terça-feira, fevereiro 09, 2010

Cá como lá


CARTA DO CANADÁ
Fernanda Leitão
                     
            Desde que vivo no Canadá, houve dois referendos na província do Quebeque para se apurar se os seus habitantes queriam ou não a independência. Ganhou sempre o Não.  No último até houve um chefe de fila separatista que, perante a derrota, a atribuíu iradamente aos imigrantes. Nunca percebi a surpreendida cólera do político e por duas razões: porque as pessoas emigraram para o Canadá e não para o Quebeque e porque, sendo que quem emigra fica a dever esse desgosto a aventureirismos políticos nos seus países de origem, é óbvio que ninguém vindo de fora quer contribuir para mais sarilhos.  Portuguesente falando, quer sopas e paz.
            O fenómeno político interessou-me e tenho-o seguido atentamente. Fiquei a perceber que, no Quebeque, o movimento separatista é republicano, de candeias às avessas com a Igreja Católica e daquela esquerda engraçada que, depois de ter a lua, quer também o sol. As exigências para a independência falaram por si: queriam  do Canadá a mesma moeda, as pensões de reforma e o   sistema de saúde (que é universal e gratuito).  Mas independentes, com lugar na ONU e direito a dizer do Canadá o que lhes apetecesse.   Para mim, que sou do sul da Europa e lascarina, esta postura fez-me lembrar aqueles filhos malandrecos, abardinados, que querem pôr-se independentes com uma parte da casa paterna transformada em suite de porta para a escada, mais cama e mesa e roupa lavada, e uns trocos para a bica.  Não era para levar a sério.  O Canadá inglês também não levou e até tem o partido separatista no parlamento federal. Este lado do Canadá, que vai do Atlântico ao Pacífico,  é de matriz britânica, tem nos genes a paciência que calcula o futuro, parece que deixa andar mas está só à espera que a fruta amadureça.  Há dias o jornalista Paul Krugman, a propósito de a banca canadiana ter aguentado firme durante a crise financeira que abalou o mundo, disse que o Canadá é “sensaborão” e “chato”.  Será como ele diz, mas faz bem.  É como as termas, água e pasmaceira, mas o bem que aquilo faz.
            Acho que a Madeira é muito parecida com o Quebeque.  A diferença é que por cá ninguém se alia aos do Quebeque para ganhar eleições ou para exigências que ponham em problemas o país.  Para estes políticos, com todos os defeitos que possam ter, o Canadá está primeiro. É toda uma diferença que os portugueses acabarão por reconhecer.

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