(e a luta pela afirmação de Deus e da Pátria...)
Fernando Rodrigues Batista
Descartes e Kant “sofisticamente” - na expressão de João Ameal – proclamaram a inteligência humana capaz de criar o Universo à sua imagem, sem o real, contra o real ou acima do real, e do alto de sua transcendência, como acentua Marcel de Corte, projeta leis exclusivas sobre o mundo, ordena-o em conformidade com seus imperativos, pois, compreender é dominar. O homem considerado medida de si mesmo, substitui ao Criador, e transforma o mundo exterior a sua maneira a torná-lo obediente a seus desejos, o homem moderno basta a si mesmo, é o Demiurgo por excelência, o Criador do real, da sociedade e, afinal, de si mesmo, enfim, o homem tornou-se Deus, daí a afirmação de Marx: “A consciência humana é a mais alta divindade... Não se trata de conhecer o mundo, mas de mudá-lo”.
A partir desta linha de raciocínio erigiu-se a sociedade de massas - que com argúcia denunciou Ortega y Gasset - como sendo o fenômeno resultante dessa total despersonalização da vida, onde o homem foi reduzido perante o Estado a indivíduo isolado, desenraizado das sociedades naturais em que tem sido integrado (família, propriedade, município...).
Emanou desta despersonalização do homem os Totalitarismos de todos os matizes, tendo a frente o “super homem” a comandar os sub-homens, sendo que, doravante, surgiram os governos dos “técnicos”, dos managers, de que aduzia o insigne jurista espanhol Juan Vallet de Goytisolo.
Se o século XIX foi o século “estúpido” consoante a alcunha expendida por León Daudet, o incansável companheiro de Maurras na Ação Francesa, e se o século XX foi na expressão do sempre vigoroso Gustavo Corção “o século do nada”, esperamos que o século XXI que ora se inicia, sobremodo, o que restou daquilo que um dia foi chamado “civilização cristã”, cumpra seu dever moral, mormente, o de refazer a fisionomia espiritual do homem. Eis a enorme tarefa que nos cumpre realizar, atendendo assim ao apelo do eminente escritor Plínio Salgado que há seu tempo insistia que o único problema que os homens e as nações tinham que resolver era o problema do Espírito.
É notório que paira sobre a pátria o indiferentismo proveniente do espírito burguês, quando a economia se dilata como gás sem encontrar obstáculos a sua frente, transpondo fronteiras, contaminando culturas, rompendo com a tradição, reduzindo os homens a uma unidade anônima na sociedade invertebrada.
E é justamente neste clima de inquietações em que a brisa podre dos prazeres imediatos insistem em bater em nossas janelas, que uma plêiade de jovens irmanados num mesmo ideal, movidos pelos valores permanentes que fundamentam a existência do ser, consubstanciado na afirmação de Deus e da Santa Igreja Católica, pilares maiores da estrutura espiritual da nação, criaram o Centro Cívico e Cultural 7 de Outubro.
E é portando tão somente das armas do espírito e desembainhando a espada da virtude, que bradamos com ardor à mocidade de nosso país, concitando-a a atentarem para os nobres ensinamentos de nossos maiores de que a Pátria retribui ao homem – como afirma Fernando Aguiar - o amor daquela piedade que faz o sentimento nacional e ensina o homem a fixar-se ao solo da sua terra com aquele carinho e aconchego caseiros que tonam possível fazer a tradição do povo e criar raízes no patriotismo. Salientando que ao homem complexo de corpo e alma deve corresponder o patriotismo como complexo de corpo e alma coletiva do povo. E se o significado espiritual de Pátria leva a amá-la como “dever”, como “mandamento”, é porque amando à Pátria amamos ao seu espirito, e amarmos o nosso espírito nacional é, como disse essa admirável inteligência de Ramiro de Maetzu, amarmos a Deus.
(In Presença, Foz do Iguaçu - PR - Abril de 2005)
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