CARTA DO CANADÁ
por Fernanda Leitão
Venho dum tempo e duma gente que tinha por divisa esta norma: Mãe é Mãe, Bandeira é Bandeira, Hino é Hino. Com esta postura queríamos significar que a Pátria não se discutia nem se atirava para o último lugar das nossas preocupações. Sobre isto ficámos democratas antes do 25 de Abril de 1974 e encarámos os partidos como agrupamentos ideológicos em que nunca nos seria pedido, muito menos exigido, que Portugal devesse ser sacrificado aos interesses mais ou menos bastardos da política. A referência do que nunca devia ser feito ou aceite era o que se tinha passado na 1ª República, essa cujos 100 anos a RTP festeja com apontamentos vários e extremamente úteis a quem não queira perder a memória nem a vergonha. Para nós, era ponto assente que nunca mais se devia repetir essa lição de crime, intolerância e estupidez.
Não nos enganámos quanto aos valores em que fomos criados, mas enganámo-nos redondamente quanto à não repetição. A República que se lhe seguiu cometeu a pouca inteligência de manter uma ditadura intolerante, que ia do Minho a Timor, com os resultados sangrentos que todos conhecemos. A chamada direita foi esse abcesso, enquanto a chamada esquerda se ia anquilosando passivamente. Abertura de espírito, nenhuma.
A ditadura caíu de pôdre sem que alguém arriscasse sequer uma unha por ela, ao fim de quase 50 anos de atraso e mau passadio que engrossou a emigração. Tomou o poder uma Junta Militar que entronizou como presidente da República o general Spínola, um homem da direita, que combateu ao lado de Franco e de Hitler. E aconteceu uma coisa que trouxe grandes custos internacionais contra Portugal: sendo o país um dos membros fundadores da NATO, havendo mesmo um comando desta em Oeiras, Spínola meteu Álvaro Cunhal no governo, quando a simples legalização do Partido Comunista chegava e sobrava. Foi aconselhado nesse sentido por dois conselheiros de estado: Isabel de Magalhães Colaço e Diogo Freitas do Amaral, co-fundador do CDS e seu presidente durante uns anos. Atónitos, os governos dos países ocidentais tomaram distâncias e reservas. Esta decisão da direita abriu as portas todas ao Partido Comunista, que logo passou a receber 10 milhões de dólares por mês da União Soviética e assim ficou habilitado a fazer todas as tropelias e crimes, devidamente acolitado por grupelhos da extrema esquerda e uns satélites, verdes e maduros. Foi tão grave que, em muitos aspectos e passado tanto tempo, o país ainda não se recompôs. Todos pensaram nos seus interesses partidários, nenhum pensou em Portugal.
Recentemente, Portugal foi escolhido para uma cimeira histórica da NATO, que teve repercussão mundial e uma cobertura mediática impressionante. Todos os estrangeiros passaram a saber onde é Portugal e ficaram com as imagens de Lisboa na memória. Os dirigentes dos 43 países presentes foram unânimes em elogiar a boa organização e o bom acolhimento. Os portugueses, residentes em Portugal e no estrangeiro, tiveram motivo de satisfação. Mas não todos. De novo a extrema esquerda e a falsa direita que por aí andam a comer à mesa do orçamento, romperam em insultos, em insinuações, em manifes de mau gosto, em silêncios de muito despeito. Quando era preciso dar ao estrangeiro uma imagem de unidade em torno da Pátria que sofre agonias, causadas por TODOS, deu este triste espectáculo.
Parece que tinha razão o meu colega Boavida Portugal quando, lá pelos idos de 1976, em comentário a um desabafo que escrevi por causa do mau comportamento da direita, ele me enviou um cartão que assim dizia: “A direita portuguesa é como a massa dos padeiros: só a murro”.
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