quarta-feira, outubro 06, 2010

Alocução de Dom Duarte de Bragança em 5 de Outubro 2010

Portugueses:

5 de Outubro de 1143 é uma data fundadora para Portugal. Durante quase 800 anos a vontade e a determinação do povo, firmemente ancoradas na vontade e determinação dos seus Reis, conduziram os destinos desta comunidade de sonhos, a que chamamos pátria.

Mas 5 de Outubro, agora de 1910, é também a data em que a invasão mental estrangeira ocupou Portugal.
Hoje, como sempre, falarei para todos, sem acepção ou excepção alguma.Mas hoje, como nunca, serei a voz de todos pela boca de alguns.Nenhuma das palavras que Vos irei ler me pertence, porque todas já eram pertença de todos depois de escritas por alguns de Vós. Irei ler-Vos excertos de alguns dos nossos maiores escritores. Evocando Portugal, ou retratando a república. As suas assinaturas declaram os nomes de Camões, Ramalho Ortigão, Fialho de Almeida, Eça de Queiroz, Almada Negreiros, Fernando Pessoa e Pe. António Vieira.Por isso em nome de todos a estes as agradeço.

Portentosas foram antigamente aquelas façanhas, ó Portugueses, com que descobristes novos mares e novas terras, e destes a conhecer o Mundo ao mesmo Mundo. Naqueles ditosos tempos (mas menos ditosos que os futuros) nenhuma cousa se lia no Mundo senão as navegações e conquistas de Portugueses. Esta história era o silêncio de todas as histórias. Os inimigos liam nela suas ruínas, os émulos suas invejas e só Portugal suas glórias. Mas se a história das cousas passadas (a que os sábios chamaram mestra da vida) tem esta e tantas outras utilidades necessárias ao governo e bem comum do género humano e ao particular de todos os homens, e se como tal empregaram nela sua indústria tantos sujeitos em ciência, engenho e juízo eminentes, como foram os que em todos os tempos imortalizaram a memória deles com seus escritos; porque não será igualmente útil e proveitosa, e ainda com vantagem, esta nossa História do Futuro, quanto é mais poderosa e eficaz para mover os ânimos dos homens a esperança das cousas próprias, que a memória das alheias? (Padre António Vieira)

O Partido Republicano em Portugal nunca apresentou um programa, nem verdadeiramente tem um programa. Mais ainda, nem o pode ter: porque todas as reformas que, como partido republicano, lhe cumpriria reclamar, já foram realizadas pelo liberalismo monárquico. (Eça de Queiroz)

A república francesa que implantaram em Portugal, sem nenhuns pontos de contacto com quanto em nós seja português. Nenhuma reacção do espírito progressivo a instaurou; foi um fenómeno da nossa decadência, da nossa desnacionalização. (Fernando Pessoa)

No dia 5 de Outubro, em Portugal, não havia despotismo, não havia opressão e não havia fome. Os princípios proclamados à custa de tanto sangue pela Revolução Francesa, há mais de um século, ninguém precisava de os tornar a proclamar na Avenida agora, precisamente no período histórico em que quase todos esses princípios se acham refutados pela crítica experimental e científica do nosso tempo. Os famosos princípios da Revolução Francesa, leit-motiv de toda a cantata revolucionária de [5 de] Outubro último, são, precisamente, os que vigoram em toda a política portuguesa, desde o advento da revolução liberal de 1834 até nossos dias. (Ramalho Ortigão)

Os novos revolucionários de 1910, com excepção honrosa dos que não sabem ler, não tiveram por decuriões senão os seus predecessores revolucionários liberais de 34. E daí para trás — o que quer dizer daí para cima — nunca abriram um livro. Tal a razão porque os raros homens de letras, que a nossa República conseguiu mobilizar, dia a dia se desagregam da hoste refugiando-se no anacoretismo filosófico, enojados da crassa ignorância dos sarrafaçais a que o regime os emparelhou. (Ramalho Ortigão)

É alguém capaz de indicar um benefício, por leve que seja, que nos tenha advindo da proclamação da República? Não melhorámos em administração financeira, não melhorámos em administração geral, não temos mais paz, não temos sequer mais liberdade. Na monarquia era possível insultar por escrito impresso o Rei; na república não era possível, porque era perigoso, insultar até verbalmente o Sr. Afonso Costa. (Fernando Pessoa)

Bandidos da pior espécie (muitas vezes, pessoalmente, bons rapazes e bons amigos – porque estas contradições, que aliás o não são, existem na vida), gatunos com seu quanto de ideal verdadeiro, anarquistas-natos com grandes patriotismos íntimos – de tudo isto vimos na açorda falsa que se seguiu à implantação do regímen a que, por contraste com a monarquia que o precedera, se decidiu chamar República. (Fernando Pessoa)

Este regímen é uma conspurcação espiritual. Os republicanos passaram a legislar em ditadura, fazendo em ditadura as suas leis mais importantes, e nunca as submetendo a cortes constituintes, ou a qualquer espécie de cortes. (Fernando Pessoa)

Desde a proclamação da República que em Lisboa se não faz outra coisa se não pedir. (Fialho de Almeida)

É certo que nunca as classes dirigentes se divertiram tanto em excursões de recreio, nem se banquetearam tão repetidamente, como hoje em dia. Na casa, porém, de cada cidadão, nem o imposto diminuiu nem o passadio embarateceu.Enquanto à prometida barateza a que seriam reduzidos os víveres, ao proporcional aumento a que seriam elevados os salários, ao desenvolvimento que teria o ensino e à perfeição que atingiria a disciplina da sociedade, uma vez sacudido da cerviz do povo o inconfortável jugo ominoso do regime extinto, observa-se que nunca se comeu mais caro, nunca foi mais numerosa a legião dos operários sem trabalho, nunca […] tantas propriedades foram impunemente assaltadas e destruídas como agora as redacções e as tipografias de cinco jornais. A República Portuguesa continua dando ao mundo o mais espantoso e inacreditável espectáculo: – existe! (Ramalho Ortigão)

O predomínio incondicional exercido pelas sociedades secretas em quase todos os actos do governo, como por exemplo na escolha das cores da bandeira, deposição de funcionários antigos e com direitos adquiridos, e imposição d’outros sem mais competência do que as suas cumplicidades carbonárias; Corre que outras medidas de violência serão tomadas no sentido de desarmarem pelo terror as inumeráveis massas de cidadãos que não aderiram à República. (Fialho de Almeida)

Um país não pode ficar assim toda a vida, num pátio de comédia.Quebrámos estouvadamente o fio da nossa missão histórica. Desmoralizámo-nos, enxovalhámo-nos, desaportuguesámo-nos. (Ramalho Ortigão)

Quem considerar o Reino de Portugal no tempo passado, no presente e no futuro, no passado o verá vencido, no presente ressuscitado e no futuro glorioso; e em todas estas três diferenças de tempos e estilos lhe revelou e mandou primeiro interpretar os favores e as mercês tão notáveis com que o determinava enobrecer: na primeira, fazendo-o, na segunda restituindo-o, na terceira, sublimando-o. Mas se a história das cousas passadas (a que os sábios chamaram mestra da vida) tem esta e tantas outras utilidades necessárias ao governo e bem comum do género humano e ao particular de todos os homens, e se como tal empregaram nela sua indústria tantos sujeitos em ciência, engenho e juízo eminentes, como foram os que em todos os tempos imortalizaram a memória deles com seus escritos; porque não será igualmente útil e proveitosa, e ainda com vantagem, esta nossa História do Futuro, quanto é mais poderosa e eficaz para mover os ânimos dos homens a esperança das cousas próprias, que a memória das alheias? Têm na memória que também antigamente pagavam, e que então era tributo do cativeiro o que hoje é preço da liberdade; sobretudo vêem a seu rei da sua Nação e da sua Língua, e que o têm consigo e junto a si para o requerimento da justiça, para o prémio do serviço, para o remédio da opressão, para o alívio da queixa; rei que os vê e se deixa ver; que os ouve e lhes responde; que os entende e o entendem; que os conhece e lhes sabe o nome. (Padre António Vieira)

Dispensem todas as teorias passadistas! Criem o espírito de aventura e matem todos os sentimentos passivos! Mostrem que a geração portuguesa do século XXI dispõe de toda a força criadora e construtiva!

Viva Portugal!