por Nuno Pombo
Para promover, penso eu, uma aproximação entre as pessoas e as instituições que as governam, representam ou simplesmente maçam, foi entendido mostrar ao pagode os bólides em que se passeiam ou fizeram transportar as excelências presidenciais. Uma espécie vanguardista de museu dos coches, aquele a que presidência da república tem direito.
Não é esta iniciativa, por si só, digna de qualquer comentário, não fora ter a anunciá-la um cartaz, plasticamente conseguido, no qual se vê, lustroso, imponente, um Rolls Royce encimado pela expressão "motor da república". Habituado que estou a pensar que esta república a que nos castigaram não é movida por causa (que não coisa) alguma, achei curiosa, por paradoxal, a chalaça publicitária.
Depois da conseguida perplexidade, dei comigo a concordar com a justeza da metáfora… Aquele Rolls Royce é, na verdade, adereço apetitoso para quem ambiciona cargos de chefia no funcionalismo público. Acresce que o dito Rolls presidencial é, também, o paradigma da república que temos: não é genuinamente português; tem um preço exorbitante; é pesadíssimo; se se avaria não se sabe bem quem o pode arranjar e qual o custo da reparação; o seu dono não o guia (tem motorista, mecânico, polidor, garagista, e outros "assessores"); gasta tanto combustível como um tanque de guerra; está insonorizado para conforto dos viajantes, ainda que seja ruidoso para todos os que se cruzam com ele (paciência!); polui quase tanto como uma fábrica de cimento; teoricamente todos podem ser donos de um, mas todos sabemos que não é bem assim; é lento, muito lento, e, convenhamos, não foi feito para levar ninguém muito longe...
Onde está esse Rolls? Num museu! Ora aí está uma decisão acertada!
In Diário Digital , em 27 de Novembro de 2006
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