terça-feira, dezembro 02, 2008

Fios cortados?

Na imprensa portuguesa comentou-se ontem muito a nomeação de Hillary Clinton como Secretária de Estado de Barack Obama. Com tais comentários, e como é costume, a imprensa perdeu-se no acessório, esquecendo o essencial: a América está em guerra, e Robert Gates, Secretário da Defesa de George W. Bush, vai continuar no cargo. Como conselheiro de segurança nacional de Obama, será nomeado um militar recém-reformado: o general James Jones, ex-comandante do 32º Corpo dos Marines (1999-2003) e ex-Chefe do Comando dos EUA na Europa (2003-2006). James Jones, além de ter sido recentemente cooptado pela Chevron, é actualmente o presidente do Conselho do Atlântico em Washington, mas teve um papel importante na activação do Comando Africano dos EUA, uma activação que foi afinal uma das principais razões pela qual foi escolhido Obama para a presidência (como aqui foi já por diversas vezes salientado). As "novas" prioridades nacionais de política externa e de segurança dos EUA, foram assim anunciadas:
- Terminar com a guerra no Iraque (dentro de 16 meses);
- Fortalecer a luta no Afeganistão;
- Lutar contra o extremismo;
- Lidar com as alterações climáticas globais;
- Restaurar a liderança da América no plano internacional.

A menos que os EUA pretendam, aludindo às alterações climáticas, vir a mudar as datas em que ocorrem o periélio e o afélio do planeta Terra, tudo fica como dantes, quartel-general em Abrantes.




Mas passou também quase despercebida uma outra notícia, com alguma relação com a anterior: no Canadá, toda a oposição está agora reunida em torno de um pacto para derrubar o governo "conservador" de Stephen Harper.

Apesar do partido "conservador" de Harper ter vencido as eleições de Outubro, não conseguiu obter a maioria dos deputados na Câmara dos Comuns. Sob a chefia de Stéphane Dion, os "liberais" conseguiram obter o pior resultado desde a Confederação de 1867; foi o quanto bastou para conseguir reunir toda a oposição em torno de uma “coligação progressista” (de “liberais” e “socialistas”), com o indispensável voto favorável dos “nacionalistas” / "separatistas" do Quebec. Se a governadora-geral do Canadá, Michaëlle Jean, aceitar este pacto e, sem a realização de novas eleições, empossar o pretendido governo de coligação, criará uma situação deveras original: nos próximos 18 meses a Federação do Canadá estará nas mãos dos "separatistas" do Quebec... Com 77 deputados "liberais" e 37 "neo-democratas" (o nome local dos "socialistas") a apoiar a "coligação progressista", serão necessários os votos dos 49 deputados "separatistas" do Quebec para bater os 143 deputados dos "conservadores". Então, sim, será caso para dizer que deverão estar a caminho grandes mudanças na geopolítica global. - Será que os russos e os chineses começaram já a cortar os fios que sustêm o dólar americano?

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