domingo, junho 12, 2005

O PPM morreu!

por António de Sousa-Cardoso

«Não deixaremos que, junto da opinião pública, confundam os monárquicos portugueses com o PPM»


REALIZOU-SE este fim-de-semana o Congresso Eleitoral do PPM. E é sobre as circunstâncias em que decorreu e sobre os resultados já previsíveis deste Congresso que vale a pena tirar algumas ilações

O PPM formou-se em 1974, empurrado por uma activa participação dos monárquicos na SEDES. Todos quantos trabalharam nalguma clandestinidade no período salazarista/marcelista, encontraram na formulação partidária a forma de expressarem as suas convicções na sequência da revolução dos cravos. E este erro histórico foi cometido por personalidades de grande destaque no Movimento Monárquico que, no fervilhar de uma revolução que construía então o sistema partidário, não quiseram perder por «falta de comparência». Muitos monárquicos filiaram-se entretanto noutros partidos - o próprio Francisco Sá Carneiro foi militante da Causa Monárquica - convencidos que estavam que a monarquia era uma alternativa para a questão de regime e nunca para a questão do governo.

Apesar disso, o PPM teve uma muito interessante dinâmica política e social que motivou que tivesse integrado a Aliança Democrática, num claro reconhecimento dos méritos do partido e dos seus principais dirigentes. Esta integração na lógica do poder republicano acabou por ser o começo do fim do PPM, com os seus principais intervenientes embrenhados no jogo do poder e da governação, muito pouco compatível com a defesa de um regime novo para todos os portugueses. Foi necessário encontrar bandeiras seguras da governação, como a defesa do espaço rural e do ambiente, num exemplo de grande pioneirismo dos dirigentes de então, mas claro está, no afastamento do seu principal código genético - a defesa da monarquia.

Com o desaparecimento da AD muitos dos dirigentes do PPM acabaram por sair, alguns deles fundando mais tarde um outro partido, o Partido da Terra, agregador das propostas de governação aprofundadas pelo partido. Muitos dos militantes sairiam também, percebendo o pecado original de terem optado pela formulação partidária, e reunindo-se mais tarde nas Reais Associações e na Causa Real, representativa dos monárquicos portugueses, independentemente da filiação ou sensibilidade partidária.

Desde aí que o PPM não passa de um pequeno grupelho político, de exígua expressão eleitoral e com total falta de relevância na vida nacional.

A quota marginal de relevância do PPM é, deste modo, garantida por recurso a meios mais ínvios. Ou através de manobras de diversão, tão ao gosto da nossa comunicação social, envolvendo recorrentemente a Casa Real Portuguesa que tem granjeado crescente credibilidade e notoriedade. Ou apostando na confusão que os cidadãos e até os dirigentes partidários fazem ainda, entre o PPM e os monárquicos portugueses.

As recentes diatribes de um conhecido fadista constituíram não só o condimento necessário para a ressurreição desta marginalidade política, mas ainda a prova de que o populismo e a mediocridade que lhe está associada pegaram há alguns anos de estaca no sistema partidário português, e só serão definitivamente erradicados através de um assomo genuíno de coragem política da nova geração de dirigentes políticos.

O PPM representou nas últimas eleições cerca de 12.000 votos. Um estudo recente realizado pela Causa Real com um Centro de Sondagens de reconhecida credibilidade mostra que quase 20% dos portugueses confessam convictamente a sua preferência pela instituição real. Os números dobram quando as coisas passam para o plano da simpatia e da abertura para com as vantagens da instituição real numa democracia moderna, igual à de muitos dos nossos parceiros europeus.

Quer dizer que não precisamos de falar em simpatias para afirmar que só 1 em cerca de 120 monárquicos portugueses votam hoje no PPM - se é que quem vota no PPM é monárquico, e não amante do fado ou da «Quinta das Celebridades».

Provavelmente, as diatribes dos actuais dirigentes do partido continuarão, reforçadas pelo triunfo eleitoral assegurado com o voto de 61 militantes (?) no último Congresso. Provavelmente, este estado de coisas interessa a muita gente, preocupada com a maior relevância e credibilidade que o movimento monárquico e a Casa Real portuguesa têm assumido.

Não deixaremos por isso que, junto da opinião pública, confundam os monárquicos portugueses com o PPM ou com a sua insignificante expressão eleitoral. Seria, a partir de agora, a mesma coisa que confundir os mesmos 12.000 votos do Partido da Terra com os amantes da natureza, do ambiente e do espaço rural.

O PPM - a sua história e as suas motivações mais genuínas - morreu já há alguns anos, talvez de remorso pelo pecado original inerente à sua formulação partidária. O PPM dos actuais 12.000 votos é um grupo marginal que seguramente representa sede de protagonismo e que provavelmente envolve interesses menos claros de «guetização» do movimento monárquico.

Os monárquicos portugueses de todos os partidos políticos saberão denunciar, até pela sua crescente afirmação e relevância, os aproveitamentos políticos que se fizerem sobre a respeitosa memória de um partido que já não existe entre nós.

Presidente da Causa Real

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