domingo, abril 17, 2005

JOÃO PAULO II, PASTOR UNIVERSAL

por Teresa Maria Martins de Carvalho

Bispo de Roma, Vigário de Cristo, sucessor de S. Pedro, Primaz da Itália, Arcebispo de Metropolita da Província Eclesiástica de Roma, Pastor da Igreja Universal, Cabeça do Colégio dos Bispos, Patriarca do Ocidente, Soberano do Estado do Vaticano, servo dos servos de Deus…
Quando um Papa é eleito recebe todos estes títulos cuja responsabilidade terá de assumir até ao fim do seu Pontificado. O mais significativo é, como se sabe, o de Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, lugar que define a precedência da Igreja de Roma “na caridade” que une todas as igrejas cristãs, e que se define logo nos primeiros tempos do cristianismo. – “Pedro, tu amas-me? Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21, 18) como foi apontado a Simão Pedro por Jesus Ressuscitado.
Quando percorremos o pontificado de João Paulo II, encontramos, visivelmente a corporização nele de estes títulos, um a um.
“- O bom pastor dá a vida pelas ovelhas”… “Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me.” (Jo 10, 11).
A vida de João Paulo II constituiu uma permanente doação, enfrentando perigos e cansaços, com muita coragem, serenidade e… bom humor.
O Papa superstar apostava no valor imprescindível, no enorme impacto da imagem da sociedade contemporânea. Prestou-se a todas as televisões, a todas as fotografias, a todas as perguntas dos jornalistas. Mostrou-se com crianças ao colo, exibindo um “sombrero” ou um toucado de penas, segurando um Koala, na visita à Austrália, ou envergando a capa negra dos estudantes de Coimbra que lha impuseram, depois de ouvirem um alegre “Olá, malta!” naquela voz poderosa e forte. Os jovens. A grande conquista de João Paulo II, tocando uma geração inteira, nascida já no deu pontificado. Jovens, milhares de jovens, multidões de jovens…
Não era difícil imaginá-lo, vestido de camponês, com o seu cajado e transportando nos seus robustos ombros a ovelha desgarrada. Esta missão de pastor universal cumpriu-a fielmente, à direita e à esquerda, mostrando a todos os homens que todos são homens, salvos por Jesus Cristo.
O peso intelectual da sua inteligência e cultura possibilitou-lhe enfrentar com sabedoria os temas candentes do nosso tempo. A coragem da fé, a força da coerência, a confiança na humanidade, a humildade na verdade e no perdão, pedido e dado, o afã nos caminhos da paz, do encontro e da conciliação.
Não querendo ficar confinado ao Vaticano, saiu, foi a quase todos os países (menos à China e à Rússia, para seu grande desgosto), ao encontro das pessoas, falar-lhes, aparecer, abençoar. O Papa espectáculo, que arrastava multidões onde quer que fosse, não as seduzia pela sua própria representação mas envergava Jesus Cristo, ele, Vigário, “o doce Cristo na terra” como dizia, do Papa, Santa Catarina de Sena. Nos últimos anos da sua vida, minado pela doença, mais visível se tornava, naquele espaço tremendo de levar adiante as suas tarefas, a figura de Cristo sofredor. “Ninguém desce da Cruz.” Dizia ele, quando admoestado. Acérrimo defensor da vida, aquele arrastar-se era vida até ao fim. Até quando Deus quisesse… Exemplo tão comovente e tão rico de humanidade na velhice e na doença. Naqueles gestos cansados, à beira do colapso, reviram-se os velhos e os doentes, sentindo-se portadores de sofrimento valorizado, neste endosso à Paixão de Cristo.
É uma carga imensa ser Bispo de Roma. João Paulo II não teve medo. Não ter medo foi mesmo a primeira tónica do seu pontificado: “Não tenhais medo!” E alinhou o seu arcaboiço físico e moral no cumprimento da sua vocação. O seu papel na queda do comunismo foi decisivo e era ver os países que iam saindo da órbita soviética apressarem-se a estabelecer relações diplomáticas com a Santa Sé, como se isso fosse sinal inequívoco de liberdade…
O encontro ecuménico de Assis em 1986, com os chefes religiosos de variadas religiões e que espantou o mundo, ficou também como sinal distintivo deste pontificado.
“João de Deus” lhe chamaram os brasileiros, na sua primeira viagem ao Brasil, no gesto tão brasileiro, carinhoso e exaltado, de dar sobrenome a quem reconhece grandeza e desperta afecto. PONTIFEX MAXIMUS, o Sumo Pontífice, é um título herdado da antiga Roma que designava o cargo religiosos de unir (“lançar pontes”) os vários grupos sacerdotais da cidade.
O homem que “lançou pontes” entre todos os homens teve o enterro maior e mais universal que houve no mundo. Inédito? Correspondeu por inteiro à personalidade de João Paulo II, peregrino da paz, da união e da concórdia. A multidão não era de admirar. João Paulo II e as multidões já se tinha visto. Acudiram à última homenagem os grandes deste mundo, cumprimentando-se entre si, cristãos (católicos, protestantes, ortodoxos), chefes de Estado inimigos na guerra, muçulmanos, judeus, agnósticos, reis e rainhas, principies, figuras políticas importantes. Todo o mundo à volta do Pastor Universal. “Servo bom e fiel, entra na alegria do teu Senhor”.
A ligação a Fátima comoveu-nos, a nós portugueses, e para sempre gravou no nosso coração a figura de João Paulo II.
Se é grande o peso de ser-se Papa, grande será também o de ser-se Papa depois deste, que Deus ajude e proteja o seu sucessor.

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