quinta-feira, março 11, 2010

A hora do Portugal Profundo

CARTA DO CANADÁ

Fernanda Leitão

A avaliar apenas pelo que a TV e os jornais de circulação nacional debitam de forma caudalosa, repetitiva, massacrante, os portugueses alimentam-se de boatos e coscuvilhices, o país está parado e todos, de joelhos ou de cócoras, esperam do céu o maná da salvação sem esforço. Quase se sugere que seja encomendada a missa do sétimo dia por Portugal. Mas, se dermos de barato todo este chinfrim e  estivermos atentos ao bater do Portugal Profundo, podemos perceber que boa parte do país resiste à desgraça que lhe foi reservada pela mais absoluta canalhocracia partidocrática.

O Portugal Profundo perfila-se por trás das páginas da imprensa regional, a mal amada, a enteada, a mal tratada pelo grande pecado de ser autêntica e desinteressada. Aparece de corpo inteiro na multidão de jovens que dão o melhor da sua inteligência e saber na investigação científica, dentro e fora do país, nas empresas ditas de nicho que facturam milhões por ano, na prduçãoliterária e artística. Portugal Profundo é o murro na mesa da teimosia de empresários, quase crucificados pela agiotagen, que se recusam a deixar caír os braços. Ele está no olhar directo e nas palavras sem embuste dos que lavram a terra e levam os barcos ao mar, em troca de uma triste côdea para a família.  Portugal Profundo abre os braços aos que, consumidos por cidades que se transformaram em arenas de ódio e chicana, vão viver para a província e se tornam agricultores, pequenos artesãos, pequenos comerciantes, pequenos hospedeiros de turismo rural de grande qualidade.

Para todos estes, não há cantigas sindicais e políticas: sabem, de um saber secular que não se explica, que lhes incumbe salvar a barca em meio da tempestade.  Estão dispostos a todos os sacrifícios por Portugal.

E estes que lutam, silenciosamente, heroicamente, no Portugal Profundo, sabem que não há, nunca houve, políticos feitos na fábrica, por encomenda, perfeitinhos e sem mácula, e por isso saberão lidar, em benefício dos seus empreendimentos, com o lado menos mau desses ídolos com pés de barro. Hão-de fazê-lo por amor à Liberdade. Também sabem que não há, nunca houve, poder político, jurídico ou jornalístico totalmente independente e imparcial porque, pela experiência, sabem que só a morte não depende de nada e corta a direito sem olhar a títulos, riquezas ou favores.

Saberão lidar com isso por amor à Justiça e à Verdade.

Apesar de todos os pesares, não há  que desanimar  nem confundir: sigam os passos exemplares dos que resistem. Esta é a Hora do Portugal Profundo, a hora decisiva.

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