10 Julho 2009 - 09h00
O alicerce das coisas
Desenvolvimento integral
Penso que nunca na história da Igreja existiu um texto que lançasse tanta luz na pluralidade de situações.
Foi divulgado no passado dia 7 um documento renovador da Doutrina Social da Igreja. O Papa Bento XVI desde há dois anos preparava, com a colaboração de diversos especialistas, uma actualização do marcante texto do Papa Paulo VI, ‘Populorum Progressio’, de 1967.
Quarenta anos depois, quer a ideia de progresso, quer a perspectiva de desenvolvimento sofreram mudanças fundamentais, sobretudo graças à globalização. Lançar orientações para a renovação do modelo de desenvolvimento é o objectivo principal do longo texto, intitulado ‘Caritas In Veritate’, ou seja caridade na verdade. Estamos perante uma grande e bela tapeçaria tecida pelos fios da caridade e da verdade, quais forças principais na análise clara, na crítica profunda e nas variadíssimas propostas inovadoras de um verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da humanidade, orientado pela justiça e pelo bem comum.
Bento XVI alia aqui a solidez dos alicerces filosóficos e teológicos, na definição de uma concepção de ser humano, com a capacidade para concretizar em diversificadas vertentes a força da visão cristã das realidades vividas no mundo da economia, da política e da cultura. Dada esta notável e ampla incidência, terei de prolongar, ao longo das férias, os comentários à nova encíclica. Aborda temas como: avaliação do poder do Estado, insegurança e fome, ecologia, trabalho e desemprego, crise do sistema de segurança e previdência, papel dos sindicatos, reforma das organizações internacionais, homogeneização cultural, pesquisa científica, reforma agrária, respeito pela vida como centro do desenvolvimento, direito à liberdade religiosa, o terrorismo e a promoção do ateísmo, etc. Ao entender o progresso como uma vocação, um apelo transcendente e responsável, opta-se por um conceito de desenvolvimento que implica a totalidade da pessoa, que inclui a abertura ao Absoluto, único fundamento da fraternidade. Afirma: "O primeiro capital a preservar e a valorizar é o ser humano, a pessoa na sua integridade."
Impelir a globalização para metas de humanização solidária, oferecer uma orientação cultural personalista e comunitária, proceder a uma nova e profunda reflexão sobre o sentido da economia, lançar uma revisão profunda e clarividente do modelo de desenvolvimento, eis o exercício profético da Igreja, fiel à sua missão, patente e acessível a todos.
Penso que nunca na história da Igreja existiu um documento que lançasse tanta luz na pluralidade de situações. Como seria renovador que cada comunidade cristã reunisse para estudar este texto e descobrir razões para alterar o seu estilo de vida.
D. Carlos Azevedo, Bispo auxiliar de Lisboa
fonte: Correio da Manhã
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