Nos liberi sumus; Rex noster liber est, manus nostrae nos liberverunt... [Nós somos livres; nosso Rei é livre, nossas mãos nos libertaram...]
quinta-feira, abril 23, 2009
Fernanda Leitão em «O TEMPLÁRIO»
Ao ver esta coluna da Fernanda Leitão no seu antigo jornal, não resisti e perguntei-lhe: "Quando é que voltou a publicar no jornal?"
O e-mail de resposta chegou-me poucos minutos depois, e dizia assim:
"O Templário, depois de muitos altos e baixos após a minha saída para o Canadá, achou finalmente bom porto na dupla Isabel Miliciano-José Gaio, que o compraram e remodelaram. Jovens, inteligentes, esforçados e honestos, fizeram do Templário um jornal próspero e profissional. Têm sido de uma grande gentileza comigo, não me conhecendo pessoalmente, e eu publiquei de novo ali, a convite deles, há talvez dois anos. A partir daí, mando de vez em quando uma prosa. Parece assim uma Visita da Velha Senhora...
"O primeiro número do Templário, sob a minha direcção, foi em 1 de Maio de 1975. Respeitei a tiragem que o Jornal tinha: 2 mil exemplares. Em Julho estávamos a fazer 60 mil exemplares. E, por vezes, lá para Lisboa e Cascais faziam-se fotocópias dele. Quando o jornal publicou a entrevista que a Orianna Falaci fez ao Cunhal, devidamente autorizada pela jornalista italiana, não tivemos mãos a medir. Enfim, fez-se o que se pôde.
"Para se rir, vou-lhe dizer como é que o Templário começou a ser vendido em Lisboa, nas bancas do ardina Zé, em frente ao Café Nicola, no Rossio.
"O Zé e eu eramos da mesma idade e tínhamos assentado praça no mesmo ano: eu, na France Presse, a municiar os jornais de prosa internacional; ele, a vender os jornais. Com o passar dos anos, ficámos amigos. Quando saíu da máquina o primeiro número do Templário sob a minha responsabilidade, virei-me para o saudoso Carlos Pina, saneado do Diário de Notícias, e sugeri que fôssemos a Lisboa, cada um com o seu pacote de jornais, para tomar o pulso. Metemo-nos no comboio e desaguámos no Rossio. E disse eu para o meu amigo ardina:
"- Oh Zé, comprei um jornal para dar umas cacetadas porque não ando a gostar nada do que vejo por aí. Posso deixar os jornais na tua banca ou tens medo?
- Medo, eu, patroa?! Morra quem se negue. Deixe ficar os jornais à confiança.
E pronto, o Carlos Pina (que a morte tão cedo levou) e eu, rodámos para o jantar e para os mentideros onde paravam as estrelas da revolução, porque ali é que se sabiam novidades, gaffes, fiascos e tratantadas. Os mentideros mais na moda, nesse ano, eram o Botequim, da Natália Correia, e o Procópio, da Alice Pinto Coelho. Para não variar, deitei-me tarde. E quem é que estava à minha porta que nem uma sentinela? O Zé Ardina. Quis saber a que devia a visita.
- Oh patroazinha, pela sua saúde arranje-me mais 500 jornais que o pessoal está a contar com isso.
Expliquei-lhe que não tinha mais nenhum jornal em Lisboa, mas acertámos o negócio: vinham mil todas as semanas para a banca dele. Abalou radiante. E era com uma satisfação imensa, de amigo, e de patriota, que ele todas as semanas vendia o jornal. A primeira vez que fui a Portugal depois de vir para o Canadá, fui ver o Zé ao Rossio. Abraçou-se a mim e chorámos os dois.
Aqui tem estes farrapos de memória."
Muito obrigada, minha querida Fernanda.
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1 comentário:
Assunto: Testemunho directo de quem se cruzou com Saramago.
CARTA DO CANADÁ
Senti minha alma lavada com sua carta. Bem haja
Oswaldo Rocha Ferreira
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