A Igreja de São Vicente de Fora foi ontem palco de uma cerimónia de homenagem ao Rei Dom Manuel II, a que assistiram Suas Altezas Reais, Dom Duarte e Dona Isabel, Duques de Bragança, marcando assim o 75º aniversário da morte do último Rei reinante em Portugal.
A Cerimónia de homenagem, que foi organizada por iniciativa da Associação da Nobreza Histórica de Portugal e pela Real Associação de Lisboa, consistiu na celebração de uma Missa Soleníssima de Sufrágio, a que se seguiu a homenagem no Panteão Real e deposição de uma coroa de flores no túmulo do Rei.
Durante a homenagem no interior do Panteão Real, o Presidente da Associação da Nobreza Histórica de Portugal, Conde de Nova-Gôa, relembrou em discurso dirigido a todos os presentes, a vida de Dom Manuel II e o percurso do último Rei reinante de Portugal, que, recorde-se, partiu para o exílio forçado na sequência de uma intentona revolucionária republicana em 1910. A História e uma análise desapaixonada dos factos tem feito do Rei Dom Manuel II uma das figuras que mais tocam no sentimento dos Portugueses, pelo percurso da sua vida em Portugal e, depois de 1910, em Twickenham-Richmond, em Londres, onde viveu no exílio até à data da sua morte, em 2 de Julho de 1932.
Filho mais novo do Rei Dom Carlos I e irmão do Príncipe Herdeiro, Dom Luís Filipe, ambos barbaramente assassinados no Terreiro do Paço em Lisboa, em 1 de Fevereiro de 1908, Dom Manuel por pouco não escapou a igual sorte, sendo atingido num braço.
Profundamente marcado por um acto bárbaro que deixou o nome de Portugal manchado no Mundo inteiro, Dom Manuel II soube corajosamente assumir as responsibilidades de Estado, sendo aclamado Rei de Portugal e reabrindo o Parlamento pouco depois. Parecia pois, que apesar do terrorismo republicano e da subversão contra o Estado de Direito por grupos republicanos, que no parlamento tinham afinal apenas 4 deputados, Portugal poderia retomar o caminho democrático em paz.
Todavia, como nos diz Eça de Queiróz (artigo disponível na biblioteca FDR), a questão não era simples. O terrorismo contra o Estado, a desordem pública instigada por uma mão cheia de carbonários sem a menor consideração pela legitimidade democrática e o Estado de Direito, e o aliciamento gradual das Forças Armadas conduziram Portugal para uma inevitável intentona armada republicana cuja infeliz vitória escorraçou o Rei para o exílio forçado, primeiro para Gibraltar e depois para Inglaterra, em Twickenham, perto de Richmond, nos arredores de Londres.
Coincidência ou não - a História o dirá talvez um dia - a intentona revolucionária republicana acontece dias antes de ser iniciado o julgamento dos arguídos do Caso do Regicídio, que estava previsto para 25 de Outubro de 1910. A anarquia e o descalabro tremendo da 1ª República, enquanto arruinava o País e o prestígio de Portugal, tratou de dar sumiço ao Processo do Regicídio, mas do qual Dom Manuel II recebeu uma cópia completa, no exílio. Mas esta cópia do Processo foi roubada no decurso de um assalto à residência de Dom Manuel II, em Londres, em 1932 pouco tempo antes da morte do Rei.
Em 1 de Julho de 1932, Dom Manuel II deslocou-se a Fulham, onde jogou uma partida de ténis, encontrando-se de excelente saúde. Mas no dia seguinte, 2 de Julho, o Rei sofre um edema súbito da glote. Tratando-se de um edema da glote, porque não fez o médico que assistiu o Rei uma traqueotomia que permitisse ao Rei respirar, até que se pudesse apurar e tratar a causa do edema?... Ou era a "causa" razão para que se não fizesse qualquer tratamento?...
Dom Manuel II morre portanto por asfixia em 2 de Julho de 1932, uma morte horrível, prematura e evitável, sem deixar descendência directa. Os restos mortais são mantidos em Inglaterra inexplicavelmente por um mês, sendo finalmente trasladados para Lisboa, recebendo honras de Estado em 3 de Agosto.
O Rei Dom Manuel II, sabemos onde está! Está no Panteão Real de São Vicente de Fora, e foram muitos, às centenas, os que ontem lá foram prestar homenagem justa e merecida a um Rei que Portugal maltratou injustamente e de forma ignóbil.
As honras de Salazar não compensam, nem a ignomínia dos maus tratos a que foi sujeito Dom Manuel II, nem o posterior abuso de Poder em manipular os bens da Casa de Bragança.
Pena é que não saibamos do paradeiro do Processo do Regicídio. Desapareceu e nunca mais foi encontrado.
Talvez um dia, em vez de uma simples ainda que solene homenagem a Dom Manuel II, possamos finalmente fazer-Lhe justiça, oferecendo aos Portugueses a oportunidade e o direito de saberem toda a verdade sobre o Regicídio e por que métodos se deu cabo de 764 anos de História, em quatro anos, de 1906 a 1910. Essa, sim, será a justa homenagem que poderemos um dia prestar a Dom Manuel II.
Redacção FDR 03/07/07
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