Nos liberi sumus; Rex noster liber est, manus nostrae nos liberverunt... [Nós somos livres; nosso Rei é livre, nossas mãos nos libertaram...]
sábado, março 31, 2007
Prémio Infante Dom Henrique
segunda-feira, março 19, 2007
O respeito pela vida
PALAVRAS DE S. A. R. O DUQUE DE BRAGANÇA POR OCASIÃO DA ENTREGA DAS MEDALHAS DE MÉRITO DA ORDEM DE VILA VIÇOSA A 17 / 3 / 2007 :
Acreditamos na democracia e no Estado de Direito como a melhor forma de representar o interesse de todos; como o mais justo dos sistemas políticos; e como o caminho para evitar o totalitarismo e apurar os melhores valores da sociedade que queremos construir.
Talvez por isso, é estranho receber - através da Democracia e do Estado de Direito - uma lei que afronta a representação do interesse de todos; que não aplica a justiça no primeiro dos direitos - que é o direito à vida; que não evita o totalitarismo de um ser humano sobre a vida de outro ser humano; e que nem sequer apura os nossos valores éticos que residem no humanismo e no respeito pela vida, aliás consagrado na Constituição.
Sabiamos que, ao referendar o direito à vida, havia o risco de ele se tornar discricionário, como aconteceu. Mas como foi possível chegar a este ponto? O bispos portugueses, reunidos em Fátima três dias depois do Referendo, identificaram várias causas para esta «mutação cultural no povo português»:
· «a mediazação global de correntes de opinião»;
· «lacunas na formação da inteligência»;
· um «sistema educativo» que não educa «no sentido da vida»;
· «o individualismo no uso da liberdade e na busca da verdade que influencia o conceito e o exercício da consciência pessoal»
· «a relativização dos valores que afectam a vida das pessoas e da sociedade».
Uma mutação cultural que «deve ser encarada com realismo pois indicia o contexto em que somos chamados a exercer a nossa missão».
Na verdade, o resultado do Referendo não desautoriza os valores defendidos pelo «Não». O respeito pela vida é maior do que o respeito pela maioria das opiniões. Como os bispos disseram a 11 de Fevereiro: «o facto de o aborto passar a ser legal não o torna moralmente legítimo». Ou como disse, na passada terça-feira, o Papa Bento XVI «a vida humana humana, em todas as suas fases desde a concepção até à morte natural, é um valor inegociável».
Precisamos, por isso, de continuar defender o Direito à Vida no nosso País onde hoje é possível, é legal e é financiável com dinheiros públicos, resolver o problema de um ser humano, com a morte de outro ser humano, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado.
Desde o Referendo de 1998, que muitos de vós praticam a defesa da vida em múltiplas obras que defendem as mães e os filhos do nosso País.
Fazem-no com abnegação e generosidade. Fazem-no todos os dias, desinteressadamente, em silêncio, sem considerarem obstáculos e desânimos. Fazem-no exemplarmente. São metódicos e criativos na aplicação dos princípios em que acreditamos. O seu trabalho foi vital para consolidar, ainda mais, os argumentos da campanha do «Não».
O Referendo ao Aborto não é o primeiro caso na nossa história que nos desvia dos melhores valores do humanismo e do respeito pela vida. Não nos podemos orgulhar, por exemplo, da expulsão dos portugueses de religião judaica e dos padres Jesuítas ou da extinção das ordens religiosas e confisco das suas propriedades. Mas conseguimos ultrapassar esses momentos e hoje rejeitamos todo o tipo de perseguição religiosa.
Acredito que, se não desistirmos, também o respeito pela vida será, de novo, uma realidade em Portugal. «É na dificuldade que se forja o carácter». Esse carácter com provas dadas durante toda a campanha que antecedeu o Referendo ao Aborto que hoje aqui saudamos e agradecemos empenhadamente.
Estas pessoas improvisaram instalações, procuraram meios onde nada havia, apuraram argumentos e seleccionaram os protagonistas que, entre todos, melhor podiam representar a causa em público. Organizaram caminhadas e confiaram, com moderação, na razão que lhes assiste. Percorreram o País de Norte a Sul para melhor esclarecer a decisão dos eleitores. E quantas vezes o fizeram em ambientes hostis e em absoluta minoria!
Não desistiram perante a falta de recursos. Não desanimaram diante da poderosa vaga de distorções em que se fundamentou a campanha do «Sim». E, tal como em 1998, não se conformam com o resultado apurado por uma minoria de portugueses .
Merecem todo o nosso reconhecimento e gratidão. É o que nos trás hoje a uma Igreja dedicada à Encarnação.
Manifestamos assim aos movimentos de defesa da vida o maior apreço pelo trabalho que realizam em Portugal. Este reconhecimento encontra forma na entrega da Medalha de Mérito da Real Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Esta condecoração foi instituída pelo meu trisavô o Rei Dom João VI, precisamente para reconhecer altos serviços prestados à Nação.
Acreditamos na democracia e no Estado de Direito como a melhor forma de representar o interesse de todos; como o mais justo dos sistemas políticos; e como o caminho para evitar o totalitarismo e apurar os melhores valores da sociedade que queremos construir.
Talvez por isso, é estranho receber - através da Democracia e do Estado de Direito - uma lei que afronta a representação do interesse de todos; que não aplica a justiça no primeiro dos direitos - que é o direito à vida; que não evita o totalitarismo de um ser humano sobre a vida de outro ser humano; e que nem sequer apura os nossos valores éticos que residem no humanismo e no respeito pela vida, aliás consagrado na Constituição.
Sabiamos que, ao referendar o direito à vida, havia o risco de ele se tornar discricionário, como aconteceu. Mas como foi possível chegar a este ponto? O bispos portugueses, reunidos em Fátima três dias depois do Referendo, identificaram várias causas para esta «mutação cultural no povo português»:
· «a mediazação global de correntes de opinião»;
· «lacunas na formação da inteligência»;
· um «sistema educativo» que não educa «no sentido da vida»;
· «o individualismo no uso da liberdade e na busca da verdade que influencia o conceito e o exercício da consciência pessoal»
· «a relativização dos valores que afectam a vida das pessoas e da sociedade».
Uma mutação cultural que «deve ser encarada com realismo pois indicia o contexto em que somos chamados a exercer a nossa missão».
Na verdade, o resultado do Referendo não desautoriza os valores defendidos pelo «Não». O respeito pela vida é maior do que o respeito pela maioria das opiniões. Como os bispos disseram a 11 de Fevereiro: «o facto de o aborto passar a ser legal não o torna moralmente legítimo». Ou como disse, na passada terça-feira, o Papa Bento XVI «a vida humana humana, em todas as suas fases desde a concepção até à morte natural, é um valor inegociável».
Precisamos, por isso, de continuar defender o Direito à Vida no nosso País onde hoje é possível, é legal e é financiável com dinheiros públicos, resolver o problema de um ser humano, com a morte de outro ser humano, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado.
Desde o Referendo de 1998, que muitos de vós praticam a defesa da vida em múltiplas obras que defendem as mães e os filhos do nosso País.
Fazem-no com abnegação e generosidade. Fazem-no todos os dias, desinteressadamente, em silêncio, sem considerarem obstáculos e desânimos. Fazem-no exemplarmente. São metódicos e criativos na aplicação dos princípios em que acreditamos. O seu trabalho foi vital para consolidar, ainda mais, os argumentos da campanha do «Não».
O Referendo ao Aborto não é o primeiro caso na nossa história que nos desvia dos melhores valores do humanismo e do respeito pela vida. Não nos podemos orgulhar, por exemplo, da expulsão dos portugueses de religião judaica e dos padres Jesuítas ou da extinção das ordens religiosas e confisco das suas propriedades. Mas conseguimos ultrapassar esses momentos e hoje rejeitamos todo o tipo de perseguição religiosa.
Acredito que, se não desistirmos, também o respeito pela vida será, de novo, uma realidade em Portugal. «É na dificuldade que se forja o carácter». Esse carácter com provas dadas durante toda a campanha que antecedeu o Referendo ao Aborto que hoje aqui saudamos e agradecemos empenhadamente.
Estas pessoas improvisaram instalações, procuraram meios onde nada havia, apuraram argumentos e seleccionaram os protagonistas que, entre todos, melhor podiam representar a causa em público. Organizaram caminhadas e confiaram, com moderação, na razão que lhes assiste. Percorreram o País de Norte a Sul para melhor esclarecer a decisão dos eleitores. E quantas vezes o fizeram em ambientes hostis e em absoluta minoria!
Não desistiram perante a falta de recursos. Não desanimaram diante da poderosa vaga de distorções em que se fundamentou a campanha do «Sim». E, tal como em 1998, não se conformam com o resultado apurado por uma minoria de portugueses .
Merecem todo o nosso reconhecimento e gratidão. É o que nos trás hoje a uma Igreja dedicada à Encarnação.
Manifestamos assim aos movimentos de defesa da vida o maior apreço pelo trabalho que realizam em Portugal. Este reconhecimento encontra forma na entrega da Medalha de Mérito da Real Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Esta condecoração foi instituída pelo meu trisavô o Rei Dom João VI, precisamente para reconhecer altos serviços prestados à Nação.
sábado, março 03, 2007
Uma questão de tamanho
CARTA DO CANADÁ
por Fernanda Leitão
Tinha Salazar caído da cadeira há uma temporada e vivia-se aquele tempo enervado que por inteiro cabia na corriqueira frase “mas quando é que esta chatice acaba?”, quando apareceu em Lisboa um pitoresco casal de literatos oriundo da alta burguesia do Porto. Ambos bonitos e jovens, ambos vestidos e penteados pelo mais romântico figurino do século XIX, ambos irreverentes e dados a provocar agitação.
Um belo dia convidaram o Chiado em peso, o que incluia territórios tão rapioqueiros como o Bairro Alto, o Rossio e zonas aderentes, para um sarau de poesia na Sociedade de Belas Artes. Caíu lá o Carmo e a Trindade, ao cheiro de uma seroada catita. O salão rebentou pelas costuras e, pelo agitado colorido da multidão, mais parecia o ensaio geral dos comícios políticos a vir. O espectáculo começou por uma saborosa explicação do literato que, nessa noite, parecia arrancado a uma página de Eça de Queiroz: vários declamadores iriam dizer poesia, sem indicar título nem autor, sendo os aplausos cronometrados e assim se apurando o Grande Poeta.
Os declamadores não eram conhecidos mas debitaram com garra um caudal de poemas de que os aplausos eram cronometrados compenetradamente, muito à séria, pelo literato de olho azul, cabelo loiro, barbicha mefistofélica e risinho de má promessa. Quando foi proclamado o resultado final, fiscalizado por uma comissão ad hoc, tinha ganho o poeta Zé dos Anzóis e atirados à humilhação de uma derrota imensa Fernando Pessoa, Almada-Negreiros, Mário de Sá Carneiro e... até Camões. Ainda hoje oiço o berro indignado de Natália Correia, logo abafado pela estrondosa gargalhada da multidão. Era o primeiro sinal de que o povo não se deixa enganar por impostores mal amanhados.
Parece que a BBC levou com ligeireza e sentido de humor o concurso, esse mesmo que, vertido para Grandes Portugueses, tão a sério foi levado em Portugal por aqueles a quem certamente Alexandre O´Neil se referia quando escreveu “Portugal engravatado todo o ano/ a assoar-se à gravata por engano”. Só assim se compreende a gritaria de que a democracia estaria em perigo por terem ocupado lugares de destaque Salazar e Cunhal... Num país de 10 milhões de habitantes no território europeu e cerca de 5 milhões espalhados pelo mundo, 19 mil votos são uma gota de água. E absolutamente esperados de minorias sempre activas e muito mais o são quando se trata de terem alguma visibilidade, enfim aquelas que praticam o voto militante.
Devo confessar que me diverti a ouvir a declaração de amor, em voz empostada, a Cunhal por uma deputada que, visivelmente, gostaria de ter pisado as tábuas do palco do Teatro Nacional no tempo da Senhora Dona Amélia Rey Colaço.
E também devo confessar que fiquei edificada com a evolução de linguagem de Jaime Nogueira Pinto, que eu conheci rapaz salazarista a mil por cento, radical e odiando Marcelo Caetano. Tem agora um discurso de direita ma non tropo, a reconhecer a ausência de liberdades cívicas no anterior regime, que vai bem com a sua anafada postura de instalado na vida. Bourgeoisie oblige.
Os portugueses que estão muito para além dos poucos milhares de votantes nos ditadores Salazar e Cunhal, mais se revêem nos poetas, nos navegadores, nos reis que fizeram grande a nossa terra. Não se duvide que bem sabem como José Júdice acertou ao convocar documentos insofismáveis que provam, uma vez mais, a pior faceta do regime anterior: a hipocrisia, o farisaísmo. Nem se duvide que não esquecem também a falsidade e desamor a Portugal do ditador comunista.
Tirando isto, que é a sério, o resto é para rir. Que país tão engraçado este que em tudo o que cheire a política logo leva a brigas de Sporting-Benfica... Ainda falta um bocado para se chegar à serenidade, à naturalidade, isto é, à democracia digna desse nome.
por Fernanda Leitão
Tinha Salazar caído da cadeira há uma temporada e vivia-se aquele tempo enervado que por inteiro cabia na corriqueira frase “mas quando é que esta chatice acaba?”, quando apareceu em Lisboa um pitoresco casal de literatos oriundo da alta burguesia do Porto. Ambos bonitos e jovens, ambos vestidos e penteados pelo mais romântico figurino do século XIX, ambos irreverentes e dados a provocar agitação.
Um belo dia convidaram o Chiado em peso, o que incluia territórios tão rapioqueiros como o Bairro Alto, o Rossio e zonas aderentes, para um sarau de poesia na Sociedade de Belas Artes. Caíu lá o Carmo e a Trindade, ao cheiro de uma seroada catita. O salão rebentou pelas costuras e, pelo agitado colorido da multidão, mais parecia o ensaio geral dos comícios políticos a vir. O espectáculo começou por uma saborosa explicação do literato que, nessa noite, parecia arrancado a uma página de Eça de Queiroz: vários declamadores iriam dizer poesia, sem indicar título nem autor, sendo os aplausos cronometrados e assim se apurando o Grande Poeta.
Os declamadores não eram conhecidos mas debitaram com garra um caudal de poemas de que os aplausos eram cronometrados compenetradamente, muito à séria, pelo literato de olho azul, cabelo loiro, barbicha mefistofélica e risinho de má promessa. Quando foi proclamado o resultado final, fiscalizado por uma comissão ad hoc, tinha ganho o poeta Zé dos Anzóis e atirados à humilhação de uma derrota imensa Fernando Pessoa, Almada-Negreiros, Mário de Sá Carneiro e... até Camões. Ainda hoje oiço o berro indignado de Natália Correia, logo abafado pela estrondosa gargalhada da multidão. Era o primeiro sinal de que o povo não se deixa enganar por impostores mal amanhados.
Parece que a BBC levou com ligeireza e sentido de humor o concurso, esse mesmo que, vertido para Grandes Portugueses, tão a sério foi levado em Portugal por aqueles a quem certamente Alexandre O´Neil se referia quando escreveu “Portugal engravatado todo o ano/ a assoar-se à gravata por engano”. Só assim se compreende a gritaria de que a democracia estaria em perigo por terem ocupado lugares de destaque Salazar e Cunhal... Num país de 10 milhões de habitantes no território europeu e cerca de 5 milhões espalhados pelo mundo, 19 mil votos são uma gota de água. E absolutamente esperados de minorias sempre activas e muito mais o são quando se trata de terem alguma visibilidade, enfim aquelas que praticam o voto militante.
Devo confessar que me diverti a ouvir a declaração de amor, em voz empostada, a Cunhal por uma deputada que, visivelmente, gostaria de ter pisado as tábuas do palco do Teatro Nacional no tempo da Senhora Dona Amélia Rey Colaço.
E também devo confessar que fiquei edificada com a evolução de linguagem de Jaime Nogueira Pinto, que eu conheci rapaz salazarista a mil por cento, radical e odiando Marcelo Caetano. Tem agora um discurso de direita ma non tropo, a reconhecer a ausência de liberdades cívicas no anterior regime, que vai bem com a sua anafada postura de instalado na vida. Bourgeoisie oblige.
Os portugueses que estão muito para além dos poucos milhares de votantes nos ditadores Salazar e Cunhal, mais se revêem nos poetas, nos navegadores, nos reis que fizeram grande a nossa terra. Não se duvide que bem sabem como José Júdice acertou ao convocar documentos insofismáveis que provam, uma vez mais, a pior faceta do regime anterior: a hipocrisia, o farisaísmo. Nem se duvide que não esquecem também a falsidade e desamor a Portugal do ditador comunista.
Tirando isto, que é a sério, o resto é para rir. Que país tão engraçado este que em tudo o que cheire a política logo leva a brigas de Sporting-Benfica... Ainda falta um bocado para se chegar à serenidade, à naturalidade, isto é, à democracia digna desse nome.
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