quinta-feira, janeiro 19, 2006

O valoroso assalto ao castelo e as complicações da vida

por Carlos Romero

O "milagre das rosas" de Alegre. Os slogans assassinos contra Soares. O cartaz anti-Cavaco. O didactismo sem retorno de Louçã. O objectivo improvável de Jerónimo. E Garcia Pereira

A vida está a complicar-se para todos, à medida que a campanha avança inexoravelmente para o seu fim. Complica-se, antes de mais, para o bolso dos portugueses automobilizados, com um dos maiores aumentos de combustíveis dos últimos anos. Complicou-se, ontem, para um irritadíssimo José Sócrates, confrontado publicamente pelo ex-líder do seu bem amado Plano Tecnológico, José Tavares, que apontou o dedo a um ainda incógnito ministro socialista que estará a travar um projecto de parceria com o Massachusetts Institute of Technology.

Complicou-se, ainda, para o candidato-poeta, que adivinha para um destes dias uma "mirabolante" sondagem que lhe dará o terceiro lugar na pugna eleitoral, um novo "milagre das rosas" que ele se dispõe a combater até ao fim, nem que seja, como diz a repórter da TVI Carla Moita, com o "voto silencioso" dos que continuam a faltar aos encontros com Alegre nas ruas e praças. Complicou-se, também, para o messiânico Cavaco Silva, cada vez mais apertado por sondagens que o encostam a uma insegura vitória à primeira e por jovens rebeldes que, em Coimbra, tentaram desfraldar um "provocatório" cartaz de contestação ao candidato, imediatamente anulados pela polícia e pela segurança do professor.

Complicou-se para Mário Soares, obrigado a engolir alguns slogans assassinos de "populares" numa feira de Famalicão - "Cavaco à primeira, bolacha à terceira" ou "Soares é fixe e o povo que se lixe" -, mas que aproveitou a deixa para marcar a diferença entre a sua tradicional capacidade de encaixe e a ausência de guarda-costas, e o apertado esquema de segurança do professor de Boliqueime. Complicou-se, enfim, para Jerónimo de Sousa, que, embalado pelo comício do Pavilhão do Atlântico, tenta convencer ser ele o que "está em melhores condições para derrotar" Cavaco. A vida complicou-se, finalmente, para Francisco Louçã, que insiste numa louvável campanha de grande didactismo e muito ligada aos "problemas reais", cada vez mais inútil à medida que aumenta o fragor da batalha pelos votos e o dramatismo das declarações contra a "hecatombe" cavaquista que ameaça o país.

De bem consigo e com os anjos, embainhada, pelo menos no dia de ontem, a espada que tem brandido contra o presidencial sampaísmo, Garcia Pereira, de visita ao berço da nacionalidade, galgou a escadaria que o levou até uma das janelas do afonsino castelo e declarou a tomada da cidade de Guimarães. Bendita campanha que tantas alegrias nos dás...



(In Público, POL nº 5776, Quinta, 19 de Janeiro de 2006 )

Sem comentários: