por Fernanda Leitão
Não adianta disfarçar: estamos todos muito mal dispostos com o rebentar do abcesso da corrupção no nosso país e naquele bloco de interesses a que se convencionou chamar Civilização Ocidental.
É que, não há muitos anos ainda, a corrupção era, para nós, um fenómeno deplorável que existia em África, na América Latina e em alguma Ásia. Não era connosco, não podia ser connosco, porque nós tínhamos uns pecadilhos, uns desviozitos. De facto, não há maior cego do que aquele que não quer ver, porque a corrupção não cresceu de repente, não se tornou um furacão do dia para a noite.
Há quantos anos sabíamos todos de histórias feias passadas empresas, certos ministérios, algumas instituições, incluindo a banca? O que aconteceu à maior parte dos prevaricadores? Foram absolvidos por má investigação e consequente falta de provas, assim como por má legislação. Com o passar dos anos, tomou raízes a impunidade e o descaramento. Trinta e cinco anos de facilitismo, de deixa andar, de vista grossa, deram neste lodo de país e de mundo.
A corrupção tem a ver com o ser humano. O corpo corrompe-se quando a vida o abandona. O carácter corrompe-se quando os valores morais abandonam a alma. E foi o que aconteceu: Deus passou a ter o nome de Dinheiro, Valor passou a chamar-se Astúcia, Progresso de Todos dá agora pelo nome de Ganância de Alguns, Trabalho foi substituído por Golpada .
Esta nódoa alastrou em todas as sociedades do mundo ocidental, acompanhada de violência, crime, desemprego, pobreza.
Aqui chegados, se hoje queremos distinguir um país do Primero Mundo de um outro do Terceiro Mundo, só temos de apurar em qual deles a Justiça funciona com rapidez, com legislação inteligente e adequada, com isenção e firmeza, de fácil acesso a todos sem excepção. Porque, havendo corrupção em toda a parte, a esperança só tem lugar onde houver Justiça digna desse nome.
Estas são as duas tremendas batalhas que Portugal enfrenta: Justiça e Educação.
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