Do que tem sido essa batalha, ou defrontando-nos com a anarquia que nos desagrega, ou fazendo face ao peso morto que ameaça sufocar, no seu pretenso conservantismo, o princípio de renovo em que Portugal parece querer florir, - do que tem sido essa batalha não é para aqui o contá-lo e comentá-lo. Basta que assinalemos com a maior humildade de propósitos o trajecto que já se andou, tanto em extensão como em intensidade. Na desordem geral, dos espíritos, sente-se, apalpa-se uma certeza, uma coesão que se desenha e robustece, e aumenta. Frutifica o sincero entusiasmo do reduzido grupo de vontades que em 1914 se meteu à empresa penosa de restaurar a alma da Pátria, voltando à senda esquecida da sua tradição.
E porque se escreve a palavra "tradição", entendemos dever precisar-lhe o sentido. Não se trata de um regresso — duma suspensão. Filosófica e historicamente o nosso conceito de "tradição" equivale a dinamismo e continuidade. Estamos, por isso, bem longe de nos confinarmos numa ideia saudosista da sociedade que foi ou das gerações que passaram. Pelo contrário, abertos às solicitações clamorosas deste instante de febre, olhamos o futuro com um alto desejo de o prepararmos, melhor e mais belo, do que é a actualidade, tão horizontal e espessa em que vivemos.”
…”Reflectindo no seu conflito o conflito da sociedade em geral, a sociedade portuguesa dissolve-se, vai-se, varrida pelo individualismo nas suas últimas e extremadas consequências. Serenos, no raciocínio das nossas convicções que a fé amplia num fundo de claridade invencível, não há desânimo que nos vença, nem tormenta que nos vergue. Salve-se o que subsista ainda de divino e de humano no amontoado de coisas sem nexo em que Portugal se subverte, incaracterizado e difamado. É obedecendo a tão religiosa obrigação para com Deus e para com a Pátria, criada à sua Semelhança e Imagem, que nós não desfalecemos nem um instante sequer na jornada empreendida, já se completaram nove anos, quando a mocidade nos punha nas veias fanfarras de triunfo. Semeou-se? Pois colher-se-á! E para que resulte em outras colheitas, e a seara cresça sempre, viçosa e farta, de novo entregamos à graça das Estações um pequeno punhado de grão, por acaso guardado no nosso pequeno celeiro.”
Elvas, Quinta do Bispo, Janeiro, 1923.
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