CARTA DO CANADÁ
por Fernanda Leitão
Nos últimos tempos tem a comunicação social abordado largamente a Emigração. O primeiro ministro, com uma impressionante expressão de dureza e insensibilidade, aconselhou os professores sem trabalho a emigrarem, de preferência para o Brasil e Angola. Este aviso foi entendido por todos os desempregados, professores ou não. Logo de seguida, o ministro Relvas, com a expressão escarninha que lhe é habitual, reforçou a tirada de Coelho com a afirmação de o estado português ter grande orgulho nos emigrantes. Seguiu-se uma cascata de comentários de apoio por parte de senhoritos a quem a Pátria sustenta sem contrapartida de obra feita ou bom serviço e,o que é pior, de alguns sujeitos que são mais católicos do que cristãos, uns “católicos profissionais”, isto é, sujeitos que se dão ares de primos direitos de Nosso Senhor, tu cá, tu lá, detentores da verdade e do nariz empinado, e que, vá-se lá saber porquê, com o seu palavreado e presença afastam os fiéis da Igreja que os protege e promove. Compaixão, nenhuma. Solidariedade, viste-la. Falta de educação, evidente. É uma direita que do Pai Nosso só reza o “venha a nós”. Como seria de esperar, alguns jornalistas de espinha direita, que ainda os há, e um grande número de pessoas de antes quebrar do que torcer que anda na blogosfera, desancou a ideia e os arautos da mesma, e foi o momento de todos ficarmos a saber a trajectória de vida dos que, verbalmente por agora, dão pontapés aos desempregados a ver se eles desaparecem depressa. Que vidas edificantes! Que exemplos de trabalho!
Senti vergonha. Não de ser portuguesa, pelo contrário, que tenho um profundo orgulho em ser portuguesa, mas vergonha, sim, muita vergonha de o meu Portugal ter governantes capazes de aconselharem os desempregados a saírem do país. Devo ter sentido o mesmo que a cientista Irene Fonseca: até pediu que a jornalista lhe repetisse a pergunta com este assunto, nem queria acreditar. Senti vergonha por o Brasil e Angola terem dito claramente que não precisam de professores portugueses, por terem os seus próprios, numa verdadeira bofetada a quem deita pela boca fora tudo o que lhe apetece.
Também senti desgosto por mais esta afronta aos cidadãos de um país mal governado, injusto e corrupto, que tiveram de optar por ganhar no estrangeiro o pão para a família. Opção dolorosa, mas livre. Nem na ditadura salazarista os governantes tiveram semelhante ousadia e má criação. Talvez seja por esta falta de maneiras que alguns por aí chamam a Outra Senhora ao regime deposto pelos militares em 1974, e Esta Gaja ao regime vigente. Opção livre e dolorosa,repito. Quem emigra sai de coração partido, sabe que não tem lugar na Pátria, que é um rejeitado porque uma camarilha política tomou o poder e abocanha a terra, dividindo-a por familória e parceiros de partido. O emigrante leva consigo, até ao último suspiro, a dor desta rejeição. Não perde o amor por Portugal, mas não tem o menor orgulho em quem governa. Não tem motivos para isso. Mesmo longe, continua a ser explorado, a não ser convidado a participar no desenvolvimento do país. Tudo quanto os políticos lhe pedem é votos e dinheiro. Muito dinheiro. Como foram investidos os biliões que, nos últimos 50 anos, os emigrantes depositaram em bancos portugueses? Não sabem. Apenas sabem, pelos jornais, das fraudes de largos milhões feitas em bancos por sujeitos que não foram julgados, andam a viver dos rendimentos, perante o silêncio do partido do governo e o do presidente que é do mesmo partido, e o de uma magistratura a que ninguém cá por fora dá crédito. Admiram-se de ser de quase 100 por cento a abstenção entre os emigrantes?
Portugal está a caminho de perder a Emigração e a difusão da língua portuguesa por exclusiva culpa da partidocracia que levou Portugal à valeta: estúpida, ignorante, boçal, gananciosa, pimba.
Mas eu acredito que o povo português saberá correr com esta élite negativa que conseguiu pôr a Pátria a receber ordens duns funcionários estrangeiros. Nem que para isso seja preciso transformar as pedras em pão.
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