Os Estados Unidos parecem continuar a sonhar com a Comunidade Transatlântica, para o que contarão ainda com o apoio do Canadá e do Reino Unido. E por isso pedem o alargamento da NATO, onde a Rússia teria também um lugar, se o quisesse ocupar, dizem-nos.
A Alemanha e a França resolveram recusar a Bush o que no entanto já prometeram dar a Obama: uma NATO com a Geórgia e a Ucrânia.
O espaço da União Europeia tem centro numa Alemanha que, não existindo militarmente, se tem vindo a apoiar nos EUA e, agora, numa França que diz também querer integrar a estrutura militar da NATO.
Basta ler a imprensa oficiosa francesa, para perceber que o projecto da França não é o de fortalecer a NATO, antes o de nos seus escombros poder vir a levantar umas "Forças Armadas Europeias", com que julga ser possível controlar a bacia do mediterrâneo e ditar os destinos do Médio Oriente, etc. Para nossa tranquilidade, é bom saber que a França não poderá realizar o seu projecto sem a cumplicidade de árabes e russos. Uns e outros, ainda em larga medida na órbita americana.
Para verificar se os dados da equação estratégica estão a mudar, os árabes têm os olhos postos nos persas, enquanto a China vai espreitando por cima do ombro da Rússia (através da Organização de Cooperação de Xangai).
Se a actual fase de globalização se baseia sobretudo em fluxos financeiros (com que ontem se comprou a Croácia, a República Checa, ou a Hungria... e hoje se está a tentar comprar a Sérvia) a verdade é que já foi anunciada a recessão económica nos Estados Unidos. Doravante, comprar o quê e com quê? Isto enquanto dois perturbadores estão a emergir na Eurásia.
As perspectivas para a paz no extremo ocidental da Eurásia não são muito animadoras. Além do retorno dos balcãs ao primeiro terço do século XX, para complicar, não tem sido fácil identificar os verdadeiros perturbadores da região.
Em casos semelhantes, aconselha a prudência que se verifique com atenção a lista dos derrotados e vitoriosos da última guerra, no caso a "guerra fria" terminada em 1990. Esta teve dois claros vencedores: a Alemanha e os EUA. Mas não se tem dado a devida atenção aos dois mais claros derrotados (para além da URSS, hoje inexistente): a França e o Reino Unido.
É certo que a França não tem sabido esconder o seu mau perder, em contraste com um Reino Unido que, pelo menos até às últimas eleições na Austrália, com grande mestria tem sabido esconder a sua derrota. Até quando se manterá este jogo do "esconde-esconde"?
No passado, em situações semelhantes, a lógica financeira deu com muita facilidade lugar à lógica das armas. Para segurar o Iraque, o próximo passo militar dos americanos pode bem ser dado no Irão, como insistemente se anuncia no Reino Unido. Na verdade, não restam muitas alternativas aos americanos, mas será que desta vez terão a companhia de britânicos?...
Resta-nos a esperança de que os próximos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, não venham a ser como os de Munique, em 1936.
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