CARTA DO CANADÁ
por Fernanda Leitão
Na Pátria julga-se que os emigrantes, abanando a árvore das patacas como modo de vida, estão irremediavelmente longe da realidade nacional pelo que será fácil aos políticos, que aterram nas comunidades como os milhafres quando é caso disso, obterem adesão e votos em troca de promessas eleiçoeiras. Os portugueses que não saíram do país têm um retrato falseado do que de facto pensam e sentem os emigrantes, graças a diplomatas relapsos, a deputados pela emigração mentirosos ou omissos por conveniência, devidamente ajudados por uns quantos correspondentes da LUSA que, embora pagos pelo dinheiro que os contribuintes são obrigados a esportular para manter essa agência noticiosa estadual, tratam de servir apenas, e só, os partidos a quem devem o tacho. Retrato falseado que, por inércia, a comunicação social veicula, sem curar de saber o que realmente se passa. A formidável abstenção eleitoral na emigração seria um cartão vermelho incontornável, a exigir urgente e aprofundado estudo, se Portugal tivesse a dirigir os seus destinos políticos sérios e decentes. Mas não é, infelizmente, o caso. Portugal está a asfixiar num novelo de faz conta, tecido e mantido pela camarilha partidocrática e pelos aproveitadores de todos os regimes.
Tem-se como assente, na Pátria, que o emigrante é um pouca-coisa que só lê a BOLA. De facto, esse é o jornal nacional mais distribuído nas comunidades emigrantes. Mas não se diz, por ignorância ou má fé, que o emigrante lê, e avidamente, a imprensa regional – aquela que lhe diz concretamente o que se passa na sua região e no país. Ao que deve acrescentar-se a internet, sobretudo na área dos blogs, o telefonema semanal para a família e amigos, e também a RTP-Internacional que lhe mostra o estendal abominável da coisa pública porque as imagens falam por si, nem é preciso dar-se atenção à conversa para se perceber que tudo aquilo é uma peixeirada em pátio de cantigas. Politicamente falando, para os emigrantes o longe faz-se perto. Anda de olhos abertos e não vai na arenga das delegações partidárias locais nem nas postas de prosa corrompida e medíocre de jornais que vivem na babugem do subsídio ou do encosto que o deputado da emigração prometeu.
A proclamada parranice dos emigrantes foi chão que deu uvas porque, para além do mais, vai a Portugal uma vez por ano. E de ano para ano, vem mais desencantado, mais zangado. Zangadíssimo, nos últimos anos que, no dizer castiço do homem da rua, têm sido de pouca vergonha político-partidária. Ao que é prudente acrescentar as mentiras que o escarmentam, bacoradas por uns que prometem mundos e fundos aos antigos combatentes, sabendo que o país está em péssima situação financeira, por outros que se julgam apetrechados a botar sentença sobre o ensino da língua portuguesa no estrangeiro, pelos que garantem a melhoria de serviços consulares, pelos que fazem ouvidos de mercador ao abandono jurídico daqueles emigrantes que são vigarizados em compras de imóveis ou em maus serviços bancários, etc., etc, etc. Um muro de lamentações maior que o de Jerusalém.
Há momentos em que os emigrantes se identificam com António Nobre, quando no SÓ exclamou amargurado: “amigos, que desgraça nascer em Portugal”. Mas são mais os momentos em que se indignam, se revoltam, porque esperam o regresso de Portugal a si mesmo, à sua vocação centenária de modéstia e honradez, de frugalidade e verdade.
Por isso mesmo ainda têm uma centelha de esperança quando um ministro que não pode ser acusado de corrupto ou de incompetente, no caso o dos Negócios Estrangeiros, promete limpar consulados e embaixadas dos parasitas que os enxameiam por via da colocação política. Será um pequeno passo, mas é um passo no bom sentido. Como podemos ficar indiferentes à nomeação de um biólogo para o cargo de conselheiro social, que sabe tanto dessa área como eu de lagares de azeite? É o caso, nos dias que correm, em Otava, onde passa férias pagas pelo erário público um funcionário do Ministério do Ambiente, apenas e só porque é amigalhaço do secretário de estado das Comunidades e foi membro do gabinete de Sócrates quando o actual primeiro ministro passou por essa pasta. E dum outro que lê livros sem parar perante uma turma de adultos, autoproclamado professor de Português graças ao laxismo do Instituto Camões. Ou de outro, que desde a África do Sul só participa em banquetes e jantaradas, sem que tenha feito nada pelo ensino da língua portuguesa, mas está pago como tal por todos nós. Enquando estes parasitas refocilam, num fartar vilanagem, quem é competente, honesto e cumpridor, é saneado disfarçadamente, como quem não quer a coisa, por uns pedreiras de serviço à partidocracia reles que está a desgraçar o país.
Eleições? As autárquicas, vistas deste lado, puseram o cidadão comum sem fé nenhuma na justiça portuguesa, essa que faz greve porque lhe buliram nas regalias, mas a quem devemos os Isaltinos, os Ferreiras Torres, as Fátimas de Felgueiras e companhia, essa que nunca ressarciu e dignificou os emigrantes roubados pela Caixa Económica Faialense mas inocentou quem participou da quadrilha. As presidenciais, trazem ao menos a concordância de todos nós com a propaganda que grita que Mário Soares é o espelho do regime. Nada mais verdadeiro. Ao menos isso. Estamos fartos de saber que assim é, mas sempre é bom que outros o digam. O PS pode limpar as mãos à parede. Pensa-se que ganhará Cavaco Silva, mas sobretudo porque se demarcou dum PSD atirado à sarjeta pelos Barrosos, os Santanas Lopes, os Cesários, as Manuelas Aguiares, essa pandilha toda. O tempo dirá.
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