segunda-feira, julho 21, 2003

HENRIQUE RUAS
-IN MEMORIAM –

Por Teresa Maria Martins de Cavalho

O primeiro sentimento que nos apanhou de chofre ao saber da morte de Henrique Ruas foi o de terrível orfandade, dor oca da falta sem remédio, de tal modo ele era para nós a referência do pensamento político, o ponto fixo da tradição e da inteligência, o eixo movente da história com os seus acontecimentos, a meditar, a colaborar, a contradizer.

Irmanava-se com todos nós, seus companheiros, participantes do seu amor a Portugal e às coisas portuguesas e do seu pasmo ante o mistério do homem, e à sua atenção à chamada permanente para descobrir, pensando, direcções de acção, à beira da verdade.

Exemplo raro de alguém, trabalhado pela vida, com épocas difíceis, duras até, que foi sempre animado pela Fé, confortado pela cultura e pela roda dos amigos e admiradores.

Ciente do próprio valor, era generoso na dádiva do seu saber e do seu tempo, em gesto incrível de humildade na admiração pelos outros e no optimismo cristão de que estamos neste mundo com as mãos prontas para tarefas e projectos que nos pedem, nos envolvem, nos entusiasmam, enquanto houver forças, até ao fim...

Como disse o Bispo D. Manuel Clemente na Missa de Corpo Presente, devemos dar graças a Deus por Henrique Ruas ter existido, tal a sua qualidade em tantos aspectos. E, acrescentamos nós, por o termos conhecido, este português cristão, por termos apreciado e sentido a força do seu espírito e o calor humano do seu coração, termos ganho a sua bondosa amizade e a riqueza da sua convivência.

“Felizes os que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, que descansem dos seus trabalhos porque as suas obras os seguem” (Ap. 14, 13). Esta sentença que se foi buscar ao Livro do Apocalipse, Livro com tão má fama de exóticas catástrofes mas que é, afinal, o livro da esperança. A esperança. É esse o sinal indelével que ele nos deixou, depois do susto e das lágrimas.

“Há pessoas que não deviam morrer”, dizia alguém, acusando essa orfandade tão ressentida que a morte de Henrique Ruas nos causou. Esta pequena homenagem que aqui gravamos em sua memória é assim esperança para continuarmos nos caminhos em que nos acompanhou, caminhos por ele desbravados, continuar porque a sua memória tão forte ser-nos há presença. Pequena homenagem esta, muito pequena. Sempre connosco.

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