quinta-feira, junho 15, 2006

Violência nas Escolas

CARTA DO CANADÁ

por Fernanda Leitão


Recentemente, a RTP-Internacional transmitiu para todas as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo uma reportagem sobre a violência nas escolas, seguida de um debate entre Fátima Bonifácio, Eduardo Sá, Isabel Cluny e Jorge Pedreira, respectivamente professora universitária, psicólogo clínico, professora do ensino secundário e secretário do estado a que a educação chegou em Portugal. Antes de mais nada, apraz referir a excelente moderação feita por José Alberto de Carvalho.
A reportagem, realizada a partir de máquinas de filmar dissimuladas em salas de aula, com consentimento pleno dos conselhos de professores, é tão real e forte que faz doer. No caso de nós outros, os residentes nestas paragens, fez doer e muito. É verdade que amigos e familiares, trabalhando no ensino em Portugal, muitas vezes se nos queixaram da violência dos alunos, do desamparo em que trabalham, do desespero que os invade cada manhã, mas nunca realizámos que a situação fosse tão séria e degradante. Foi um grande choque para os emigrantes. E uma vergonha, depois de 32 anos de promessas ocas, sobretudo se pensarmos que os imigrantes de vários países que rumaram a Portugal têm de sujeitar os seus filhos a tão bárbaro ambiente. Que lástima os emigrantes portugueses terem de lamentar os imigrantes que vivem em Portugal!
A violência das crianças, como muito bem apontaram o psicólogo clínico e a (inteligentíssima e corajosa) Fátima Bonifácio, tem sempre origem na violência familiar, na aridez do afecto, no abandono sofrido diariamente. É óbvio que as crianças e os jovens descarregam a raiva e o desconforto onde calha e em cima de quem calha. Neste caso, os professores e eles mesmos uns com os outros. Aos professores, neste tempo de descalabro, tem cabido aguentar uma dupla violência: a dos alunos e a dum ministério que, nunca indo à raíz dos problemas, tem a desumanidade de atribuir aos professores o insucesso escolar, numa generalização absolutamente assassina. Mas de quem traz o ensino do português no estrangeiro em completo desamparo, a ponto de sanear os melhores coordenadores para manter em lugares autênticos aventureiros, de quem procede assim, espera-se tudo. Até que, à falta de melhor tarefa, faça retirar das escolas portuguesas as cruzes, sabe-se lá a mando de quem. Há horas no mundo em que nos países anda o diabo à solta. Tempos da Besta.
O ministério da Educação tem sido, desde 1974, palco dos maiores desconchavos, das maiores corrupções e compadrios, dos mais completos festivais de incompetência e arrivismo. Basta lembrarmos os ministros e secretários de estado que por lá têm passado. Que bom seria se este fosse o único ministério a sofrer de tão prolongada mazela, mas ainda assim, basta este exemplo para avaliarmos de quão pouca importância este regime tem dado à educação, ao saber, à cultura, enfim ao único capital que não se perde nem se esgota.
Fátima Bonifácio, com evidente aprovação da professora Cluny e do psicólogo Eduardo Sá, entende que as crianças violentas não podem continuar a ser violentadas por famílias que não o sabem ser. E entende bem. O tumor tem de ser arrancado duma vez e em cirurgia social sem peias. Está em jogo toda uma geração e também o futuro de Portugal.
Os professores, excepto aquela minoria que vive de cunhas e de baixas fraudulentas (algumas a partir do estrangeiro) e de outras golpadas sujas, os professores, dizíamos, estão a ser queimados pelo próprio ministério. E todo o povo tem de saber isto. Precisam de apoio e não de censuras descabidas.
Resumindo (em calão académico): o Jorge Calhau estendeu-se ao comprido, para ficar bem no retrato com a ministra. Que remodelação ministerial tão necessária!

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