CARTA DO CANADÁ
por Fernanda Leitão
É deprimente , e algumas vezes nauseabundo, o espectáculo que transmitem a 10 milhões de portugueses residentes no território nacional e a 5 milhões de portugueses expatriados, políticos profissionais e jornalistas nem por isso, autoproclamados intelectuais que se desparramam pelos blogues e manejam com desenvoltura as técnicas da internet. O rio de insultos, de insinuações torpes, de calúnias, de mentiras, de julgamentos assassinos, de gabarolices, de vaidades só comparáveis às incompetências, esse rio, dizia, é caudaloso e entra como uma enxurrada malfazeja nos lares daqueles que amam de facto a Pátria e nada mais desejam do que trabalho e paz.
A fazer fé na presença constante desta fauna nas televisões e rádios, nos jornais e internet, poderia julgar-se que Portugal é uma pocilga e eles os donos da dita. Mas não é assim. A pocilga, a existir, deve ser terreno da actual maneira de fazer política. Uma maneira rude, grosseira, suja, antidemocrática.
Se tivermos atenção e força para seguir de perto a vida portuguesa, constataremos que há no país largos milhares de pessoas dignas, competentes, com talento, com carácter, com alma e mãos limpas. O problema está em que essas pessoas, enojadas, viraram as costas à intervenção política. Compreendo-as, mas tenho de reconhecer que o seu afastamento abriu as portas à canalha mais vil. E é isso que tem de ser corrigido com a maior urgência. Esses largos milhares têm de fazer o sacrifício, por Portugal, de aparecerem, de darem a cara, de falarem alto e bom som, sem medo, assim limpando o país de uma escumalha que tudo destrói, tudo mistura, sem o menor sentido de estado, de bem comum.
Foi este estado (prolongado) de demissão que se tornou terreno propício para os que fizeram desfalques, fugiram ao fisco, espatifaram bancos e outras empresas, instalaram na nossa terra uma corrupção terceiro-mundista e uma criminalidade de favela. Ninguém quer uma ditadura férrea, à moda do Salazar ou do PC, para pôr cobro a este estado de coisas, porque todos sabemos como são os regimes repressivos: em troca da ordem, matam a alma do povo e acabam por desaguar na miséria que atrai revoluções. Por isso entendo que é a hora de todos os portugueses de bem se sacrificarem, de aparecerem como os únicos e verdadeiros donos do país.
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