segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Santo Agostinho definiu «verdadeira laicidade»

A «verdadeira laicidade» é um conceito antigo que já havia sido definido por Santo Agostinho, recorda Bento XVI, ao declarar a diferença entre a esfera política e a esfera da fé.

Joseph Ratzinger, que dedicou ao teólogo e filósofo do norte da África sua tese doutoral, dedicou a quarta das audiências gerais a este «padre da Igreja que deixou o maior número de obras», algumas delas «de importância capital, e não só para a história do cristianismo, mas também para a formação de toda a cultura ocidental».

Entre outras, o pontífice recordou «De civitate Dei» [A Cidade de Deus], «obra imponente e decisiva para o desenvolvimento do pensamento político ocidental e para a teologia cristã da história, foi escrita entre os anos 413 e 426, em 22 livros».

A ocasião de sua redação foi o saque de Roma por parte dos godos no ano 410. Ante a queda de Roma, alguns pagãos punham em dúvida a grandeza do Deus cristão, que parecia incapaz de defender a cidade.

«A esta objeção, que também tocava profundamente o coração dos cristãos, Santo Agostinho responde com esta grandiosa obra, ‘De civitate Dei’, declarando o que deveriam esperar de Deus e o que não podiam esperar d’Ele, qual é a relação entre a esfera política e a esfera da fé, da Igreja.»

«Ainda hoje este livro é uma fonte para definir bem a autêntica laicidade e a competência da Igreja, a grande esperança que nos dá a fé», declarou.

Como vem explicando Bento XVI em seu pontificado, a laicidade não significa repressão da liberdade religiosa (isso seria mais o laicismo), mas a garantia para que os crentes das diferentes religiões possam exercer seus direitos fundamentais.

Como o Papa explicou, esta obra de Agostinho de Hipona se baseia em uma interpretação fundamental de história, «a luta entre dois amores: o amor próprio, ‘até chegar ao menosprezo de Deus’ e o amor a Deus, ‘até chegar ao desprezo de si mesmo’».

O Papa repassou outros dos escritos que deixou o santo africano, um dos autores mais prolíferos da história (depois de sua morte se contabilizaram ao menos 1.300 escritos, ainda que se considera que escreveu entre 3.000 e 4.000 homilias).

Como é lógico, comentou seu livro mais publicado, as «Confissões», autobiografia na qual «a própria miséria à luz de Deus se converte em louvor de Deus e em ação de graças, pois Deus nos ama e nos aceita, transforma-nos e nos eleva para si mesmo».

«Graças às ‘Confissões’, podemos acompanhar, passo a passo, o caminho interior desse homem extraordinário e apaixonado por Deus», declarou o Papa.

Citando o amigo e biógrafo de Agostinho, o Papa concluiu explicando que o grande santo e teólogo está «sempre vivo» em suas obras.

«Está realmente vivo em seus escritos; está presente em nós e deste modo vemos também a permanente vitalidade da fé pela qual ele entregou toda a sua vida», concluiu.

As considerações de Bento XVI sobre Santo Agostinho, nas quais não deixou de confessar sua admiração por este pensador, fazem parte da série de catequeses que está oferecendo sobre as grandes figuras dos inícios da Igreja.

(Fonte: Zenit.org)

Sem comentários: