Um professor de Economia na Universidade Livre de Bruxelas, André Sapir, disse há algumas semanas que já não vale a pena tentar evitar 1929. O melhor que podemos fazer agora é evitar 1930, 1931 e 1932.
Os acontecimentos estão a precipitar-se no leste europeu. Nos últimos dias, nos países do Báltico e nos do sul dos Balcãs, têm-se vindo a registar os piores motins desde o colapso dos regimes comunistas. As ruas de Riga são uma “zona de guerra”. Na Lituânia, há motins e manifestações acolhidas com balas de borracha e gaz. Na Bulgária, as manifestações estão também a começar a tornar-se violentas.
No velho ocidente “democrático”, a Grécia tem estado a estremecer, e o pior pode ainda estar para vir. O governo já nem se atreve a vender títulos para financiar a dívida pública. Na semana passada vendeu 2, 5 biliões a taxas baixíssimas. Entraram em terreno muito perigoso.
Em Espanha, todos os indicadores económicos estão em queda livre, com a excepção do desemprego, é claro.
A Irlanda está à beira de um ataque de nervos. Depois de nacionalizar o Anglo Irish Bank, verificam agora que o Estado está à beira da insolvência.
Em Itália, os jornalistas começaram já a dizer que vem aí a “crise da tequilha”, aludindo à crise mexicana de 1994, na qual se deu uma fuga maciça de capitais para os EUA.
Em Portugal, nem é preciso lembrar que estamos também em queda livre, e com a violência à espreita. O nível do endividamento público diz o bastante acerca do “futuro colectivo” que nos espera.
Uma breve conclusão se pode tirar – as nações da Europa estão sob prisão, esperando a vez para o sacrifício no altar da união económica e monetária.
A lógica da UEM vai fazer disparar a deflação e, com os actuais níveis de endividamento, a vida económica vai tornar-se impossível para muitos países europeus. A tortura divida-deflação é um tabu para os partidários do euro, mas está a já a colocar em risco a paz social em muitos locais.
Percebe-se o apelo à ditadura, recentemente lançado entre nós por alguns líderes políticos. Para a oligarquia partidária, não há na verdade outra solução, se quiserem ficar dentro do euro. Só a repressão os poderá salvar, como os salvou nas ditaduras dos anos 30.
Como é costume, a “esquerda” francesa já tem um “slogan”, desta vez, aliás, bem apropriado: “É preciso combater a ditadura capitalista do euro”.
A manter-se a UEM, o problema é bem simples e não tem solução: não vão ser suficientes as actuais acções de salvamento invisível do BCE, e antes de mais, porque ao criar-se uma dívida pública ilegal dentro da União, alguém a terá que pagar. O que é que vai acontecer quando os pagantes de impostos na Alemanha descobrirem a tramóia?
A situação actual não está de feição para pequenos tremores de terra. O que a história dos terramotos europeus tem demonstrado, é que não há abanão mais violento do que aquele que é provocado pelo choque da placa da Europa latina com a placa da Europa teutónica.
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