CARTA DO CANADÁ
por Fernanda Leitão
Primeiro foi a lei das uniões de facto. O venerando devolveu a peça ao parlamento por lhe achar defeito num articulado menor. O parlamento, entediado e sonolento, informou que ia estudar o caso. Muitos católicos rejubilaram, esperançados que o venerando afinal tinha pulso firme e sabia o que queria.
Depois foi a lei do casamento homossexual. O venerando caíu num completo mutismo. Diziam alguns que era silêncio de mau agoiro, mas muitos católicos davam largas à esperança ao verem como o venerando quase beijava o caminho por onde pisava o Papa que não esconde como é irredutível em relação ao casamento homossexual, às uniões de facto, ao aborto, ao preservativo, aos métodos anticoncepcionais.
Regressado o Papa ao Vaticano, o venerando, no desembaraço lampeiro do que popularmente se designa por patrão fora dia santo na loja, promulgou a lei do casamento homossexual. Mas fê-lo de forma a ficar bem no retrato, julgando assim agradar a todos: no final do documento esclareceu, pelo seu punho, que dava o acordo sem concordar. Ficasse bem claro: ele não concordava, mas assinava concordando. Muitos católicos ficaram zangados.
Depois de bastante tagarelar e dormitar, o parlamento devolveu a lei das uniões de facto tendo diluído o tal articulado de menor importância de que o venerando não gostava. O venerando, um ser virtuoso que não tem dúvidas e nunca se engana, promulgou a lei. Mas deixou bem claro, no final do texto, que assinava concordando sem concordar. E ficou contente ao julgar que, mais uma vez, ficava de bem com todos.
É de cabo. De cabo Elísio, personagem de uma revista muito antiga, no Parque Mayer, de que os da minha geração ouviram contar aos mais velhos. O cabo Elísio da revista ficou célebre porque dizia sem se rir: "eu não queria fazer mas fízio, e fízio logicamente falando."
Muitos católicos estão zangados. Não vale a pena levarem esta novela a sério. Candidatos a presidentes há muitos. Escolham outro. Mais enganados não podem ser.
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