Muito se tem escrito e opinado sobre a "crise dos combustíveis" . sendo indiscutível que o mercado do crude está desregulado, alvo de enormes especulações e que está a afectar a produção agrícola de certos productos que servirão para a produção de combústveis. Mas será o que vimos assistindo no nosso País é totalmente derivado da situação internacional? Ora vejamos:
1- O preço do combustível nas bombas tem subido em percentagem muito superior ao aumento do preço, em euros, a que a Galp compra o crude. Faça-se a ginástica que se quiser com os números ˆ futuros, atrasados ou seja o que for - as contas nunca batem certo;
2- A Galp apresenta lucros no 1º trimestre do corrente ano que são substancialmente superiores aos do trimestre homólogo de 2007 (mais de 100%?), o que significa que não foi o aumento no mercado internacional do crude que fez disparar, na medida em que disparou, em Portugal, os preços dos combustíveis;
3- Não houve crise de falta de combustíveis devido a dificuldades de obtenção de crude, o que significa que as reservas em Portugal nunca estiveram em causa. Portanto o CNPCE não é chamado, neste contexto, pois a reserva estratégica não foi posta em causa (é bom lembrar que o objectivo do CNPCE é apoiar o esforço do País em caso de conflito internacional). O que se passou em Portugal foi o impedimento de circulação de veículos, nas rodovias, que "secou" os postos de abastecimento" Portanto, um problema totalmente nacional;
4- O impedimento de circulação de veículos pesados a que se assistiu foi uma reacção (pode-se discutir se foi exagerada ou não, se é legal ou não, etc.) ao aumento desmesurado do preço dos combustíveis. Provocou esta reacção como certamente irá provocar outras reacções pois tal aumento pôe em causa o equilibrio (frágil) da nossa economia.
5- Se o imposto sobre os combustíveis e IVA não aumentaram nos últimos 12 meses, o custo da mão de obra pouco aumentou e certamente que o lucro dos revendedores também não, este aumento ao público é proveito da unica empresa que faz a refinação do crude em Portugal (não deixa de ser curioso estudar sobre a cartelização dos revendedores, quando todos vão buscar o producto à mesma refinaria....) Assim sendo, o problema está no preço do combústivel à porta da refinaria, que curiosamente nunca me foi dado a conhecer e pelos vistos os orgãos de comunicação social também não têm grande interesse em conhecer. Mas tendo em conta os lucros da refinaria atrás indicados, pode-se imaginar o que terá aumentado o dito preço, sem ser devido ao custo de produção.
6- Mas sobre esta questão ouvi o sr. Primeiro Ministro afirmar na A.R. que o Governo não pode intervir numa empresa privada. Curioso! O Estado que está sempre tão atento ao cidadão considera não poder actuar contra este aumento escandaloso de lucros de uma empresa portuguesa e sediada em Portugal e que é a única que produz um bem essencial para o País! Não será neste âmbito que se tem de falar em crise e em crise do Estado ? A Democracia serve ou não para eleger os governantes que tomem conta dos interesses da generalidade dos portugueses ?
Lisboa, 15 de Junho 2008
Comandante Temes de Oliveira
Instituto da Democracia Portuguesa
Sem comentários:
Enviar um comentário