CARTA DO CANADÁ
por Fernanda Leitão
O recente encerramento do jornal O INDEPENDENTE, que nos últimos anos foi corajosamente dirigido por Inês Serra Lopes, antecedido do encerramento de vários outros jornais, de direita e de esquerda, como O DIA e O JORNAL, vem revelar uma pequena parte visível do iceberg que ameaça a imprensa escrita, e não só, para além de deixar a nú a falência de valores entre os que dizem bater-se por causas para, no fim de contas, se baterem por coisas que lhes convêm mais no momento. No entanto, seria excessivo optimismo pensar-se que apenas a imprensa escrita vive em crise. Já deixou de ser um segredo que as televisões travam uma luta de morte para sobreviverem.
Com o advento da internet e dos telemóveis, apareceram em cena os blogs da liberdade (embora não se saiba até quando essa liberdade vai existir) e os noticiários com imagens, ou mesmo filmes e outros programas, que cada qual pode ver no seu minúsculo telemóvel caminhando pela rua ou tomando um café. Este choque tecnológico cativou de imediato os jovens, que se entregam com entusiasmo a estes meios que lhes abrem as portas do mundo por pouco dinheiro. Ou dito de outra maneira: os jornais e a TV viram-se
"roubados" de milhões de pessoas que deixaram de se servir deles. Em termos de vendas e de audiências, isso representa um prejuízo brutal, pelo facto em si e porque tem um reflexo irremediável na publicidade. As coisas pioram quando jornais e TV são de um país em depressão económica, como é actualmente Portugal.
Para ultrapassar este Adamastor, proprietários e profissionais da imprensa escrita e da TV têm de dar provas de uma criatividade apelativa e imbatível, que pode ir ao extremo mercantil de oferecer brindes valiosos aos assinantes. É já o que se passa em Portugal e em vários países. A mezinha vai remediando a situação, mas garantidamente não tem futuro. Outros meios de comunicação social acabarão por fechar as portas em mais ou menos tempo, mesmo aqueles que, por receberem subsídios por debaixo da mesa, se consideram de referência incontornável. Entretanto, profissionais mais jovens e destemidos foram-se lançando nos meandros informáticos, isto é, deram o corpo à curva das novas tecnologias.
Há, no entanto, um factor de fraqueza que não se pode escamotear, sobretudo no caso de jornais com posicionamento político desde o início. Foi o caso de O INDEPENDENTE e de O DIA, conotados com a direita. É esse factor o egoísmo ultrajante dos dirigentes dos partidos que se serviram de jornais para existirem política e socialmente, abandonando-os depois como quem deita fora um lenço de papel. É-lhes indiferente o que sofreram no banco dos réus os directores que deram a cara, as agonias sofridas pelos profissionais que ali serviram e se viram sem trabalho de um dia para o outro. Por estas e por muitas outras é que um dia um colega meu, o jornalista Boavida Portugal, me mandou um cartão dizendo: "Sabe, minha cara senhora, a direita em Portugal é como a massa dos padeiros - só a murro".
De facto, é difícil encontrar uma direita no mundo tão despojada de solidariedade e civismo, de bons sentimentos e boas maneiras. É ver como insultam, difamam e gritam os seus coriféus, quando querem subir. E como se calam, na hora difícil de gerir a normalidade democrática.
É um triste sinal deste nosso tempo mercenário, duro, sem alma nem coração - como está à vista de todos através da comunicação social. Dá para desanimar e desistir. Mas isso queriam "eles". Não se lhes pode fazer a vontade, porque está em causa um país, uma civilização, um ideal. Há que aguentar firme e continuar, mas sem ilusões quanto a políticos, tratando-os todos por igual já que, como se vê, a gamela é comum a todos eles, dum lado e do outro da barricada.
Eu recuso-me a acreditar que seja impossível um Portugal limpo, escorreito, culto, servido por políticos responsáveis. Por isso advogo que sejam os profissionais da comunicação a assumirem corajosamente a depuração do ambiente social no nosso país, começando pelas suas próprias fileiras. Doa a quem doer.
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