terça-feira, setembro 02, 2008

Esperança ou mais do mesmo?

CARTA DO CANADÁ
por Fernanda Leitão

Setembro, que por aqui começou num esplendor de sol e céu azul, traz uma colorida animação a Toronto: estão de volta os que foram de férias, cabendo lembrar que este é um país de emigrantes, e os estudantes regressam às aulas, num alarido de quem acaba de descobrir o mundo. Ficamos todos mais joviais ao cruzar com verdadeiras nuvens de crianças e jovens, com a suas mochilas modernaças, os seus skate board com que aproveitem até à última gota as correrias ao ar livre antes de vir o inverno, a neve, o gelo. Há uma brisa de esperança nestes últimos dias de verão.
Parece que, em Portugal, não é tanto assim, a avaliar pelos professores que ainda não foram colocados. Tanto quanto é dado perceber à distância, já há anos que o número de estudantes tem vindo a reduzir, por força do défice demográfico, e foram em grande número as escolas encerradas. Confesso-me surpreendida por não terem já sido absorvidos por outras profissões os professores excedentários já que, naturalmente, nem todos os portugueses podem ser funcionários públicos. Mas, em boa verdade se diga, se assim tivesse acontecido onde que é aquele senhor do bigode ia arranjar quem lhe compusesse as manifestações?
Também não é muito animado o ambiente escolar português no Norte da América, tantas são as dúvidas entaladas na garganta dos responsáveis depois de ter sido anunciado oficialmente que o ensino básico da Língua Portuguesa no estrangeiro passa para a tutela do Instituto Camões, o qual, por sua vez, já tem prometida uma refundação. Ou, em trocos miúdos, uma viragem da cabeça para os pés, de alto a baixo. Professores e pais mostram-se desconfiados por duas ordens de razões: porque o Instituto Camões, até agora, deu de si má imagem cá por estas bandas e porque, fartos de enfiar barretes, acham que isso da refundação é paleio de políticos a caminho de eleições.
O cepticismo aumenta quando, como é fatal nos fins de férias, fervem os encontros e os telefonemas. É que dos Estados Unidos da América vêm sinais de confusão, sobretudo porque acaba de ser nomeada uma coordenadora para a costa leste, sediada em Boston, que vem da África do Sul e é licenciada em Germânicas, quando é do conhecimento geral que, há mais de um ano, o Ministério da Educação pôs anúncios nos jornais a pedir que prestassem provas pessoas que estivessem interessadas no cargo de Coordenador de Língua Portuguesa para os Estados Unidos. Apresentaram-se três pessoas a concurso, sendo que uma delas é professora universitária de português e tem vasta obra publicada acerca do ensino básico da nossa língua no estrangeiro. Uma pessoa com vasta experiência, e idoneidade, ainda por cima com um grau em Harvard. O ME fez o mais completo silêncio e, nos meios académicos luso-americanos, diz-se que por ter ficado sem saber o que fazer, pois havia dois candidatos a quem era preciso levar ao colo por serem afilhados de uma governante dos Açores.
A ser assim, não seria a primeira vez que a governante em referência tentaria invadir terrenos que são pelouro do governo da República. E dou comigo a pensar que muito bem andou o presidente da República ao dar um murro na mesa em pleno Agosto.
Muito bem andará o primeiro ministro, também, se fizer o mesmo a membros do seu governo que se metem no que não são chamados, como o secretário de estado das Comunidades fez há tempos com o ME. Grande fascínio tem esta gente toda pela Língua Portuguesa e tão pouco, ou nada, por ela faz nestas terras da América. Pior: quando alguém é competente e honesto nesta matéria, mancomunam-se governantes com diplomatas intriguistas e tratam de sanear. E depois fazem substituições de remendo.
Dizem os dos Estados Unidos que o Canadá tem mais sorte. É verdade. Leva 11 anos de Coordenação competente, de trabalho árduo, de bom senso, de rectidão e bom trato, o que muito tem ajudado nas relações com as autoridades canadianas. Os professores de Português no Canadá têm tido sempre o maior apoio e nem se percebe o que estão a fazer associados aos professores dos Estados Unidos. É uma associação que só puxa a brasa à sardinha dos vizinhos do sul e que, somadas as contas, pelo menos com a actual direcção, mais se esforça por passeatas aos Açores, com os pretextos mais ridículos, do que com a qualidade do ensino.
Tudo somado, todos estão receosos de o Instituto Camões vir a dar mais do mesmo aos emigrantes, apesar da carta de despedida da antiga presidente que, pelos vistos, foi para a reforma convencida que salvou a Pátria.

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