sexta-feira, novembro 27, 2009

A Chefia do Estado

CARTA DO CANADÁ

Posso ver que algumas pessoas mal disfarçam a perplexidade quando sabem que sou monárquica. E têm razão porque, aparentemente, não faz sentido. Sou plebeia, modesta de linhagem, e ainda por cima sem ambição de títulos ou de importância social. Claro está, não nasci monárquica. Por esta ordem nasci: portuguesa, angolana, cristã. Democrata e monárquica, sou-o por escolha. Escolha solitária, sofrida e sem volta, para o bem e para o mal.

A opção pela Monarquia impôs-se-me no final dos anos 70, na angústia mortal do que se estava a passar no nosso país e, muito especialmente, a partir do Palácio de Belém. Li bastante sobre o assunto, falei com quem achei que devia falar, e cheguei à conclusão que, para mim, a chefia do estado é de uma transcendência que não pode sofrer o perigo do enfeudamento partidário. Tem de estar acima de tudo isso. Mas também reiterei a convicção de que os governos devem ser eleitos livremente pelo povo, devem ser escolhidos segundo a conjuntura,  e por isso não me afligem nada governos de esquerda. Os governos passam mas Portugal, garantido por uma chefia exemplar e isenta, esse é para ficar. Tem de ficar. Aqui chegada, foi pela mão de dois homens impolutos que eu aderi ao movimento monárquico: José Pequito Rebelo e Mário Saraiva. E continuei em passo certo, alheia a partidos e a lobbies.

Hoje, quase no final do ano 2009, dou comigo e pensar que, se não tivesse optado pelo que optei nos anos 70, o faria agora sem hesitação. Por absoluta culpa do Presidente da República. Eu não sei quem é o Sr Fernando Lima nem estou interessada em saber, porque me chega, e sobra, a história mal contada, ridícula e até pouco inteligente daquilo que ficou conhecido pela “inventona das escutas”. História em que o actual PR ficou muito mal na fotografia. O mais elementar bom senso e respeito pelo eleitorado aconselhava o afastamento total do Sr. Lima. E eis que o PR acaba de promover o seu conselheiro, um e outro da mesma grelha partidária. É feio.  Como já tinha sido muito feio o apoio do chefe do estado a um dos implicados no escândalo do BPN, certamente por grande coincidência do mesmo lado partidário. A idade tem o grande inconveniente da memória. Tudo isto me fez lembrar um outro grande escândalo financeiro, o da Caixa Económica Faialense, era o Prof. Cavaco Silva primeiro ministro. Largas centenas de emigrantes foram roubados, em França e no Canadá, houve mesmo um suicídio e o assassinato do representante em Toronto dessa unidade bancária. Julgou-se, ingenuamente, que o governo teria de assumir responsabilidades e o governo lavou as mãos. Só teve uma atitude clara e enérgica graças, vejam a ironia do destino, a Dias Loureiro: mandou carregar e espancar os emigrantes que se foram manifestar em Lisboa. O que esteve certo, se nos lembrarmos que os três grandes responsáveis por essa fraude eram três barões do PSD. Nessa altura pensei que Cavaco Silva era visceralmente militante.

Tenho pena de não me ter enganado. Portugal não merece militantes partidários na chefia do estado.

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