terça-feira, dezembro 23, 2008

A lição Tailandesa

Por FERNANDA LEITÃO

Recentemente, o mundo foi surpreendido pela revolta generalizada do povo tailandês, esse povo educado e doce que serviu, entre outras obras de arte, de inspiração ao filme O REI E EU, mais tarde em versão teatral interpretada pelo inesquecível bailarino Nureyev, que deste meio se serviu para, em tournée mundial, se despedir do público antes de o pano descer sobre a sua própria vida. Num país de beleza e doçura, donde vinha essa revolta? Contra o quê e contra quem? O que se propunha?

E o mundo ficou boquiaberto: a revolta era contra a corrupção, contra o governo que permtiu e incentivou a corrupção. Exigia-se o derrube e julgamento do governo. O povo em massa cerrou fileiras em volta do seu rei e da sua democracia. Num mundo em que a corrupção se tornou moeda corrente e rotineira em tantos países, velhos e novos, já causa espanto que povos recusem viver na lama que leva à ditadura.

Mas foi o que aconteceu. Durante semanas, o povo esteve nas ruas a bater o pé à minoria corrupta, a sofrer a repressão dos que, para além da culpa, tinham o mando. Aguentou tudo sem desarmar nem desanimar. Quando chegou a sentença do tribunal, condenando sem apelo nem agravo os mentores da corrupção, a taça transbordou. O governo caíu. O partido do governo ficou na valeta da credibilidade. Passou-se a um período de transição rumo a eleições democráticas.

Feliz Tailândia, feliz terra em que o povo abomina a corrupção e faz um corpo só com o seu rei. Ali, a chefia do estado não é pretexto para, de tantos em tantos anos, se jogarem as pessoas umas contra as outras, se escolher um partidário para a cabeça do estado e depois se assistir ao espectáculo degradante de os partidos da oposição fazerem do escolhido o bode expiatório das suas frustrações, e o escolhido ficar entre a espada do seu partido e a parede da opinião pública.

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