Ramalho Ortigão, Fialho de Almeida, Eça de Queiroz, Almada Negreiros, Fernando Pessoa e Pe. António Vieira.Por isso em nome de todos a estes as agradeço.

Portentosas foram antigamente aquelas façanhas, ó Portugueses, com que descobristes novos mares e novas terras, e destes a conhecer o Mundo ao mesmo Mundo. Naqueles ditosos tempos (mas menos ditosos que os futuros) nenhuma cousa se lia no Mundo senão as navegações e conquistas de Portugueses. Esta história era o silêncio de todas as histórias. Os inimigos liam nela suas ruínas, os émulos suas invejas e só Portugal suas glórias. Mas se a história das cousas passadas (a que os sábios chamaram mestra da vida) tem esta e tantas outras utilidades necessárias ao governo e bem comum do género humano e ao particular de todos os homens, e se como tal empregaram nela sua indústria tantos sujeitos em ciência, engenho e juízo eminentes, como foram os que em todos os tempos imortalizaram a memória deles com seus escritos; porque não será igualmente útil e proveitosa, e ainda com vantagem, esta nossa História do Futuro, quanto é mais poderosa e eficaz para mover os ânimos dos homens a esperança das cousas próprias, que a memória das alheias? (Padre António Vieira)

O Partido Republicano em Portugal nunca apresentou um programa, nem verdadeiramente tem um programa. Mais ainda, nem o pode ter: porque todas as reformas que, como partido republicano, lhe cumpriria reclamar, já foram realizadas pelo liberalismo monárquico. (Eça de Queiroz)

A república francesa que implantaram em Portugal, sem nenhuns pontos de contacto com quanto em nós seja português. Nenhuma reacção do espírito progressivo a instaurou; foi um fenómeno da nossa decadência, da nossa desnacionalização. (Fernando Pessoa)

No dia 5 de Outubro, em Portugal, não havia despotismo, não havia opressão e não havia fome. Os princípios proclamados à custa de tanto sangue pela Revolução Francesa, há mais de um século, ninguém precisava de os tornar a proclamar na Avenida agora, precisamente no período histórico em que quase todos esses princípios se acham refutados pela crítica experimental e científica do nosso tempo. Os famosos princípios da Revolução Francesa, leit-motiv de toda a cantata revolucionária de [5 de] Outubro último, são, precisamente, os que vigoram em toda a política portuguesa, desde o advento da revolução liberal de 1834 até nossos dias. (Ramalho Ortigão)

Os novos revolucionários de 1910, com excepção honrosa dos que não sabem ler, não tiveram por decuriões senão os seus predecessores revolucionários liberais de 34. E daí para trás — o que quer dizer daí para cima — nunca abriram um livro. Tal a razão porque os raros homens de letras, que a nossa República conseguiu mobilizar, dia a dia se desagregam da hoste refugiando-se no anacoretismo filosófico, enojados da crassa ignorância dos sarrafaçais a que o regime os emparelhou. (Ramalho Ortigão)

É alguém capaz de indicar um benefício, por leve que seja, que nos tenha advindo da proclamação da República? Não melhorámos em administração financeira, não melhorámos em administração geral, não temos mais paz, não temos sequer mais liberdade. Na monarquia era possível insultar por escrito impresso o Rei; na república não era possível, porque era perigoso, insultar até verbalmente o Sr. Afonso Costa. (Fernando Pessoa)

Bandidos da pior espécie (muitas vezes, pessoalmente, bons rapazes e bons amigos – porque estas contradições, que aliás o não são, existem na vida), gatunos com seu quanto de ideal verdadeiro, anarquistas-natos com grandes patriotismos íntimos – de tudo isto vimos na açorda falsa que se seguiu à implantação do regímen a que, por contraste com a monarquia que o precedera, se decidiu chamar República. (Fernando Pessoa)

Este regímen é uma conspurcação espiritual. Os republicanos passaram a legislar em ditadura, fazendo em ditadura as suas leis mais importantes, e nunca as submetendo a cortes constituintes, ou a qualquer espécie de cortes. (Fernando Pessoa)

Desde a proclamação da República que em Lisboa se não faz outra coisa se não pedir. (Fialho de Almeida)

É certo que nunca as classes dirigentes se divertiram tanto em excursões de recreio, nem se banquetearam tão repetidamente, como hoje em dia. Na casa, porém, de cada cidadão, nem o imposto diminuiu nem o passadio embarateceu.Enquanto à prometida barateza a que seriam reduzidos os víveres, ao proporcional aumento a que seriam elevados os salários, ao desenvolvimento que teria o ensino e à perfeição que atingiria a disciplina da sociedade, uma vez sacudido da cerviz do povo o inconfortável jugo ominoso do regime extinto, observa-se que nunca se comeu mais caro, nunca foi mais numerosa a legião dos operários sem trabalho, nunca […] tantas propriedades foram impunemente assaltadas e destruídas como agora as redacções e as tipografias de cinco jornais. A República Portuguesa continua dando ao mundo o mais espantoso e inacreditável espectáculo: – existe! (Ramalho Ortigão)

O predomínio incondicional exercido pelas sociedades secretas em quase todos os actos do governo, como por exemplo na escolha das cores da bandeira, deposição de funcionários antigos e com direitos adquiridos, e imposição d’outros sem mais competência do que as suas cumplicidades carbonárias; Corre que outras medidas de violência serão tomadas no sentido de desarmarem pelo terror as inumeráveis massas de cidadãos que não aderiram à República. (Fialho de Almeida)

Um país não pode ficar assim toda a vida, num pátio de comédia.Quebrámos estouvadamente o fio da nossa missão histórica. Desmoralizámo-nos, enxovalhámo-nos, desaportuguesámo-nos. (Ramalho Ortigão)

Quem considerar o Reino de Portugal no tempo passado, no presente e no futuro, no passado o verá vencido, no presente ressuscitado e no futuro glorioso; e em todas estas três diferenças de tempos e estilos lhe revelou e mandou primeiro interpretar os favores e as mercês tão notáveis com que o determinava enobrecer: na primeira, fazendo-o, na segunda restituindo-o, na terceira, sublimando-o. Mas se a história das cousas passadas (a que os sábios chamaram mestra da vida) tem esta e tantas outras utilidades necessárias ao governo e bem comum do género humano e ao particular de todos os homens, e se como tal empregaram nela sua indústria tantos sujeitos em ciência, engenho e juízo eminentes, como foram os que em todos os tempos imortalizaram a memória deles com seus escritos; porque não será igualmente útil e proveitosa, e ainda com vantagem, esta nossa História do Futuro, quanto é mais poderosa e eficaz para mover os ânimos dos homens a esperança das cousas próprias, que a memória das alheias? Têm na memória que também antigamente pagavam, e que então era tributo do cativeiro o que hoje é preço da liberdade; sobretudo vêem a seu rei da sua Nação e da sua Língua, e que o têm consigo e junto a si para o requerimento da justiça, para o prémio do serviço, para o remédio da opressão, para o alívio da queixa; rei que os vê e se deixa ver; que os ouve e lhes responde; que os entende e o entendem; que os conhece e lhes sabe o nome. (Padre António Vieira)

Dispensem todas as teorias passadistas! Criem o espírito de aventura e matem todos os sentimentos passivos! Mostrem que a geração portuguesa do século XXI dispõe de toda a força criadora e construtiva!

Viva Portugal!

sexta-feira, setembro 24, 2010

A propósito

CARTA DO CANADÁ
por Fernanda Leitão

O Dr. João Granada é um mãos largas de generosidade que me estraga com atenções, como posso ver pelo último artigo da série O FOLHA DE COUVE que o Templário publicou. Aludia ele a um tempo conturbado em que, nos cafés de Lisboa, se dizia que havia em Portugal quatro homens de saias: a Vera Lagoa, a Natália Correia, a Fernanda Leitão e o Bispo do Porto (que era, então, D. António Ferreira Gomes, o prelado que ganhou o exílio e ficou para a História com uma carta a Salazar em que, pelo claro, demonstrou que o regime nada tinha de cristão e, assim, foi referência e alento para os cristãos que viviam a incomodidade de certos silêncios que Deus julgará). Por mim, assumo o pouco que fiz e valho. Sempre assumi como passo a relatar.
Em 1975 apareceram-me os velhos capitães Carlos Vilhena e Sarmento Pimentel, este ido do Brasil, a convidarem-me para um banquete da Liga Portuguesa dos Direitos do Homem. Tentei esgueirar-me, mas eles não me deram folga: ou ia ou ficavam de mal comigo. Ora eu já andava de mal com uns quantos capitães tresnoitados e parvos, não era de ficar a mal com aqueles dois velhinhos idealistas. Lá fui. O jantar foi em Alcântara. Nesse tempo a esquerda caviar fazia questão de aparecer nos sítios badalados de sapatilhas, fralda de fora e jeans rotos, creio que para parecer proletas. Eu desaguei lá toda nos trinques, como se fosse para São Carlos, que era a minha maneira de dizer, sem palavras, que não tinha nada a ver com aquela filarmónica. A receber os convidados estava um cavoberdeano da troupe do Palma Inácio, um que eu conhecia doutros carnavais, e fui direita ao assunto: “Põe-me aí numa mesa com gente de longe, que eu não conheça, porque eu vim só jantar, não vim para me chatiar”. Lá me levou. Pelo caminho pude perceber que aquele jantar parecia uma assembleia geral do PS e da maçonaria, eram só rosas e aventais por todo o lado. Mas todos muito risonhos e cumprimentadeiros. Menos Emídio Guerreiro e José Augusto Seabra, que me olharam de má sombra, e com toda a razão, porque pouco tempo antes eu tinha-lhes pregado uma partida medonha, mas isto conto doutra vez. Fica prometido.
Enfim, cheguei a uma mesa de gente do Alto Minho. Naturalmente, cumprimentei e apresentei-me. De recochete veio a exclamação de uma senhora avantajada e bem servida de idade: “Ah! É tão pequena!”. Por esse tempo, alem de não ter muita altura, eu era magríssima, de modo que respondi em jeito de Egas Moniz com o baraço ao pescoço: “Tem toda a razão, minha senhora, eu não tenho físico para uma gripe a sério quanto mais para escrever o que escrevo”. Acabámos todos a rir que é sempre o melhor remédio.
À saída, Salgado Zenha quis dar-me um abraço, não sei porquê deu-lhe para simpatizar comigo. E caímos os dois na risada, como quando nos encontrávamos, uma vez por ano, na festa de aniversário de casamento da Madalena e do Luís Maia Loureiro, que era a 1 de Dezembro por eles serem talassas.
Em suma, eu não me levo a sério porque sou uma bem pequena pessoa. O João Granada é um exagerado. Como exagerados são os da rapaziada do meu tempo de colégio, que eu guardei para toda a vida, esses de quem a minha amiga Marta Lima Basto dizia que eram “a máfia do Colégio de Tomar”. Porque, dizia ela, alem de estarmos em todo o lado, havia entre nós um não sei quê de cumplicidade. Bendita máfia...

terça-feira, agosto 24, 2010

É de cabo

CARTA DO CANADÁ

por Fernanda Leitão

Primeiro foi a lei das uniões de facto. O venerando devolveu a peça ao parlamento por lhe achar defeito num articulado menor. O parlamento, entediado e sonolento, informou que ia estudar o caso. Muitos católicos rejubilaram, esperançados que o venerando afinal tinha pulso firme e sabia o que queria.

Depois foi a lei do casamento homossexual. O venerando caíu num completo mutismo. Diziam alguns que era silêncio de mau agoiro, mas muitos católicos davam largas à esperança ao verem como o venerando quase beijava o caminho por onde pisava o Papa que não esconde como é irredutível em relação ao casamento homossexual, às uniões de facto, ao aborto, ao preservativo, aos métodos anticoncepcionais.

Regressado o Papa ao Vaticano, o venerando, no desembaraço lampeiro do que popularmente se designa por patrão fora dia santo na loja, promulgou a lei do casamento homossexual. Mas fê-lo de forma a ficar bem no retrato, julgando assim agradar a todos: no final do documento esclareceu, pelo seu punho, que dava o acordo sem concordar. Ficasse bem claro: ele não concordava, mas assinava concordando. Muitos católicos ficaram zangados.

Depois de bastante tagarelar e dormitar, o parlamento devolveu a lei das uniões de facto tendo diluído o tal articulado de menor importância de que o venerando não gostava. O venerando, um ser virtuoso que não tem dúvidas e nunca se engana, promulgou a lei. Mas deixou bem claro, no final do texto, que assinava concordando sem concordar. E ficou contente ao julgar que, mais uma vez, ficava de bem com todos.

É de cabo. De cabo Elísio, personagem de uma revista muito antiga, no Parque Mayer, de que os da minha geração ouviram contar aos mais velhos. O cabo Elísio da revista ficou célebre porque dizia sem se rir: "eu não queria fazer mas fízio, e fízio logicamente falando."

Muitos católicos estão zangados. Não vale a pena levarem esta novela a sério. Candidatos a presidentes há muitos. Escolham outro. Mais enganados não podem ser.

terça-feira, agosto 03, 2010

Querido pastel de nata

CARTA DO CANADÁ

por Fernanda Leitão


Pois bem, confesso: tenho um declarado (e descarado) fraco pelo pastel de nata, desde de que me conheço por gente.
Anos a fio, o meu pequeno almoço em Lisboa foi uma bica e um pastel de nata. A Belmira do pequeno café de esquina, no Bairro Alto, mal me via surgir na rua, olho aberto, olho fechado, punha logo em cima do balcão o pastel de nata ainda quentinho e uma bica a escaldar. Eu acordava e punha-me de bem com o mundo. E subia ligeira aquele pedacinho da Rua do Século que, raspando a porta do SNOB , praça forte de muitos jornalistas, ia desembocar no Príncipe Real. Atravessava a mítica praça onde o coração de uma avó minha parou de repente e onde, muito de manhãzinha, o Prof. Agostinho da Silva ia dar de comer aos pombos e uns dedos de conversa aos operários e varinas que começavam a faina diária. Uma vez ou outra encontrava a minha colega Maria Antónia Palla que levava pela mão o filho à escola, um rapazinho de óculos e calções que hoje é presidente da Câmara de Lisboa.
Ao fim da tarde, como quem cumpre uma promessa, desaguava no Rossio, subia a Rua do Carmo, comia regalada um pastel de nata ao balcão da mercearia Martins & Costa que o incêndio levou, subia a Rua Garrett, metia o nariz na Bertrand, atravessava a rua e parava na livraria Sá da Costa, à porta da qual se encostava o grupo de boémios capitaneado pelo cartoonist José de Lemos, do Diário Popular, e seguia para a bica na Brasileira, naquela mesa onde brilhava Tomaz de Figueiredo, Abel Manta e Jorge Barradas, às vezes visitada por Almada Negreiros e José Régio, apimentada por Jacob Levy, o banqueiro que foi um dos patrões de Fernando Pessoa, e por dois médicos judeus que nos contavam histórias de morrer a rir, o Benoliel e o Ruha. Depois de farta cavaqueira, subia com vários deles para outro lugar mítico, o restaurante Rina, no coração do Bairro Alto. E aí, entre gente dos jornais, da rádio, da TV, do fado, do teatro, das letras e da noite, jantava-se e estava-se até às tantas. Quantas vezes eu não pedia pastel de nata para sobremesa! Bons tempos em que, pele e osso, cheia de saúde, eu não tinha de me escravizar a dietas...
Quando tive de me expatriar, há 27 anos, Toronto tinha muito poucas esplanadas e nenhum café com bica à maneira quanto mais pastel de nata. O que isso me custou! Mas poucos anos depois houve uma viragem e hoje temos vários cafés e pastelarias portuguesas, com toda a nossa esplêndida doçaria . Deus seja louvado! E já o castiço Saint Lawrence Market, considerado um dos dez mais bonitos do mundo, vende pastéis de nata em três bancadas: uma portuguesa, do meu amigo Eugénio de Viana do Castelo, outra de gregos e uma de gente do leste da Europa. Vendem-se todos, todos os dias. Caíram no goto aos canadianos.
E porque eu recebo sempre mais do que mereço, eis que me vêm notícias da Expo de Xangai: os pastéis de nata venderam-se por largas dezenas de milhar e fizeram furor entre os chineses.
Meu querido pastel de nata, tão loiro, tão bronzeado, tão tímido e pequeno, és o melhor embaixador de Portugal. Bem dizia o Prof. Agostinho da Silva, visionário da Pátria a vir, quando aconselhava a que nos deixássemos de missões comerciais caríssimas e abríssemos tasquinhas pelo mundo fora, à conquista do mundo pelo paladar. O tempo veio a demonstrar que, por esse processo, é tiro e queda. 

segunda-feira, julho 12, 2010

A nódoa

CARTA do CANADÁ

por Fernanda Leitão

Sabemos o que acontece quando deixamos caír um pingo de gordura num papel ou num pano: o pingo agiganta-se e, rapidamente, alastra a toda a superfície. O papel e o pano sujam as mãos de quem lhes pega.

Acontece o mesmo com a corrupção, e é por isso que pessoas e países devem cortar-lhe o passo atempadamente e sem contemplações. As pessoas, em geral, nem dão pela corrupção feita através da “cunha”, essa que favorece uns menos habilitados e fecha à porta aos que, de facto, trabalharam e se prepararam. Nem realizam que, ao trapacearem os impostos, estão a prejudicar toda a vida pública. Nesta toada de permissividade, de ausência de espírito de justiça e de solidariedade com os cidadãos do nosso país, a coisa pública acaba por ficar empapada de esquemas, de trocas e baldrocas, até se chegar ao tráfico de influências, às inacreditáveis cambalhotas da justiça em certas ocasiões de compadrios e de um nepotismo nauseabundo que é capa e cobertura de parentes e afilhados. Fica tudo sujo e indigno de confiança, de cima a baixo do país. Vou dar um exemplo.

Uma ocasião, numa vila de província onde não ia há anos, deparei-me com uma soberba mansão, rodeada de jardim com piscina. Perguntei de quem era e responderam-me que era de Fulano, funcionário das Finanças. Pensei que lhe tinha saído o euromilhões. Que não, explicaram, Fulano só cobrava uma nota a cada pessoa, geralmente do meio rural, que ia à repartição tratar de papelada. E era muito severo nisso. Se a pessoa ia tratar de dois documentos e lhe estendia uma nota, ele cortava cerce: “meu amigo, eu durmo entre dois lençóis”. E assim por diante. Tudo isto na maior impunidade, com conhecimento de autarquia, do pároco e tutti quanti. E compreende-se, porque os exemplos vêm de cima e logo num país em que a coisa pública é coutada privada dos figurões dos partidos que se alternam no poder: ontem comias tu, agora como eu.

Dito isto, acrescento que não fiquei surpreendida com o escândalo que tem rolado nos jornais à roda de uma viagem ao Canadá, de 5 dias, paga pelo governo dos Açores à mulher do seu presidente e dois assessores. Atirou para mais de 27 mil euros e a coisa pública regional acha que valeu a pena, porque foi para honrar uma qualquer institutição feminina na província de Manitoba.

Houve quem fizesse as contas pelo muito alto e não atingiu essa soma. Chego a pensar que estes turistas da política tomaram banho em champagne ou perderam a tramontana nas compras. Mas uma coisa é garantida: pagámos nós todos. Deus sabe como há desemprego e situações de carência nos Açores. Também há medo de falar alto, como pude verificar quando por lá passei, já na vigência do actual governo: criticavam em voz baixa, contavam casos, desabafavam o medo de perder o emprego e de serem perseguidos.

Parece que é a isto que a rapaziada fina do politicamente correcto chama de défice democrático, também ela com medo de chamar os bois pelos nomes. A mulher do presidente, seja ele do Governo Regional, do Governo da República ou mesmo do Presidente da República, não tem direitos especiais consignados na constituição. Por isso não fica bem, é mesmo mal, atribuir-lhe funções públicas na área do governo, e é o caso dos Açores, ou pagar-lhe seja o que for com dinheiros públicos. A senhora em questão é uma pessoa de bem, mas foi imprudente ao aceitar ambas as coisas. A mulher de César não tem apenas de sê-lo, tem de o parecer. É dos séculos e dos livros.

Repito: não fiquei surpreendida. E tenho pena. É que já há anos ando a observar os gastos, largos e disparatados, da Direcção Regional das Comunidades. Tem sido um forró, para gáudio e benefício de penduras. Ainda há pouco tempo pagou a uma pendura continental que vive no Canadá para ir a Vancouver e à Califórnia “estudar as Festas do Espírito Santo”!!! São inúmeras as vezes que tem esbanjado meios e dinheiro a intrometer-se no ensino da língua portuguesa, que é domínio do governo da República, sem ao menos reparar que se contam pelos dedos as crianças de origem açoriana que frequentam as escolas de português. Fazia sentido, isso sim, investir na pesquisa desse fenómeno e tentar invertê-lo, assim como o abandono escolar na adolescência. Preferem, no entanto, atirar milhões ao ar como os novos ricos do volfrâmio, esses que acendiam charutos em notas de conto. Será bom para a propaganda a curto prazo, mas ao fim e ao cabo práticas destas desmoralizam o povo e empobrecem o país.

Em resumo: a corrupção em Portugal tem de ser debelada como uma doença contagiosa.

segunda-feira, junho 28, 2010

Razão e violência


CARTA DO CANADÁ

por Fernanda Leitão

            Hoje é segunda-feira, 28 de Junho. O comandante da polícia de Toronto diz-nos que foram detidos mais de 900 manifestantes ontem e anteontem, durante a realização da cimeira do G-20. Teve de ser mesmo assim.
            O Canadá gastou um bilião de dólares para receber primeiro o G-8, na paradisíaca estância de Huntsville e depois também o G-20, o dos países emergentes, no centro histórico de Toronto. Esta zona da cidade ficou praticamente isolada, com altos tapumes por todo o lado. Batalhões da polícia e tropas especiais ocuparam solo e subsolo, enquanto nuvens de helicópteros vigiavam. Os bancos, os serviços, a maior parte do comércio, fecharam portas. Os largos milhares de pessoas que aqui trabalham e vivem noutros pontos da cidade, tiveram um fim de semana prolongado.  Os residentes desta zona abasteceram-se e remeteram-se às suas casas. Uns e outros refilaram com o que nos ia custar esta reunião internacional, torceram o nariz à cidade barricada e esquisita,  acharam que as autoridades tinham exagerado.
            Na sexta-feira, desfilaram 25 mil pessoas enquadradas por sindicatos, ONGs, associações. Soube-me bem ver logo à cabeça o Craig Kilburger, um menino cuja trajectória venho acompanhar desde os seus 10 anos, altura em que o seu pequeno coração se sentiu ferido ao saber que, no mundo, há milhões de crianças escravas. Fez a sua primeira angariação de fundos, mobilizados que foram os meninos todos do seu bairro, e criou uma obra de caridade na garagem da sua casa. Nunca mais parou e hoje preside a uma organização internacional que tem remido milhares de crianças. Estar o Craig ali, logo à frente da manifestação, era um bom sinal. Seguiam-no centenas de cartazes, milhares de pessoas entoando slogans contra o capitalismo selvagem, o governo conservador do Canadá, com todo o entusiasmo e liberdade. Tocava-se música, rufavam-se tambores, exibiam-se caricaturas dos mandões do mundo. Tudo com a maior ordem.  Foi uma magnífica demonstração de democracia.
            Mas, de súbito, apareceu uma nuvem de pessoas todas vestidas de negro, de cara tapada, munidas de matracas, barras de ferro, cocktails Molotov e outras peças incendiárias. Não berravam slogans, partiam tudo o que viam à frente, incendiavam carros da polícia, pulverizavam as vidraças dos bancos, dos cafés e outros comércios. Fugiram a toda a velocidade em direcção ao parlamento e, no vasto parque que o circunda, mudaram de roupa rapidamente, para de novo se introduzirem na manifestação. Afinal as autoridades tiveram razão ao proteger o centro da cidade, sabiam o que nós não sabíamos: que havia um gang criminoso, organizado, que podia aparecer. Apareceu e mostrou bem que o G-20 foi apenas um pretexto para os seus membros darem largas à falta de respeito pelo património colectivo, aos seus instintos criminosos. Não são democratas nem apreciam a democracia, embora comam à custa dela.  Pouco inteligentes, ainda por cima. É que têm hoje por inimigos os cidadãos de Toronto, esses que choraram ao ver o que aconteceu e aí estão a exigir justiça e severidade.  Para compreenderem isto os que me lêem, direi que Toronto, sendo embora uma cidade enorme, cosmopolita, a praça financeira do Canadá, é uma cidade calma, segura, amável, em que as pessoas sorriem e se saúdam.  Vivem aqui há muitos anos pessoas oriundas de  160 países e nunca tinha acontecido uma selvajaria destas.  Portanto, é a hora da justiça. 

quarta-feira, junho 23, 2010

Pela restauração da República

Não estive em Viseu, no sábado e no domingo, no Congresso da Causa Real. Não me foi dada assim a oportunidade de confirmar publicamente as minhas crenças políticas na metapolítica do poder real e das Cortes, mas li com muita satisfação as notas que serviram de base à intervenção do homem livre José Adelino Maltez.

De todos os portugueses que nos últimos anos têm feito intervenção pública em prol da Instituição Real, vejo em José Adelino Maltez um dos meus mais próximos irmãos de ideal e de ideário. Em jeito de intróito, no entanto, julgo ser meu dever assinalar algumas diferenças.

Enquanto menino e moço, não me defini como Realista, como aconteceu a Adelino Maltez. Foi pelo estudo da História de Portugal e do Mundo que abracei o ideário Realista dos meus avós. Em idade adulta, tive a felicidade de privar assiduamente com Mário Saraiva e Henrique Barrilaro Ruas, deles recebendo, como é sabido, o pensamento e o exemplo cívico dos mestres do Integralismo Lusitano. Não admira pois que, no campo das identificações históricas, também eu me procure situar na herança de Francisco Velasco de Gouveia e de João Pinto Ribeiro - pelas Actas das Cortes de Lamego positivadas nas Cortes de 1641 – contra todos os absolutismos, pré ou pós-Pombalinos. Isto é, também eu me considero uma «alma republicana» como António Sardinha, um «liberal à antiga» como Alexandre Herculano, bem mais Neo-medievo que Modernista, mas que pode assumir sem problemas o Vintismo, o Setembrismo e a Patuleia. Não posso, porém, e de igual modo, assumir a Carta e o desembarque no Mindelo dos mercenários ingleses pagos pelo empréstimo de Mendizabal. Admito que tenho um fraco (estético) pela bandeira azul e branca, mas defino-me politicamente no ideário da bandeira branca da Restauração.

E foi também por via dos mestres integralistas que bebi a admiração pela sagrada trilogia da Pátria: Nun'Álvares, Infante D. Henrique e Luís de Camões. Não sendo Sebastianófilo, sou também sem dúvida Sebastianista.

Mas isso são águas passadas e julgo que a via de solução para o actual problema português está muito bem colocado nas palavras de Adelino Maltez: a nossa prioridade deve estar na restauração da República. Se não restaurarmos a República, devolvendo-a ao povo e subtraindo-a ao controlo das oligarquias partidárias, não será possível eleger a Dinastia que servirá a continuidade da Pátria.

Não sendo a primeira vez que me refiro a este aspecto fulcral da solução para a crise portuguesa, é pois com muito agrado que verifico não estar afinal a "pregar no deserto". Infelizmente, porém, divergimos ainda quanto à panóplia de métodos a aplicar. Esta é uma divergência importante e que merece ser debatida.

Tal como Adelino Maltez, sou tradicionalista mas, tal com entendo o tradicionalismo, não me situo no campo do conservadorismo, antes no campo da renovação. E é por ser tradicionalista, e como tal, não conservador, que posso, sob certas condições, ser forçado a definir-me como revolucionário. Não em defesa de uma "revolução ao contrário", antes de uma revolução que vivifique a Tradição, levando-nos p'ra diante... Não concebo a Tradição sem a mudança. A Tradição é o que permanece na mudança. Entendo que actuar como um "revolucionário" ou como um "reformista" não depende do tradicionalista, depende da natureza da resistência que o conservadorismo opuser à mudança necessária à vivificação da Tradição.

Tradição é sempre renovação e, em Portugal, esta tem encontrado amiúde obstáculos difíceis de vencer. Tal como Adelino Maltez, também eu estou de mal com o situacionismo. É esse o nosso principal adversário. Entendo, porém, que o situacionismo é, por definição, conservador. Ou não seria situacionismo. Hoje, em Portugal, o obstáculo maior à renovação é na verdade o situacionismo, ou seja, essa interesseira acomodação ao usufruto do poder que domina o grosso do pessoal político das chamadas «esquerdas» e das «direitas» partidárias.

Evitar as revoluções, como preconiza Adelino Maltez, é sem dúvida um preceito do ideário tradicionalista. "Evitar" não deve porém significar virar completamente as costas à possibilidade de uma revolução. A alternativa «Revolução» ou «Reforma» não depende das forças da renovação, depende sim da modalidade de resistência que o situacionismo oferecer. Olhando ao caminho que tem vindo a ser trilhado pelo situacionismo, julgo que não é de afastar a hipótese da Pátria se vir a encontrar, a breve trecho, em manifesto perigo de vida. E, se a Pátria estiver em perigo e a resistência à sua defesa for violenta por parte dos situacionistas, vamos ficar de braços cruzados? É claro que não. E os federalistas europeus e os iberistas devem saber da nossa determinação em lhes dar combate, se necessário pela via revolucionária.

Para proveito de todos, aí ficam as palavras de Adelino Maltez que suscitaram este intróito e estas breves reflexões:

(JMQ)


"Claro que, como tradicionalista, sou contra os reaccionários e, como conservador, sou contra os revolucionários e os contra-revolucionários, seus irmãos-inimigos, os que querem uma revolução ao contrário, mesmo que seja o que dizem ser, ou ter sido, uma revolução nacional...

De mal com certa esquerda por ser monárquico e de mal com certa direita por ser liberal, sou, como sempre fui, por amor de el-rei e da pátria, disposto a restaurar a república, para, em cortes, poder reeleger um rei...

De mal com o situacionismo, por ser do contra, também sou contra as oposições que se iludem com a febre das revoluções, porque sou mesmo contra as revoluções que não sejam revoluções evitadas...

Aliás, sou tão tradicionalista que certos membros da ortodoxia ultramontana, a ala dos ditos catolaicos, me diabolizam como herético, panteísta e relativista.

Confesso ser um homem religioso (Régio dixit) e que não faço parte dos ateus estúpidos e das cliques libertinas (ainda sigo Anderson). Isto é, continuo tão tradicionalista que reinvindica uma tradição mais antiga do que a do ano um...a que não tem o privilégio de uma religião revelada pelos povos ditos do Livro.

Liberal à antiga, assumo o vintismo e o cartismo, desembarcaria no Mindelo, defenderia o setembrismo e entraria na patuleia como histórico, embora prefira o Pacto da Granja com os reformistas...

Continuo disposto a militar no partido do Passos, de Sá da Bandeira, de José Estêvão, de Anselmo e Luís Magalhães. Por outras palavras, mantenho orgulhosamente a fidelidade azul e branca, dos liberdadeiros e da liberdade que, sem ser por acaso, também foi a bandeira da Europa e do projecto de Quinto Império do Padre Vieira...

Menino e moço, me assumi como tal, seguindo o exemplo cívico de um Henrique Barrilaro Ruas, de um Rolão Preto, de um João Camossa, que me ensinaram a detestar o despotismo ministerialista da salazarquia. E com tais exemplos, continuámos contra outros despotismos, mesmo os iluminados pela desculpa da ideologia, sempre em nome de pretensos amanhãs que cantam.

Aliás, salazarquia sempre foi aquilo que um dia disse Almada: "foi substituído Portugal pelo nacionalismo que apenas foi uma maneira de acabar com os partidos..."

E com tipos como o Luís Almeida Braga fui bebendo aquela profunda tradição regeneradora que nos deu o consensualismo anti-absolutista, coisa que em inglês se diz pluralismo e guildismo e que é o cimento fundamental das revoluções evitadas daquela revolução atlântica que nos deu o presente demoliberalismo...

E comungando no estoicismo de Herculano, era capaz de voltar a subscrever o Manifesto de Dezembro de 1820, da autoria de D. Francisco, o futuro Cardeal Saraiva, seguidor de Cádiz e Martínez Marina, dessa bela aliança peninsular contra o usurpador, como praticámos na Restauração de 1808...

Procuro retomar as teses expressas no Código de Direito Público de António Ribeiro dos Santos, seguido por Palmela, por Silvestre Pinheiro Ferreira e pelas tentativas constitucionais históricas e cartistas do governo de D. João VI...

Assumo a herança de Francisco Velasco Gouveia e de João Pinto Ribeiro e detesto as tentativas absolutistas de Pascoal e de Penalva. Prefiro as chamadas Alegações de Direito de 1579, em favor Dona Catarina e, naturalmente, prefiro a síntese das Actas das Cortes de Lamego, positivadas pelas Cortes de 1641

Porque na base está a Constituição política das Cortes de Coimbra de 1385, expressas por João das Regras e desenvolvidas pelas teorias da Casa de Aviz, principalmente na Virtuosa Benfeitoria do Infante Dom Pedro, duque de Coimbra

Claro que me entusiasmam os exemplos cívicos de Sá da Bandeira contra os devoristas e os esclavagistas, ou Herculano, pela regeneração e pela descentralização, contra os cabrais. E iria para a Patuleia não deixando morrer em vão Luís da Silva Mousinho de Albuquerque...

Tal como resistiria por D. Manuel II, como Paiva Couceiro, o mesmo que foi um dos primeiros desterrados por Salazar, por denunciar a estúpida política do Acto Colonial, no que se irmanou com Norton de Matos...

Até estaria com Rolão Preto, Almeida Braga e Vieira de Almeida ao lado de Delgado, como estive com Barrilaro, Gonçalo, Camossa e Rolão Preto, em defesa da democracia de Abril...

Mas não esqueceria a armilar mesmo depois da descolonização, como tem feito o duque de Bragança, até por Timor, na senda das perspectivas de um Luís Filipe Reis Tomás...

A fé na bandeira azul e branca, sem recusa da que é hoje o símbolo nacional e daquela armilar que esteve na base simbólica do Reino Unido de 1816, nessa herança de D. João II, da esfera, da espera, da esperança, para que o abraço armilar possa semear futuro...

Daí não poder ser anti-republicano, porque sou, além de republicano, monárquico, querendo como o título de um livro dos finais do século XV, de Diogo Lopes Rebeleo: "De Republica Gubernanda per Regem"...

Importa restaurar a república para que se refaça a comunidade política, esse concelho em ponto grande, como disse o Infante Dom Pedro, onde o príncipe deve aliar-se à comunidade da sua terra, para que a política possa regenerar-se em coisa pública, com bem comum e saudades de futuro...

O caminho da restauração da república pode reforçar-se com a eleição do rei por consenso nacional, nomeadamente como bandeira contra a desertificação do país das realidades contra o país nominal (Herculano dixit), até para podermos voltar ao mar-oceano com os pés na terra, contra o centralismo capitaleiro de Pombal, Fontes, Afonso Costa, Salazar, Soares e Cavaco Silva...



http://tempoquepassa.blogspot.com/2010/06/discurso-faccioso-e-tribal-proferido.html

sábado, junho 19, 2010

O declínio da Europa

por ANSELMO BORGES

Não faz falta o pessimismo para sentir perplexidade e desalento face ao futuro da Europa. Jorge Semprún, por exemplo, esse grande espírito europeu, não sabe se o euro vai desaparecer, mas diz que é possível que desapareçam várias aquisições e teme o pior, pois precisamente "o pior é possível, incluindo a desarticulação europeia". E proclama: depois do esgotamento da luta contra o passado nazi e fascista, de um lado, e contra o totalitarismo estalinista, do outro, "a Europa precisa de um novo motor ideológico e moral".

Donde vem a crise? Já em 1918, Oswald Spengler escreveu a obra polemicamente célebre: A decadência do Ocidente. De modo agudo, o eminente filósofo Edmund Husserl pronunciou, em Maio de 1935, em Viena, uma conferência famosa, subordinada ao tema A crise da humanidade europeia e a filosofia. A crise, segundo ele, deriva do positivismo, portanto, da redução das ciências ao puro conhecimento dos factos, esquecendo a subjectividade. Esta crise das ciências exprime a crise ético-política, dos valores e do sentido. A ciência positivista nada tem para dizer-nos: "As questões que ela exclui por princípio são precisamente as questões mais escaldantes na nossa época desgraçada para uma humanidade abandonada aos sobressaltos do destino: são as questões que dizem respeito ao sentido ou ausência de sentido de toda esta existência humana."

Claro que a nossa crise europeia tem a ver com a crise económico-financeira mundial, com a chegada ao palco da história dos países emergentes, como a China, a Índia, a Rússia, o Brasil, a África do Sul, com problemas globais que só poderão encontrar solução no quadro de uma governança global. Mas o que tem feito a União Europeia para se tornar uma real União, com um projecto sólido económico-político, e não simples consórcio de negócios? Sobretudo, onde está a alma da Europa e os valores capazes de a cimentarem?

Como escreveu Theodor Dal- rymple, em Março passado, em The American Conservative, "num certo sentido, a Europa nunca esteve tão bem. Os progressos em termos de saúde e de riqueza foram prodigiosos. Apesar destes êxitos, há como que uma atmosfera de declínio. Os europeus, que nunca foram tão prósperos, olham para o futuro com temor, como se tivessem uma doença oculta que ainda se não tivesse manifestado mas devorasse já os seus órgãos vitais. Deus morreu na Europa e a sua ressurreição é pouco provável, excepto talvez na sequência de uma catástrofe. No entanto, nem tudo foi perdido na atitude religiosa. Cada indivíduo vê-se sempre como um ser único na sua importância, mas já não tem esse contrapeso da humildade própria de quem se sente um dever para com o seu Criador. Acima de tudo, a maior parte dos europeus já não crê num grande projecto político. Este miserabilismo leva a uma mistura de indiferença e de ódio face ao passado." E, depois de se interrogar sobre se os americanos terão algo a aprender com tudo isto, o autor conclui: "Uma sociedade moderna sã deve saber tanto manter-se como mudar, tanto conservar como reformar. A Europa mudou sem saber conservar: essa é a sua tragédia."

Com a morte de Deus, criou-se um vazio. Os europeus instalaram-se no ter e no prazer. Sem Deus, onde está o sentido que dá unidade? Não se pode esquecer o que já Nietzsche anteviu. O louco, em A Gaia Ciência, proclama "a grandiosidade do acto" de matar Deus, mas também pergunta: "Para onde vamos nós? Para longe de todos os sóis? Será que ainda existe um em cima de um em baixo? Não andaremos errantes através de um nada infinito? Não estará a ser noite para todo o sempre, e cada vez mais noite?" E Nietzsche, ele mesmo, sete anos antes de se afundar na noite da loucura, escreveu a Ida, mulher do seu amigo Overbeck, advertindo-a para que não abandonasse a ideia de Deus: "Eu abandonei-a, quero criar algo de novo, e não posso nem quero voltar atrás. Desmorono-me continuamente, mas não me importa". Sem Deus nem eternidade, na ditadura do presentismo consumista, hedonista, individualista, apenas restam instantes que se devoram na voragem do efémero.


in DN, 19 de Junho de 2010.

segunda-feira, junho 14, 2010

As palavras

por Fernanda Leitão

Podermos articular palavras e podermos rir, eis um dom de Deus que nos distingue de todos os animais da criação. Mas porque fomos criados para ser livres, a nossa responsabilidade em relação às palavras e ao riso é enorme. É que mal usados, ambos podem ser armas e até mortais. Com as palavras, através dos séculos, se fizeram guerras e se promoveu a paz, se ergueram  e destruíram impérios, se endeusaram e assassinaram a reputação de pessoas.  Com o riso se salvaram horas negras e se envenenaram vidas.
Todo o cuidado com as palavras é pouco, porque as palavras têm esquinas.
Devia ter tido mais cuidado com as palavras o Presidente da República, no seu discurso do 10 de Junho. Afirmar categoricamente – com o mesmo ar impositivo com que em tempos declarou nunca se enganar nem ter dúvidas – que o nosso país está numa situação “insustentável”, talvez seja um argumento correntio na demagogia partidária quando há eleições à vista, mas é um mau serviço prestado a Portugal. É um convite aos credores internacionais, aos malfadados agentes da finança internacional, à cruel imprensa internacional, para que se teçam ainda mais obstáculos, intrigas  e desconfianças contra a nossa pátria.  Provavelmente Cavaco Silva não utilizou a palavra com má fé, mas fê-lo seguramente por ignorar o peso negativo dessa palavra.  Oscar Wilde dizia que “os economistas sabem o preço de tudo e não sabem o valor de nada”.  É bem capaz de ter razão.

Este incidente infeliz vem juntar-se a outros que, somados, fazem deste primeiro mandato de Cavaco Silva um período lastimável e sem valia para a nação. Desde a gritante cobertura  a Dias Loureiro, que em qualquer país civilizado teria sido afastado imediatamente do Conselho de Estado, até à nauseante intriga das escutas, passando pelo funesto entendimento com Manuela Ferreira Leite, e ainda pela humilhação feita a Portugal na sua visita de estado à República Checa, Cavaco Silva tem vindo a demonstrar não estar preparado para o cargo que ocupa.  A cereja em cima do gelatinoso bolo presidencial foi a sua solicitude subserviente perante o Papa Bento XVI logo seguida de não ter vetado a lei do casamento de pessoas do mesmo sexo, como lhe competia enquanto católico, mas que pelos vistos pouco convinha ao seu militantismo partidário e aos seus interesses eleitorais.  Pessoalmente, eu sou a favor da união de facto, oficialmente registada e com todos os direitos inerentes, com todo o respeito inerente, para pessoas do mesmo sexo que queiram juntar as suas vidas. Penso que foi uma má ideia a utilização de uma instituição milenar e que não respeitar essa regra trará grandes problemas em Portugal. No entanto, eu vivo num país que legislou o casamento de pessoas do mesmo sexo há 10 anos ou mais,  contra o parecer da Igreja Católica, de algumas confissões cristãs e dos muçulmanos, e tudo isto se passou, e passa,  sem barulho, sem insultos, sem exibições de mau gosto. Sabemos que uma minoria do país utiliza essa facilidade legal, mas não há sobressaltos, cada um dá à sua vida o rumo que entende e responde por isso.  É outra educação. É outra cultura. Mas a verdade é que os políticos que tomaram essa decisão não se andaram a exibir publicamente ao lado da  hierarquia da Igreja, isto é, não enganaram ninguém.  Cavaco Silva, mal comparado, foi como aqueles cavalos altivos e emproados que, nas competições, cavalga bem mas, quando chegam ao obstáculo, borregam.
            É a República. C´est la vie.

sábado, maio 29, 2010

Portugal está numa situação crítica

A PAU COM A ESCRITA
Fernanda leitão


Há elites positivas e negativas. Portugal somou três elites negativas no espaço de um século: a 1ª República, jacobina e farsante; a 2ª República, salazarista, pidesca e atrasada; finalmente, a 3ª República, entreguista, corrupta e boçal. Tudo somado, o país foi atirado para a beira do abismo.



Portugal está numa situação crítica, económica, financeira e socialmente falando.
Dizem os agitadores de todos os tempos que os povos insatisfeitos fazem revoluções. Não é verdade. As revoluções são feitas por um grupo, uma elite que sabe aproveitar o descontentamento do povo para implantar a sua ideologia. E este, ansioso e emocionado, crédulo e de boa fé, vai atrás do movimento de alguns. Foi assim na Revolução Francesa, na Revolução Russa, na Guerra de Espanha, na Revolução Cubana e, por fim, na Revolução Portuguesa. Na maior parte dos casos, as revoluções de alguns acabaram num banho de sangue para todos. Portugal, que é país de brandos costumes, sem vocação para toiros de morte, com um povo que bate as palmas aos toiros e foge da polícia, sem pena de morte mas com pena de vida, teve o banho de sangue em África e em Timor, longe da vista, ficando pacatamente o território europeu por um banho de lama. Por lama se entendendo a corrupção, o roubo, a incompetência, a mediocridade, a mentira, a traição, o completo desrespeito pelos dinheiros públicos e pela sorte do povo.
Temos, pois, que há elites positivas e negativas. Portugal somou três elites negativas no espaço de um século: a 1ª República, jacobina e farsante; a 2ª República, salazarista, pidesca e atrasada; finalmente, a 3ª República, entreguista, corrupta e boçal. Tudo somado, o país foi atirado para a beira do abismo. A classe política e seu aderente jet set agitam-se loucamente em chicanas, a dar razão a Guerra Junqueiro quando, na 1ª República, disse que essa agitação lhe parecia de “percevejos numa enxerga podre” . E o povo, aflito, desnorteado, desempregado e sem horizontes, não acredita na coisa pública. Levanta os olhos para Deus, geme fados e vai-se consolando com o futebol.
A Emigração portuguesa é a resposta desse povo mal amado e mal tratado aos seus dirigentes nacionais. Todos os milhões que, de coração partido, rumaram a outros países em busca de uma vida digna e de uma merecida paz de espírito, sabem que assim foi porque lhes faltou a elite positiva que acertasse as contas dentro do país e evitasse esta hemorragia secular de pessoas que tem vindo a desertificar o interior de Portugal e a debilitar a coesão nacional.
Mas a pouca sorte dos portugueses é tanta que, mesmo vivendo longe da Pátria, são constantemente assediados por políticos de torna viagem que lhes prometem tudo sem cumprirem nada, por representações bancárias que cortejam avidamente as poupanças dos emigrantes, a quem nunca garantiram a multiplicação do seu dinheiro no tecido empresarial do país, por representações diplomáticas que, na maior parte dos casos, são trampolins de carreira e não entendem minimamente os emigrantes.
É óbvio que Portugal deixou de poder dispor de dinheiro para apoiar o que, de facto, mais urge de apoio: as escolas de português e os serviços de promoção do turismo e dos produtos portugueses. Não adiantam as acusações e as lamúrias. Este é o momento de as comunidades mostrarem o seu espírito criativo, a sua capacidade de emancipação em relação ao centralismo longínquo. As comunidades emigrantes foram capazes de erguer os seus clubes e associações, o seu mercado da saudade, as suas escolas, os seus centros de apoio social, e por isso se espera agora que saibam dar-se as mãos e trabalharem em conjunto, pela manutenção da Língua, da Cultura e das Tradições, sem que os seus responsáveis estejam de mão estendida para Portugal numa subsídio-dependência que em nada contribuiu para a maturidade lusa no estrangeiro. As comunidades são adultas e têm de comportar-se como tal. Será a maneira de melhor ajudarem Portugal nesta hora. E só assim terão voz autorizada para dizerem aos senhores de Lisboa, e seus representantes, o que deve ser dito.
Assim sendo, será de questionar a quantidade de dinheiro que o departamento das comunidades do Governo dos Açores continua a esbanjar com promoções político-partidárias, com viagens e cursos de duvidosa utilidade de que têm beneficiado sempre os mesmos amigos e afilhados, a pretexto de ajudarem as escolas portuguesas, onde o número de estudantes de origem açoriana é residual, ou de protecção à cultura, sob a forma da publicação de livros que chovem no molhado, portanto inúteis, e ainda por cima escritos de forma a maltratarem a língua portuguesa. Nos Açores não há minas de dinheiro, os Açores fazem parte do todo nacional e por isso não podem exibir este despesismo sem sentido e insultuoso daqueles que, na Região Autónoma, sofrem carências. Nos Açores, Madeira e Portugal Continental, ou comem todos ou não há moralidade.
As comunidades emigradas têm o dever, nesta hora difícil, de repensarem a sua vida social e de substituírem os inúteis pelos úteis, os interesseiros pelos interessados, os corruptos pelos de mãos limpas.

quarta-feira, maio 19, 2010

Podemos pagar a república?

por Dom Vasco Teles da Gama

No extremo ocidental de uma Europa em decadência moral e em pré-falência económica, com uma moeda a enfraquecer em resultado da irresponsabilidade de alguns europeus, bem como de efeitos gerados pela globalização, somos, mais uma vez, obrigados a apertar o cinto.

Graças ao regabofe instalado pelos medíocres políticos que esta terceira república nos tem oferecido, só à classe média, que somos quase todos, se pedem os sacrifícios, enquanto os responsáveis pelo estado a que chegámos acumulam cargos em empresas públicas e arrecadam chorudas reformas, pagas pelo orçamento do Estado.

Autores das leis em que se auto-atribuem escandalosas prerrogativas, saltam, dentro da Lei, de alguns anos de subserviente e obscura passagem pelo Parlamento, para a vereação de uma qualquer Câmara Municipal e daí por nomeação, para um qualquer “tacho”, sejam Institutos, Fundações, Entidades Reguladoras ou Empresas Municipais ou Estatais, cujos ordenados ou reformas ainda conseguem complementar, se tiverem uma licenciatura (mesmo que tirada ao Domingo), com o rendimento de umas aulas numa qualquer universidade privada, das muitas que antes haviam criado, para lançarem doutores analfabetos num mercado de trabalho que deles não precisa.

Como é possível que se tenham afectado dez milhões de Euros à comemoração do centenário disto, que nos vem endividando todos os dias há vários anos, depois de terem vendido o ouro que o Estado Novo acumulou, com o sacrifício de várias gerações e que nestes cem anos, nos brindou com turbulência política, perseguições à Igreja, várias ditaduras, desde a do General Pimenta de Castro à loucura do Vasco Gonçalves, sempre propagando a falácia de que qualquer português pode ser eleito Chefe de Estado. Alguém ainda acredita nisso?

O problema é que temos todos que ver aumentar os impostos, para continuarmos a pagar as reformas douradas destes biltres e ainda as regalias legais de todos os que já foram Presidentes, além dos custos astronómicos das campanhas eleitorais, que dividem os Portugueses de cinco em cinco anos. Temos tido a instintiva sabedoria de reeleger, até hoje, todos os Presidentes, o que nos reduz os custos a três reformados e um ainda no activo.

Mas seremos tão ricos que nos possamos dar a este luxo, mesmo sabendo que a Monarquia, que nos serviu durante tantos e gloriosos séculos, para além de todas as vantagens, quer na regulação independente do exercício do poder político e militar, quer na representação externa, teria, sem dividir periodicamente os Portugueses, um custo bastante inferior?

in Diário Digital, 18-Mai-2010)

terça-feira, maio 18, 2010

Os filhos da viúva

O Senado dos EUA aprovou uma Emenda restringindo a transferência de fundos federais para salvar Estados estrangeiros.

http://cornyn.senate.gov/public/?a=Files.Serve&File_id=a06cc378-d824-4a41-b1fe-3cf254a73316

Há quem lhe chame "European Bailout Protection Act" porque o que os EUA estão a dizer é bem claro: têm que ser os Estados europeus e o BCE a resolverem o problema das dívidas publicas na Europa. Ora, hoje, são os bancos alemães e franceses que detêm a maior fatia das centenas de biliões de euros de dívida pública e privada dos "Pigs" (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha).

Para os EUA, a dívida pública da Grécia é preocupante, mas é a dívida da Espanha que pode ameaçar seriamente a sua economia. Segundo o BIS (Bank for International Settlements), os bancos franceses detêm mais de 200 biliões de euros só em Espanha. Não recuperar esse dinheiro seria um desastre para os bancos franceses e, consequentemente, para os EUA: os bancos franceses são os que mais emitem no seu mercado de fundos. Em síntese e na perspectiva dos EUA, a Grécia pode entrar em falência e sair do Euro, mas não a Espanha (incluindo o protectorado português), por causa dos bancos franceses. Protegendo a Espanha, os EUA protegem-se a si mesmos. E é por isso que crescem agora as vozes que dizem que salvar a Grécia é uma "missão impossível".

Perante a hipótese de saída da Grécia da zona euro, os EUA confiam afinal mais nas "instituições europeias" do que muitos "europeus". Existe já um receituário. A proposta de Jacques Mélitz - fazer do BCE o supervisor dos bancos na zona do euro, com poder para emprestar e taxar os seus futuros "chartered banks" - casa bem com o "European Bailout Protection Act" agora aprovado e com a proposta hoje mesmo apresentada por Martin Feldstein: o BCE deverá comprar as obrigações dos "Pigs" e ajudar os bancos da zona euro (ele está a pensar sobretudo nos bancos franceses, é claro) a "digerir" o que têm no bandulho.

http://www.cepr.org/pubs/PolicyInsights/PolicyInsight48.pdf

O Americano Martin Feldstein sugere também aos europeus, naturalmente, o caminho político federal para a Europa.

http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2010/05/17/AR2010051702808.html

Curiosamente, descartando também a Grécia da zona euro, o britânico Evans-Pritchard lembrou-se hoje do regime dos protectorados do século XIX, referindo-se explicitamente às "Linhas de Torres Vedras" (Guerra Peninsular) organizadas pelo duque de Wellington:

"The IMF-EU should instead have drawn up its defences in Iberia, along the Lines of Torres Vedras – to borrow from Wellington. Portugal and Spain are at least defensible – arguably – and more deserving."

http://blogs.telegraph.co.uk/finance/ambroseevans-pritchard/100005734/congress-blocks-indiscriminate-imf-aid-for-europe/

Sorte a nossa, sermos afinal ainda merecedores de protecção. Para que os ruminantes europeus continuem a pastar por aqui, os EUA contam naturalmente também com a cultura ainda predominantemente cristã dos Ibéricos. O preceito cristão não é o de pagar sempre as dívidas, mês após mês e custe o que custar?

Nestes dias de crise e incerteza é pois uma vantagem ser cristão e, sobretudo, católico-romano. O que não deixa também de casar bem com os nossos governos teístas: todas as suas esperanças estão hoje no Supremo Arquitecto Europeu, que não deixará decerto de providenciar um marido abastado às nossas viúvas e uma vida confortável aos nossos filhos.


quinta-feira, maio 13, 2010

Cumpra-se a História


CARTA DO CANADÁ
Fernanda Leitão

            Um amigo fez-me chegar a notícia de um grupo de tomarenses que, estando em Ponta Delgada para assistir às Festas do Senhor Santo Cristo, transmitiu à presidente da Câmara local o convite do seu homólogo de Tomar para participar das Festas dos Tabuleiros a realizar em Julho de 2011.  Fiquei  contente com este pequeno passo e já explico porquê: porque há muitos anos sonho com uma larga participação de açorianos, residentes na Região Autónoma e em vários países estrangeiros,  naquela que é, de quatro em quatro anos, a maior celebração em honra do Senhor Espírito Santo no continente.
            Logo se percebe donde me vem o sonho, se pensarmos que Tomar foi sede da Ordem de Cristo, chefiada pelo Infante Dom Henrique, e que foi daqui que houve dinheiro para as Descobertas.  Daqui saíram muitos homens para a grande aventura.  Homens que, garantidamente, levaram consigo o culto do Espírito Santo e o plantaram de raiz nos Açores e na Madeira.  Culto de transcendente importância, criado por São Francisco de Assis, a figura providencial que valeu à Igreja na Idade Média, tão maltratada ela andava por clérigos e leigos. Só o Amor podia fazer o milagre de uma redenção e, por isso, São Francisco de Assis apelou ao Espírito Santo.  Frades franciscanos levaram o culto para Portugal e em boas mãos o entregaram: nas da Rainha Santa Isabel.  O culto avançou pelo país, mas sedimentou sobretudo na região centro, sendo seus pontos altos Tomar e Alenquer.
            Entretanto, a semente lançada na Madeira e Açores dava abundante fruto.  Forte fruto que ainda está vigoroso depois destes séculos passados, não apenas nas ilhas, mas igualmente em comunidades açorianas do Canadá, Estados Unidos,  Brasil e Hawai.  Não há açoriano que se preze que, emigrado, não ponha em movimento o culto do Espírito Santo.  Em todos estes países há irmandades do Espírito Santo, algumas fortíssimas, com as suas bandas de música, as suas Coroas, os seus pendões, as suas festas de angariação de fundos no correr do ano que desaguam na festa maior pelo Pentecostes.  É corrente distribuírem-se centenas de pensões (pezas) e serem às largas centenas  as pessoas que acorrem às famosas sopas.
            No continente, o culto esmoreceu e em alguns lugares acabou. Mas ainda é forte em Tomar, em Alenquer, no Penedo (ao pé de Sintra) e em várias localidades do centro do país.  Penso que seria importante, para Portugal e a Igreja, que o Continente e as Ilhas se dessem um abraço espiritiano, 500 anos depois,  e o culto voltasse a alastrar por Portugal, nesta hora incerta.  Haverá um ou outro caso em que as festas são feiras de vaidades e os dinheiros arrecadados em bancos a não fazerem bem a ninguém, mas são casos pontuais e corrigíveis.  No nosso tempo precisamos de festas que, pela roda do ano, unam as pessoas na tarefa do fazer bem a quem foi atingido pela desgraça, festas que terão a força dada pelo Espírito Santo e a profunda alegria que vem do Amor.  Podemos ser mais pobres, nos tempos a vir, mas podemos manter a alegria pura de quem vai pelo caminho certo. 

segunda-feira, abril 26, 2010

CARTA DO CANADÁ

por FERNANDA LEITÃO

Em ano de grande aperto político-social, a classe política aproveitou largamente a boleia do centenário da República para despejar sobre o povo, desconfiado de quem manda mas sempre de pé pronto para a festa e de feriados para a praia, uma verdadeira cascata de espectáculos e cerimónias com que comemorou o golpe militar de 25 de Abril de 1974. Enquanto os credores do país se desdobram em campanhas de arrasar na grande comunicação mundial, deitando mão de argumentos e manobras de verdadeiros mafiosos, a classe parlamentar tem-se entretido a macaquear os tribunais plenários do salazarismo, agora abastecidos de informação por uma nova pide de nítido cariz piroleiro e rasca, ao mesmo tempo que a principal central sindical, a de inspiração comunista, promove a paralização de todo o território. Nenhum tem sentido de estado nem mostra amor por Portugal, mas todos se julgam aptos a governar a nau lusa neste mar encapelado.

Deitada no sofá das 15 às 24 horas locais pude, graças ao empenho e diligência da RTP-Internacional, seguir passo a passo o que e como se celebrou. Foram nove horas de trabalho árduo e não remunerado...  À parte os documentos que trouxeram a memória do que aconteceu naquele Abril, antes e depois do 25, apreciei o apontamento feito no Largo do Carmo: oitenta crianças e jovens de várias escolas fizeram perguntas a alguns capitães de Abril. Eram cravos viçosos diante da actual Brigada do Reumático, porque o tempo não perdoa.  E assim pude ver que Victor Crespo, suponho que almirante, tem agora um aspecto muito mais respeitável do que da última vez que o vi, no Botequim do marido de Natália Correia, animado pela poetisa e onde todas as noites desaguavam a desoras os figurões do Conselho da Revolução. Nessa madrugada, ao saír com Melo Antunes, Victor Alves e outros, Crespo tropeçou no scotch e quase se esbarrondou sobre o piano, onde pontificava a actriz Maria Paula para acompanhar cantigas de escárnio e mal dizer. Pois gostei de ver que está agora calmo como um quarto de água das Pedras. Embora um pouco desmemoriado. É que, respondendo a um jovem, afirmou que o MFA tinha trazido e implantado a amizade e a generosidade. Confesso que estou perplexa. Então foi por amizade e generosidade que o MFA saneou cerca de mil militares, mil companheiros de armas? Foi por amizade e generosidade que os acusou de serem afectos ao regime deposto, sendo verdade que todos eles, MFA incluído, foram a guarda pretoriana do salazarismo e do marcelismo? Um deles, o Otelo, até foi da Legião Portuguesa e, no funeral de Salazar, pegou em lágrimas na urna.

Então foi por amizade e generosidade que cruzaram os braços diante dos militares vendidos ao comunismo, esses que ajudaram o partido a destroçar a economia, a perseguir pessoas, a encher prisões? Foi por amizade e genrosidade que precipitaram a descolonização, com o resultado sangrento e de vidas perdidas que todos conhecemos? Foi por amizade e generosidade que deixaram instalar as escutas telefónicas vindas da antiga Alemanha Oriental? Foi por amizade e generosidade que deixaram prender tantos oficiais moderados, sem um assomo de virilidade e desafronta? Foi por amizade e generosidade que permitiram as barricadas que enxovalhavam pessoas, as invasões de propriedade privada, o verdadeiro roubo que foi a reforma agrária, os bandos de marginais estrangeiros que vieram vandalizar a terra portuguesa? Então, por amizade e generosidade, Portugal não merecia ser poupado a tudo isto mediante uns tiros, umas cabeças partidas, uns murros bem dados? Estou como o outro da anedota: já lhe tenho ouvido chamar muita coisa, mas amizade e generosidade é que não.

Talvez muitos pensem como eu pois, durante todas as celebrações, quem pairou bem alto foi Salgueiro Maia, o bravo alentejano que estudou em Tomar, o homem honesto e despojado que deu a cara e a coragem, tendo-se retirado sem participar do fórró das promoções de aviário. Esse, sim, personificou a nobreza das Forças Armadas e, deiam-lhe as voltas que quiserem, é a ele que todos agradecemos o derrube da ditadura.  Todos, não. Houve um primeiro ministro, hoje a viver no Palácio de Belém, que recusou a pensão ao Salgueiro Maia. Mas, na mesma ocasião, não a recusou a um pide. É por estas e por outras que eu não gosto de ver economistas metidos na política. Porque, parafraseando um antigo PR, há mais vida para além dos números.

O Português de Castela



São infelizmente poucos os portugueses que conhecem que a raia leste de Portugal não é exatamente uma fronteira linguística, que a fronteira política deixou em Espanha territórios bem portugueses onde a nossa fala vive em estado de depauperação.
Estou-me referindo aos concelhos espanhois de Olivença <http://olivenca.org/> e Tálega (a Olivença portuguesa) ocupados por Espanha em 1801, e que a pesar de ser mandato do tratado de Viena de 1815, o seu retorno à pátria, seguem ocupados e o português neles perseguido. Os territórios de Valência de Alcântara, Ferreira de Alcântara e Cedilho que cantou Pessoa, - e que bem se lembrou deles Afonso V ao assinar Portugal um tratado secreto com Filipe de Anjou, (neto de Luis XIV da França), intervindo Portugal a troca desses territórios, na longa guerra de sucessão em apoio do Bourbon, frente ao aspirante austríaco-; porém, obtida a vitória polo Bourbon (Filipe V da Espanha) este negou-se a cumprir o tratado –não tornando esses territórios bem portugueses a Portugal-, comportando-se assim dum jeito muito espanhol. Estão logo os territórios do vale do Xalma- concelhos espanhois de Valverde do Freixo, Sam Martim de Trevejo, e Eljas. Mais ao norte estão os concelhos de Almedilha e Calabor. Todos esses territórios são contíguos de Portugal e afastados geograficamente das falas galegas do português, ainda que a pressão do castelhano e a sua imposição, dá a estas falas uma farda muito galaica <http://www.pglingua.org/index.php?option=com_content&view=article&id=1906:o-galego-ou-a-caminhada-do-portugues-para-o-castelhano&catid=8:cronicas&Itemid=69>.
Um grupo de professores galegos membros do coletivo glu glu, realizaram um interessante filme sobre esta realidade, que pode ser adquirido na Loja on-line imperdível <http://imperdivel.net/documentarios/60-entrelinguas.html>, e que estou seguro vai ser todo um descobrimento para o público português em geral, e para entender de jeito muito mais claro que as falas galegas são parte da sua própria língua.
O documental é acompanhado com outro DVD com dados, inclui uma entrevista -de muito interesse- com um professor da universidade de Vigo – Henrique Costas-, que seguindo as teses espanholas, defende que as falas galegas não são português e por tanto algumas das falas portuguesas da raia leste e pela mesma razão -são galegas- é dizer espanholas (e não portuguesas)
A obra é uma pequena joia que vai servir para os portugueses recuperarmos algum aspecto da complexidade da nossa formação nacional, pois a fronteira do tratado de Alcanhizes não é exatamente uma fronteira linguística.
Só mais uma cousa, se o português destes territórios vive uma dura situação, onde pior está, é no mais recente território roubado de Portugal –Olivença-, onde se empregaram a fundo os espanhois com -jugo e vara- para apagar a nossa língua.

A Banhos
 
 

quarta-feira, abril 21, 2010

O povo Lunda Tchokwe reclama autonomia


e o Governo de Angola continua com intimidações e raptos aos membros da CMJSPLT (Comissão do Manifesto Jurídico Sociológico do Protectorado da Lunda Tchokwe).


Carta da CMJSPLT para Sr Roberto de Almeida Vice Presidente do MPLA


Ao
Excelentíssimo Senhor Vice-Presidente do MPLA
Roberto Victor de Almeida


LUANDA - ANGOLA

Nota de envio da CARTA da CMJSPL  sobre o Estatuto de Autonomia Administrativa e Financeira nos termos dos tratados de Protectorados de 1885 – 1888, assinados entre Portugal e Soberanos – Muananganas Lundas Tchokwes, da convenção de Lisboa de 25 de Maio de 1891, ractificado no dia 24 de Março de 1894 e trocado no dia 1 de Agosto do mesmo ano, entre Portugal e a Bélgica sob mediação da França, na presença da Alemanha, Inglaterra e do Vaticano.
Nos termos dos artigos 3.º, 4.º e 7.º, alíneas a), b), c) e o n.º 2 do artigo 19.º, 20.º, 21.º e 60.º da Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos e da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Lei n.º 8904 de 19 de Fevereiro de 1955, letra G.
c/cópia:
ü  Sua Majestade Rei Muatchissengue Watembo
ü  Sua Majestade Rei Dom Duarte e Duque de Bragança
ü  Governo Português
ü  Comunicação Social Angolana e Estrangeira

Excelentíssimo senhor Vice-Presidente,
Comissão do Manifesto Jurídico Sociológico do Protectorado da Lunda Tchokwe vem, em nome de Sua Majestade Rei Muatchissengue Watembo e de todo povo Lunda Tchokwe e do seu Estado que em legítima defesa defendem publicamente, endereçar a pessoa impoluta de Vossa Excelência, os cordiais cumprimentos de alta consideração, do vosso mui digníssimo empenho quotidiano, em prol da em prol do direito e da justiça dos Povos que constituem esta grande Nação, nação heterogénea – Angola, do qual a Lunda Tchokwe é parte integrante.
A Comissão do Manifesto Jurídico Sociológico e o Povo Lunda Tchokwe, dirige-lhe esta carta, em virtude de Vossa Excelência Senhor Vice-Presidente ser o decano conhecedor da história do povo Lunda, ser um dos Órgão da Soberania da Republica de Angola, com todas as prerrogativas e responsabilidades na Lei Constitucional, de  o MPLA conduzir o destino dos Povos que conformam a Nação Angolana no seu conjunto, ou de defender os seus bens jurídicos que DEUS lhes deu, o bem maior, a vida.
No dia 3 de Agosto de 2007, o Povo Lunda Tchokwe e a Sua Comissão do Manifesto Jurídico Sociológico do Protectorado da Lunda Tchokwe, apresentamos um dossier a Sua Excelência, o Senhor Presidente da Republica e Chefe do Governo de Angola Eng.º José Eduardo dos Santos, a solicitar o ESTATUTO DA AUTONOMIA ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA, igual a Madeira e os Açores em Portugal, embora estas sejam Ilhas Insulares, por nossa livre  vontade, por causa dos laços de irmandade e consanguíneos entre os Povos de Angola e a Lunda Tchokwe de longa data.
o   O Governo legítimo da Republica de Angola, não desmentiu este facto jurídico da nossa sucessão colectiva natural, há mais de 36 meses ou seja 2007 – 2010 da vigência do nosso Manifesto.
o   Para que não fossemos tratados de Associação ou de um grupo de malfeitores, no dia 29 de Janeiro de 2008, realizamos no Hotel fórum em Luanda, a 1.ª Conferencia de imprensa, com a presença da TPA, RNAANGOP, LAC, Rádio Ecclesia, RTP África, Jornal de Angola, Semanários e jornalistas independentes.
o   Fomos recebidos em audiências por corpo diplomático acreditado em Angola, para que pudéssemos informar a razão da reivindicação, assim algumas Embaixadas receberam-no; casos de Cuba, Rússia, Portugal, Bélgica, França, E.U.A., Alemanha, Inglaterra, Zâmbia, RDC, Israel,China, Italia, Brasil, ONU, Nuncio Apostolico em Angola, Delegação da União Europeia em Angola  e outras representações Áfricanas e organismos internacionais presentes em Luanda.
o   No dia 3 de Junho de 2008, por sua livre vontade Sua Excelência Presidente da Republica e Chefe do Governo, mandou-nos o Senhor Dr. Mozinho Baptista,Director Nacional do Conselho de Ministros para os Assuntos Sociais e Políticosemnos contactar e nos apresentar a disponibilidade de Sua Excelência o Presidente da Republica de nos conceder o Estatuto ou aceitação do nosso Manifesto Jurídico Sociológico do Protectorado da Lunda Tchokwe, após 10 meses de vigência.
o   No dia 11 de Julho de 2008, Sua excelência Presidente da Republica e Chefe do Governo Angolano, enviou-nos, os seus Delegados chefiados por senhor Matias da Lemos, que voltou a transmitir-nos ou repetir as promessas que já havíamos recebido doDr. Mozinho Baptista. O senhor Matias da Lemos disse nos que a sua Delegação era Politica e que, aguardássemos outra de Negociações técnicas.
o   No dia 26 Janeiro de 2009, o digníssimo provedor de Justiça Dr. PauloTchipilica, em  resposta a nossa  proposta sobre o pedido da Autonomia Administrativa e Financeira da região da Lunda, produziu o processo n.º 19/09.
o   No dia 31 de Março de 2009, recebemos o apelo da Fundação Dr. AntónioAgostinho Neto, reflexão sobre a recuperação da Independência da Lunda Tchokwe, assinada pela Escritora Maria Eugenia Neto, Presidente do conselho dos fundadores.
o   No dia 4 de Abril de 2009,a policia prendeu mais de 270 pessoas no municipio do Cuango e em Cafunfo, acusadas de estarem a fazer manifestações ou pertencerem a um partido desconhecido, no final foram colocadas na cadeia no Conduege Dundo 33 elemento, que continuam sem julgamento há mais de 370 dias.
o   No dia 14 de Maio de 2009, surge o rapto do Dr.º Jota Filipe Malakito por parte do Comando Nacional da Policia militar ou casa militar da Presidência da República em Luanda, o mesmo continua preso no Hospita Cadeia de São Paulo, doente com uma dificitária assistência médica, que esta Comissão do Manifesto já em tempos denunciou.
o   Em Julho de 2009, esta Comissão do MJSPL endereçou cartas e pedidos de bons oficios a personalidades angolanas e estrangeiras: Dr. Durão Barroso Presidente da Comissão da União Europeo, Dr. Jean Ping Presidente da União Africana, Sr. Nicolas Sarcozy Presidente da França, Dr. Anibal Cavaco Silva Presidente de Portugal, Primeiro Ministro do Reino Unido Sr. Gordon Brown, Secretaria do Estado Norte Americana Hilary Clinton, Primeiro Ministro Português Dr. José Sócrates, Sumo Pontifice Papa Bento XVI, Dr. Marcolino Moco, Dr Bornito de Sousa, Dr Inglés Pinto, Frei João Domingos, Dr Justino Pinto de Andrade, Dr Fernando Heitor, Bispo Joaquim Ferreira Lopes, Dr William Tonet, Jornalista Ismael Mateus, Jornalista Reginaldo Silva, Amplo Movimento de cidadãos, AJPD, Dr David Mendes,CEAST entre outras entidades, para de forma pacífica fosse encontrada uma saida, já que no Mundo civilizado, os conflitos são resolvidos atráves de instrumentos jurídicos internacionalmente aceites.
o   Em Agosto de 2009, a CMJSPLT, solicitou ao Governo de Luanda uma manifestação pacifica a favor dos detidos, que o Governo de Luanda não autorizou e fomos acusados de estarmos a violar o artigo n.º 5 da antiga lei constituicional, infelizmente, não existe nenhum documento legal de Portugal que anexou os dominios do Muatiânvua a Lunda Tchokwe protegida atráves de tratados de Protectorados a Angola.
o   Em Setembro de 2009, a PGR Lunda-Norte, acusou-nos de termos cometido crime contra a segurança do Estado Angolano ou termos um suposto Exercito denominado FRITL, com 4 Comandos e 6 frentes, poquanto, os rebeldes armandos não ficam nas cidades, nem escrevem para o Governo ou criar Escritórios e ainda a trabalharem nas Instituições do Governo.
o   No dia 8 de Janeiro de 2010, nossos membros foram raptados pelo Comando Nacional da Policia Militar em plena via pública, em Viana numa viatura Toyota Litehiace que se faziam transportar, onde duas pessoas continuam presas sem crime na comarca de Viana com mais 8 elementos que já se encontram em liberdade desde Fevereiro.
o   No dia 12 de Fevereiro de 2010, o Comando Municipal da Policia Nacional do Nzagi na Lunda-Norte, notificou 4 membros do Manifesto para comparecer aquela Unidade Policial para esclarecimentos de rotina, colocados naquela Unidade foram automaticamente presas e conduzidas na Cadeia do Conduege, mais uma vez sem crime.
Excelentissimo senhor Vice-Presidente do MPLA,
ü  Será que ao Governo de Angola, para a resolução de conflitos internos, só lhe resta a línguagem de guerra, de raptos, intimidações, perseguições, prisões arbitrarias e masacres as  populações?
ü  Será que ao Governo de Angola, para a resolução de conflitos internos, não lhe vem a memória o processo 50 dos Nacionalistas Angolanos, onde Vossa Excelência e outros fizeram parte em defesa da humilhação do colonialismo Portugues e do nascimento do 4 de Fevereiro de 1961?
ü  Será que ao Governo de Angola, para a resolução de conflitos internos, precisa recorrer a taticas como os conflitos etnicos da Nigeria, da Guiné ou do apartheid na Africa do Sul?
Como é do vosso conhecimento, a politica de cooperação e entendimento entre os dominios do Muatiânvua ou, Estado indiginas da Lunda Tchokwe com outros estrangeiros passou a ser presidida por uma forte componente jurídica baseada emtratados, declarações, convenções e ainda pela correspondencia oficial trocada entre o chefe da Expedição Portuguesa ao Muatiânvua de 1884 – 1888 com as diversas autoridades Portuguesae Estados indigenas, a exemplo de:
Convenção de 14 de Fevereiro de 1885(Sobre os limites de Angola)
Esta Convenção estabelecia que, nem Portugal nem os Estados Independentes do Congo, tinham ambições na Lunda Tchokwe, terra não Angolana.
O artigo 3º desta convenção conclui que nenhuma das partes contraentes (Portugal eEstado Independente do Congo) chamava a si os territórios ou os dominios do Muatiânvua.
Tratado de Protectorado de  23 de Fevereiro de 1885 (Entre Muana Samba e Portugal)
Este tratado foi celebrado no domínio da autorização de estabelecimento do comércio fora da Província de Angola, ou seja permitir que os Angolanos – Portugueses pudessem fazer negócios no território do Estado da Lunda Tchokwe, é um acordo de Comércio , Amizade e boa vizinhança entre dois Estados independentes que partilham a mesma fronteira.
Tratado de Protectorado de 31 de Outubro de 1885 (Entre Portugal e Kaungula Xa-Muteba)
Em termos dos artigos 1 a 11, nota-se que a Soberania do Estado da Lunda Tchokwe não era parte integrante de Portugal ou de sua Província ultramarina Angola. Também os Povos de Angola eram estrangeiros nas terras de Kaungula, por isso mesmo que o Soba Ambango, testemunhou estes acordos em 1892 e permitiu que fossem traduzidos em Kimbundo, permitiu que seu irmão Augusto Jayme fizesse parte integrante da comitiva da expedição Portuguesa, chefiada por Henrique Augusto Dias de Carvalho ao Muatiânvua.
Tratado de Protectorado de 2 de Setembro de 1886 (Entre Portugal e Tchissengue e os Miananganas Tchokwes)
Os artigos de 1 a 11 referem-se a Paz de Muatxissengue e os negociantes ou comitivas de comércio das terras de Angola para as de Muatxissengue, ou que desejassem transitar para a Mussumba, permanecer provisoriamente ou estabelecer-se definitivamente.
Tratado de Protectorado de 1 de Dezembro de 1886 (Entre Portugal e Muatianvua Ambiji, Superior dos Calambas - Suana Calenga em Lucusse)
Nesse tratado Portugal reconhece a soberania da Lunda, Portugal  comprometeu-se a manter a integridade da Lunda, respeitar os costumes e educar os povos sob seu protectorado, até que estejam preparados a compreender as modificações mais consentaneas com a civilização e as aceitem bem sem grandes esforços.
Estas referências jurídicas históricas, demonstram de forma tão categórica que só um povo verdadeiramente poderoso e politicamente organizado, teria sido tão capaz de submeter o poder dos invasores europeus a trivialidade, impondo-os a celebração de acordos com base normativa para legitimar as relações políticas, sociais e comerciais com estrangeiros.
Por tudo isto, exposto nesta carta Senhor Vice-Presidente, doutrinalmente, factualmente, juridicamente e sócio histórico-natural, o Povo Lunda Tchokwe  PEDE A VOSSAEXCELÊNCIA QUE, se digne exercer a Vossa Sofocracia de sempre para julgar Profundamente a matéria factual e a do Direito, que se segue;
o   PROTECTORADO é uma ligação entre dois Estados independentes em que o mais forte obriga-se a defender o mais fraco através de condições acordadas que beneficiam as partes (Tratados Bilaterais ou multilaterais de Amizade e Comércio), país protegido por acordo de interesse comum, porque  proteger alguém não é colonizar.
Os termos e fundamentos juridicos são os tratados de Protectorados de 1885-1888, assinados entre Portugal e Soberanos (Muananganas), Lunda Tchokwe, a convenção de Lisboa de 25 de Maio de 1891, sobre a QUESTÃO DA LUNDA, ou a delimitação das suas fronteiras com a província ultramarina de Portugal Angola e o Estado Independente do Congo, Ratificado no dia 24 de Março de 1894, trocadas a 1 de Agosto do mesmo ano, entre Portugal e Bélgica sob mediação da França na presença da Alemanha, Inglaterra e Vaticano, como consequência do conflito surgido sobre a mesma Lunda em 1890 entre Portugal e a Bélgica. Os Lunda Tchokwes sabem disso, estamos conformados com os antecedente e sentimo-nos bem ao lado dos nossos irmãos Angolanos, temos todo o direito de reivindicar  a nossa própria independência mas, devido a irmandade histórica e de sangue que existe com o povo Angolano, preferimos aAutonomia Administrativa e Financeira Efectiva igual a Madeira e Açores em Portugaldo que a independência, porque no fundo temos os mesmos avôs.  
Falar da Lunda Tchokwe, implica necessáriamente compreender com profundidade a página que entreabre o caminho da luta de libertação da dignidade do homem Lunda contra o neocolonialismo Africano e a marginalização das respectivas identidades politicas, económica, cultural e social, que constitui na actualidade grave violação aos direitos do homem e dos Povos sobre a sua autodeterminação.
Infelizmente, Portugal, tal como procedeu com o enclave de Cabinda e o Timor Lestefoi incapaz de equacionar o problema da LUNDA TCHOKWE, assumiu uma opção politica desastrosa e a todos os títulos condenável ao transferir os poderes de Protecção (Protectorado) da Lunda Tchokwe a colonização de Angola Independente. Esta deselegância de Portugal deveu-se fundamentalmente pela ausência de legítimos representantes do Povo Lunda Tchokwe nos acordos do alvor em 15 de Janeiro de 1975, e no dia  11 de Novembro do mesmo ano, a Lunda Tchokwe deixou de ser Protectorado Portugues e se transformou em colónia de Angola, sob olhar silencioso da Comunidade Internacional.
O problema da anexação do território da Lunda Tchokwe a Angola, merece não só um olhar histórico incisivo, mas também clama pela tomada de consciência da sociedade Angolana e da comunidade Internacional e da mudança de atitude para a reconquista da dignidade do Povo Lunda Tchokwe e sua libertação total de todas as formas de exploração e humilhação.
É uma reivindicação Legitima e Legal de um direito natural, reconhecido juridicamente e respeitado pelo então Governo que colonizou os Angolanos e Protegeu a Lunda Tchokweconforme esta nas Memorias de Henrique Augusto Dias de Carvalho, escritos em 1890 cujo CD com o livro completo de 431 paginas anexamos, quando no longiquo ano de 1884 – 1888,  pela primeira vez e oficialmente foi as Lundas, e de lá se fez o Primeiro Governador da Lunda, o Benemérito da Patria Portuguesa e grande amigo dos Africanos, e Portugal  ter anunciado ao Mundo ao decretar a  Lei 8904 de 19 de Fevereiro de 1955.
É uma reivindicação Legitima e Legal de um direito natural, reconhecido pelas potencias Europeias no dia 24 de Março de 1894, Portugal, Bélgica, França, Inglaterra, Alemanha e o VATICANO.  
Nós, os Lunda Tchokwes, já assumimos a nossa responsabilidade histórica perante a AFRICA e o MUNDO em que os conflitos podem serem resolvidos a mesa de negociações, sem recorrer a violência, nem a subversão armada, porque as guerras deturpam a verdade e retardam o desenvolvimento, é por isso que contribuímos para a extinção desta guerra fratricida Angolana, para que em tempo de paz apresentássemos publicamente ao Chefe do Estado Angolano e o seu Governo bem como ao Mundo inteiro esta nossa Questão da Lunda Tchokwe ou facto jurídico da defesa do nosso direito de sucessão colectiva, pelo facto de sermos herdeiros.
O Direito de um povo pode ser abafado, mas nunca é vencido por ser uma razão natural ou bênção de DEUS.
A Madeira e Açores, oficialmente designadas por Regiões Autónomas da Madeira e Açores, é um arquipélago português dotado de autonomia política e administrativa através do Estatuto Político Administrativo da Região Autónoma da Madeira e de Açores, previsto na Constituição da República Portuguesa. A Madeira e Açores fazem parte integral da União Europeia com o estatuto de regiões ultraperiféricas do território da União, conforme estabelecido no artigo 299º-2 do Tratado da União Europeia, os seus Partidos Politicos, são os de espectro politico da nação portuguesa no seu conjunto.
Quem reclama a outrem ou ao Governo a violação do seu direito constituído, fica na obrigação de apresentar provas da existência do seu direito violado. As provas supracitadas são autênticas e objectivas, entregamo-as ao Governo Angolano em 2007, para a Vossa Excelência Senhor Vice-Presidente do MPLA estão no CD que aqui vai acompanhado, pelas quais esperamos que, se não satisfazerem ou vos convencer voltem a nos comunicar.
Servimos Vossa Excelência, almejando votos de iluminação divina, pelo qual o Povo Lunda Tchokwe pede a DEUS que, vos seja prolongada a vida com espírito santificado, nós os filhos Lundas continuaremos a nossa luta e com o vosso prestimoso apoio para encontrarmos uma solução deste facto jurídico e tudo baseado no direito de sucessão contratual, acreditamos que o Governo de Angola, vai promover as negociações técnicas que culminarão com um acordo e o estabelecimento da Autonomia Adminitrativa e Financeira efectiva na Região da Lunda Tchokwe, alta estima e consideração.
Comissão do Manifesto Juridico Sociologico do Protectorado da Lunda Tchokwe em Luanda, aos 12 de Abril de 2010.-

Secretario Geral                                           Eng.º José Mateus Zecamutchima
Secretario de Organização e Quadros     Dr.º José Alberto Cupumbvo
Secretarios Relações Internacionais          Eng.º Gideão dos Santos Muatchyavua

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Lista de membros Comissão do Manifesto nas  cadeias

PROCESSOS N.º 3450-A/2009, N.º 157/2010 PGR Lunda-Norte  E N.º 8001/2010 TRIBUNAL SUPREMO ANGOLANO, DR Juiz Carneiro

1.      Dr. Jota Filipe Malakito-----------------Cadeia Hospital S.Paulo

2.      Domingos Manuel Muatoyo---Comarca Viana Luanda – Sem Processo

3.      Alberto Cabaza---------------Comarca Viana Luanda- Sem Processo

4.      José Salumo Samangia------------------Conduege Lunda-Norte

5.      Modesto Timóteo-------------------------Conduege Lunda-Norte

6.      Dala Ramos---------------------------------Conduege Lunda-Norte

7.      Daniel Léo Augusto---------------------Conduege Lunda-Norte

8.      Augusto Mateus---------------------------Conduege Lunda-NOrte

9.      António Leão--------------------------------Conduege Lunda-Norte

10.  Zeca Rodrigues-----------------------------Conduege Lunda-Norte

11.  Juste Filipe-----------------------------------Conduege Lunda-Norte

12.  Calisto Muatunda--------------------------Conduege Lunda-Norte

13.  Armando António Muagingo----------Conduege Lunda-Norte

14.  Alexandre João------------------------------Conduege Lunda-Norte

15.  João Venáncio Samiondo----------------Conduege Lunda-Norte

16.  Bento Magimo-------------------------------Conduege Lunda-Norte

17.  Castro Zacarias Nzua----------------------Conduege Lunda-Norte

18.  Afonso Lucas---------------------------------Conduege Lunda-Norte

19.  Marcos Julião Nguelengue--------------Conduege Lunda-Norte

20.  Jaime Eduardo Muachimbau-----------Conduege Lunda-Norte

21.  Zeferino Rui Muagingo------------------Conduege Lunda-Norte

22.  Serafim Muaculungo----------------------Conduege Lunda-Norte

23.  João Mateus-----------------------------------Conduege Lunda-Norte

24.  Muatxina Chamumbala------------------Conduege Lunda-Norte

25.  Canhanga Diango André---------------Conduege Lunda-Norte

26.  Tito Filimo------------------------------------Conduege Lunda-Norte

27.  Sacana Mufungueno Manuel----------Conduege Lunda-Norte

28.  Serafim Paulo--------------------------------Conduege Lunda-Norte

29.  Gonga Cesár Manuel----------------------Conduege Lunda-Norte

30.  Alberto Suca Calala------------------------Conduege Lunda-Norte

31.  Tito Mateus Muanauta--------------------Conduege Lunda-Norte

32.  Carlos Almeida-------------------------------Conduege Lunda-Norte

33.  Mandevo Quifulo---------------------------Conduege Lunda-Norte

34.  Domingos José--------------------------------Conduege Lunda_norte

35.  Toni Geremias Sacazanga----------------Conduege Lunda-Norte

36.  Sebastião Lumani----------------------------Conduege Lunda-Norte

37.  José Muteba------------------------------------Conduege Lunda-Norte

38.  Afonso Luifi------------------------------------Conduege Lunda-Norte

39.  Sergio Augusto---------Conduege Lunda-Norte-Proc 3668-B/09

40.  António Silva Malembela-----------------Conduege Lunda-Norte