quarta-feira, janeiro 04, 2006

HOMENS DE BOA VONTADE

CARTA DO CANADÁ

por Fernanda Leitão


Neste começo de ano creio que será útil pensarmos a sério nos grandes desafios que a humanidade enfrenta. Desafios globais que exigem a mobilização de todos nós na busca de soluções que travem a marcha para o abismo.
São eles a pandemia de qualquer doença infecciosa, seja ela gripe das aves ou sida; o aquecimento da crosta terreste que já está a provocar calamidades naturais devastadoras, ao mesmo que torna real a desertificação de grandes manchas de terra, o que afugenta pessoas e animais, que vão em busca de comida e água onde a encontrarem; a pobreza galopante, em muitos países, reduzindo os seus povos à escravatura dos que produzem e vendem droga, dos que produzem e vendem armas; analfabetismo endémico, ou mesmo crónico, em muitos países do mundo, que assim servem de carne para canhão dos arautos do capitalismo selvagem (como outrora o foram do capitalismo de estado, ou comunismo); a tomada de poder, por interpostos candidatos, de associações criminosas ou seitas secretas, algumas vezes de ambas, que em poucos anos rasgam e pisam os valores morais e cívicos daqueles que subjugam por meio de solapadas ditaduras, em grande parte veiculadas por uma comunicação social que não pode ser independente por estar dependente do grande capital, seja ele privado, seja ele público; a massificação e imbecilização de povos inteiros por meio do pão e circo, que os torna materialistas, gananciosos, individualistas, numa palavra, sem espiritualidade.
Sendo globais, estes desafios exigem tomadas de posição globais, através de foruns mundiais. Mas, sendo ponto assente que os povos têm também desafios específicos dentro dos seus países, parece claro que as pessoas têm de dar passos pequenos, mas certos, mas apressados.
Talvez gostem de saber o que vos vou contar.
Farouk Jiwa é um homem de 31 anos, nascido no Quénia, que veio para o Canadá onde, em universidades diferentes, Queen´s (Kingston), Toronto, York (Toronto) e Mcguill (Montréal), fez sucessivamente o bacharelato, a licenciatura e o doutoramento em ciências ambientais. Em lugar de ficar acomodado num lugar burocrático, gizou um plano de desenvolvimento dos meios rurais do seu país: reflorestação de áreas devastadas, com grande número de árvores e arbustos cuja floração fosse adequada à criação de abelhas. Obteve um empréstimo de uma organização de apoio dinamarquesa, e pôs a funcionar um plano piloto na sua terra africana, dirigido e monitorizado por técnicos de uma ONG. O mel produzido, e a produção é no Quénia de quatro vezes por ano, foi todo vendido à organização que Farouk criou, para tornar real e fácil a comercialização do produto no estrangeiro. Os pequenos agricultores viram as suas lavouras a prosperar, receberam pelo seu trabalho muito mais do que tinham anteriormente, e ficaram descansados por não soferem as agruras de uma comercialização que não sabem fazer. Após este passo, Farouk obteve o apoio do Canadá e o plano está a estender-se a vários países da África oriental. Ao mesmo tempo, foram instaladas escolas e postos médicos.
“É possível, afirma Farouk, lançar negócios que sejam geradores de bem estar social e ambiental, que promovam valores susceptíveis de ajudar os países em vias de desenvolvimento”.
Este é um homem de boa vontade e, estou certa, muitos outros de boa vontade se juntarão a ele ou seguirão o seu exemplo. Será o conjunto das boas vontades, sejam elas cristãs ou islâmicas, crentes ou agnósticas, a alavanca para um mundo melhor.

Sem comentários: