segunda-feira, julho 04, 2005

Bento Bembe

Editorial em Ibinda.com

Rui Neumann

Bento Bembe foi detido quando multiplicava esforços para a resolução pacífica do conflito em Cabinda. Uma prova clara que Angola não está disposta a qualquer negociação que conduza à paz em Cabinda, assim como é uma prova que os Estados Unidos da América (EUA) aprovam e caucionam em absoluto os excessos do Governo de Angola em Cabinda.

Contrariamente às contas secretas na Suíça, Inglaterra e na Madeira (entre muitas outras) que vários membros do Governo angolano possuem, contrariamente também às comissões secretas que vários estrangeiros e eminências pardas recebem do Governo de Angola, contrariamente à opacidade da governação angolana, Bento Bembe nunca se escondeu nem nunca viveu em secretismo, nasceu pobre e nunca conheceu a riqueza financeira, devido ao seu empenho e dedicação à luta de libertação do povo binda, tal como no passado fizeram Agostinho Neto, Eduardo Mondlane e Amílcar Cabral, pelos seus próprios povos.

Bento Bembe estava em Haia para falar de paz. «Paz», uma palavra que perde completamente o seu significado e valor, quando a comunidade internacional toma uma postura de indiferença total, quando homens de coragem pretendem que «paz» não seja só três letras, mas sim uma realidade assente solidamente em três pilares.

Bento Bembe foi detido na Holanda e não em Cabinda, uma prova evidente da proliferação das mentiras de destruição massiva do Governo de Angola, pois Angola afirma que controla todo o território de Cabinda. Porém, Bento Bembe é detido na Holanda, um verdadeiro paradoxo para reflectir.

Outro paradoxo desta detenção é o facto de ter sido efectuada a pedido dos Estados Unidos, dado que foram os mesmos EUA que ajudaram financeiramente, directamente e através da ChevronTexaco, a FLEC durante longos anos. Mas o valor do ouro negro é mais forte que a dignidade.

Não é por acaso que a detenção de Bento Bembe ocorre num momento em que várias testemunhas afirmam que Angola prepara uma importante ofensiva em Cabinda, evidentemente negada por Angola, como também não é por acaso que a detenção ocorre quando Angola se prepara para eventuais eleições, e Cabinda será o «caso bicudo» tal como aconteceu em 1992. Estas faltas de «acaso» são uma prova acrescida que Angola não controla a situação em Cabinda, mas acima de tudo que Angola teme a resistência e a revolta crescente no território, daí como não pode esmagar eternamente e consecutivamente o povo, ataca os seus chefes, por intermédio dos EUA, numa tentativa ilusória de decapitar a vontade de um povo e o percurso irreversível da historia.

A detenção de Bento Bembe não é uma vitória para Angola ou para os EUA, é sim a capitulação da réstia dos argumentos destes dois países que se afirmam como paladinos da paz.




fonte: Ibinda.com

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