domingo, janeiro 18, 2009

Sejamos honestos e atentos

CARTA DO CANADÁ
por Fernanda Leitão


Portugal, país do oito ou oitenta, tem dois grupos ao serviço do radicalismo alarmista: a extrema-direita saudosista e o Partido Comunista. Ambos órfãos de coleira de picos, açaime de ferro e trela curta. Praticamente desde a entrada em funções deste governo, estes grupos têm vindo a manifestar-se, por vezes de forma soez e blogueira, o que se compreende. Adeptos do quanto pior, melhor, respiram mal num ambiente em que, apesar de tudo, se pode falar alto. Já assim tinha sido no tempo de Sá Carneiro, a quem ambos os lados insultaram de forma baixa. Fazer o quê? É a forma de eles praticarem o que julgam ser a política.

No último ano, e principalmente desde que surgiu a crise financeira mundial, a crispação tomou proporções gigantescas e, o que é de assinalar, com sucessivos ataques á democracia, atribuindo à democracia todos males que afligem a nossa terra. Compreende-se que este posicionamento venha da parte de formações ideológicas ansiosas por um regresso à ditadura.

Subscrevo a cem por cento os que se erguem contra a corrupção, a roubalheira, o compadrio, o desleixo, a incompetência, o arranjismo. Recuso-me a atribuir estas perversidades à democracia. Primeiro, porque sei que a democracia, não sendo perfeita, é o melhor dos regimes políticos. Segundo, porque sei de muitas democracias que funcionam de forma limpa, tendo até um sistema de punição exemplar para os prevaricadores.

Bandalheira é uma coisa, democracia é outra. Ora, como se pode ver a olho nú, Portugal tem um máximo de bandalheira e uns salpicos de democracia. Se todos quisermos ser honestos, temos de agir para acabar com a bandalheira precisamente para podermos ter democracia. Temos direito a ela, porque por ela lutámos durante 48 anos de ditadura de extrema direita, mais uns quantos anos de tentativa de ditadura comunista que apenas serviu para destruír a economia, a educação e as Forças Armadas, com resultados visíveis ainda hoje. Porque não somos nenhum povo de imbecis e atrasados mentais que tenha sempre de escolher entre a bandalheira e a ditadura. E ainda porque não há bandalheira cristã ou ditadura cristã, por muito que os seus dirigentes vão à missa ou se mostrem em procissões.

Somos um povo adulto e inteligente, que bem o mostra ser no estrangeiro e nas bolsas de cientistas, artistas, técnicos, empresários, mestres e trabalhadores que, felizmente, Portugal ainda tem. Vamos acabar com a bandalheira? Vamos! Vamos para a ditadura? Não vamos!

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