quarta-feira, maio 09, 2007

Uma Carta para o arraial do barrete frígio







por Manuel Alves


Sob o título "Aos Republicanos", o historiador João Medina publicou hoje no Jornal de Letras uma Carta que julgo deve merecer a atenção de todos aqueles que, como eu, entendem que a Instituição Real é a que melhor serve na Suprema Magistratura da República portuguesa.

Pedindo perdão aos seus "compatriotas de barrete frígio", João Medina vem dizer "com franqueza e sem quaisquer intuitos de desafio ou provocação, a dois anos do centenário da data da implantação da I República", "em termos simples, cordatos e benévolos": "… não creio que valha a pena preparar, oficialmente, ou mesmo em meios académicos, a celebração dum mau defunto que foi esse regime de década e meia de vigência atarantada, e que, bem feitas as contas, teve nada menos do que 47 governos que a desgovernaram por trancos e barrancos (...) de atribuladíssima e caótica duração, com muitas bernardas castrenses de permeio, sedições várias, tumultos constantes e quase sempre mais ou menos sangrentos, de atropelos à legalidade e ditaduras disfarçadas ou às escâncaras, sem falar da Ditadura das Urnas, com o 'partido democrático' do dr. Afonso Costa (aquele homem de Direito que foi uma vez ao Porto, em 1902, com uma soqueira, para agredir à traição o Sampaio Bruno), mais uma participação em tudo funesta e catastrófica nos conflitos europeu e africano, e, por fim, uma degola que nos privou da Liberdade, com certa lógica fatal depois de tanta bagunça, desassossego, insensatez política e falta de implementação mínima dum regime sério de Cidadania, Educação generalizada ou Progresso material, porquanto nem se educou o povo, nem se fez de cada português um cidadão livre, nem se melhorou a vida dos portugueses".

Ao concluir, João Medina lança aos correligionários algumas perguntas: "Em 2010 vamos, em suma, celebrar o quê? O começo dum erro imenso e desastroso para o país que somos? A nova versão da comédia offenbaquiana da monarquia constitucional, agora em versão sanguinolenta? (...) Não seria melhor, em vez de celebrarmos o 5 de Outubro, rezarmos-lhe um responso (laico) pela pobre alma penada que ele foi? Antes isso do que comemorar uma República sem republicanos, como a nossa é."

Faço minhas as palavras citadas do seu balanço da I República, mas acrescento, contrariando o desalento das interrogações finais: se o que é nefasto não se celebra, pode no entanto ser comemorado com proveito cívico se, despidos de paixão amouca, colocarmos a História diante dos olhos, como aliás o historiador, o ensaísta, e Professor Catedrático da Faculdade de Letras de Lisboa, acaba de fazer no trecho que escolhi. Como deixou escrito D. Jerónimo Osório, nas vésperas dessoutro nefasto 1580, "A História é proveitosa para adquirir prudência, poderosa para despertar virtudes, saudável para sanear as feridas da República".


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